Um recente estudo conduzido pela Embrapa Meio Ambiente em parceria com a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) mostra que a UVC (radiação ultravioleta C), quando aplicada em doses adequadas, tem o potencial de controlar a podridão azeda da laranja-lima.
Com elevado poder germicida, os pesquisadores adotaram o uso da radiação UVC para ter frutos mais firmes, sem alteração de características físico-químicas e com retardo no processo de amadurecimento.
Para entender mais sobre o uso da radiação ultravioleta na agricultura, suas possibilidades e benefícios, a Agrishow Digital conversou com integrantes deste projeto de pesquisa.
Entendendo o que é radiação ultravioleta (UV)
A radiação ultravioleta (UV) é a radiação eletromagnética ou os raios ultravioleta com um comprimento de onda menor que a da luz visível e maior que a dos raios X.
O nome significa mais alta que a violeta (do latim ultra), pelo fato de que o violeta ser a cor visível com comprimento de onda mais curto e maior frequência.
Segundo Daniel Terao, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e coorientador do projeto de pesquisa, a radiação ultravioleta (UV) é uma faixa da luz de ondas curtas com comprimento que vai de 100 a 400 nm (nanômetros) sendo classificada em:
- UVA: de 320-400 nm
- UVB: de 280 – 320 nm
- UVC: de 100 – 280 nm
“Em nossa pesquisa, temos estudado o uso da radiação UVC (radiação ultravioleta C) que, quando aplicada em doses adequadas, pode controlar a podridão azeda da laranja-lima”, complementa o pesquisador.
Uso da Radiação Ultravioleta C na pós-colheita de frutas
Na pesquisa realizada pela Embrapa/Unicamp foi utilizada a radiação ultravioleta C. Segundo Terao, essa parte do espectro solar não alcança a terra já que os comprimentos de onda abaixo de 290 nm são absorvidos pela camada de ozônio da atmosfera.
Como característica central, o pesquisador salienta que a radiação UVC tem elevado poder germicida, beneficiando frutas na pós-colheita.
“Diante dessa característica, usamos luz artificial nesse comprimento de onda para estudar o seu efeito no controle de doenças pós-colheita de frutas, reduzindo ocorrências como a podridão”.
Além do controle direto de fungos que causam podridões em frutas, a radiação também UVC tem um efeito benéfico na fisiologia da fruta, retardando o processo de amadurecimento e consequentemente prolongando o tempo de vida útil da prateleira do produto.
Detalhes sobre a pesquisa realizada pela Embrapa/Unicamp
A pesquisa citada neste artigo foi realizada durante o mestrado de Adriane Maria da Silva na Unicamp, em parceria com a Embrapa Meio Ambiente.
Inicialmente, a ideia era a de identificar o fungo causador da podridão azeda na laranja-lima, identificando o Geotrichum citri-aurantii. “Essa identificação era importante, pois fornece informações importantes sobre as características do patógeno, auxiliando a propor o melhor método para controle da doença”, destaca Adriane.
Feito isso, os pesquisadores utilizaram dois métodos de controle da podridão azeda: o tratamento hidrotérmico e a exposição à radiação UVC.
Na avaliação do efeito da temperatura combinada com radiação UVC na germinação de esporos do fungo, o nível de exposição térmica por 35 segundos a 62ºC, quando adaptado a dose adequada de raios ultravioleta, teve a capacidade de inibir completamente sua germinação.
O tratamento também contribui com maior firmeza no fruto, além de não alterar as características físico-químicas do alimento.
Ótima medida para substituir defensivos químicos
O tratamento pós-colheita de produtos vegetais constitui-se em um desafio permanente para agricultores, consequentemente isso chama a atenção de pesquisadores da área.
Dessa forma, fatores com aparência e aumento do tempo de conservação dos produtos, principalmente frutas e hortaliças que são bastante perecíveis, são os principais alvos de melhoria dos tratamentos estudados.
O pesquisador da Embrapa explica que os métodos de tratamento para controle de doenças pós-colheita, com o uso de defensivos químicos, têm sido bastante utilizados e funcionam bem. No entanto, há alguns empecilhos importantes.
“No processo químico ficam resíduos de substâncias químicas nos produtos, cujos níveis são cuidadosamente analisados, principalmente pelos mercados mais exigentes – como os países importadores da Europa e os Estados Unidos”.
Assim, em um contexto que busca mais saudabilidade e visa a segurança dos alimentos, há uma tendência mundial de diminuição dos níveis aceitáveis de resíduos nas frutas, acarretando na redução expressiva de níveis de tolerância de resíduos ou mesmo a proibição de uso de agentes químicos no tratamento pós-colheita.
Diante disso, amplia-se o interesse de uso de uma tecnologia mais limpa e que seja alternativa ao uso de químicos, com destaque para os métodos físicos.
Dentre eles, a radiação UVC, que não apresenta riscos de deixar resíduos nas frutas, é uma excelente opção, como foi comprovado na pesquisa citada.
A tecnologia no uso da radiação na agricultura continua avançando
Como mostrou a pesquisa realizada, a adoção da tecnologia de aplicação da radiação ultravioleta na agricultura é uma ótima possibilidade, mas depende da dosagem certa de radiação UV.
Para isso, Daniel Terao pontua que é necessário ter disponibilidade de um equipamento que possibilite a aplicação da dose correta indicada para cada espécie de fruta, de acordo com resultados obtidos em diferentes pesquisas.
“O uso da dose incorreta da radiação UVC poderá acarretar em danos para a fruta. Por isso recomendo que o uso dessa tecnologia deve estar atrelado aos resultados obtidos na pesquisa científica”, complementa.
Neste cenário, o pesquisador explica que a Embrapa Meio Ambiente, em parceria com a Embrapa Instrumentação, está desenvolvendo um equipamento para aplicação da radiação UVC de forma modulada.
“O uso deste equipamento visa o aumento da eficiência do processo, sem causar danos à fruta”, finaliza.