A palmeira Juçara (Euterpe edulis) é uma das estrelas da floresta atlântica, tanto pela importância para a fauna como pelo que representa comercialmente devido aos frutos e ao seu caule.
Durante muitos anos, a juçara era conhecida apenas por seu palmito – macio e saboroso – do que por ser uma palmeira típica da Floresta Atlântica. Isso estimulou a atuação de muitos palmiteiros.
Porém, com a ameaça de extinção dessa palmeira e a evolução da legislação ambiental, os palmiteiros deixaram de ser incentivados e passaram a ser apontados crimes ambientais.
Na atualidade, o cenário é outro. A juçara, além de ser uma importante fonte de alimento para os animais que vivem na floresta, é uma alternativa que pode substituir o açaí com a vantagem de ser colhido mais perto do mercado consumidor.
Saiba mais sobre a Juçara e entenda por que ela é uma alternativa sustentável ao açaí em um modelo de exploração comercial que mantém a palmeira em pé.
O que é a Juçara?
Conhecida como o açaí da floresta atlântica do Brasil, a juçara é uma palmeira com 5 a 10 metros de altura que ocorre desde o estado do Rio Grande do Norte até o Rio Grande do Sul, alcançando, também, o nordeste da Argentina e o sudeste do Paraguai.
Essa planta gera também o famoso palmito juçara, exaustivamente explorado por décadas. Exatamente por isso, a palmeira Juçara passou a ser considerada oficialmente uma espécie em risco de extinção.
Atualmente, a Juçara é importante para a preservação da fauna das áreas de preservação e costuma ser chamada de “mãe da floresta” ou “arroz e feijão da floresta”, por servir de alimento para diversos animais da mata.
Seus frutos são muito consumidos por dezenas de espécies de aves e de mamíferos, alguns deles vulneráveis à extinção.
Semelhança com o açaí
A polpa da Juçara tem sabor e cores muito parecidos com os do açaí, o que pode dificultar a distinção pelo consumidor entre uma espécie e outra na hora da compra.
“No mercado interno, geralmente, não se sabe quando a polpa de juçara é vendida como açaí, e muitas vezes o produto comercial é uma mistura entre a polpa de ambas as espécies. Isso porque o seu processamento acaba sendo mais próximo dos consumidores de São Paulo e Rio de Janeiro do que a região Norte”, explica a pesquisadora Rossana Catie Bueno de Godoy, da Embrapa Florestas.
Com sabor um pouco mais suave que o açaí, a polpa da Juçara pode ser consumida diretamente ou utilizada no preparo de bebidas fermentadas, néctares, sucos, geleias, iogurtes, sorvetes e produtos desidratados.
Este fruto tem em sua composição maior capacidade antioxidante, com um maior teor de antocianinas, quando comparadas com o açaí do norte.
Esta vantagem logística se soma ao fato de a produção de polpa de juçara, em algumas regiões do Sul e Sudeste, ocorrer no primeiro semestre do ano (março a maio), diferente da polpa de açaí, cuja colheita concentra-se no segundo semestre do ano (70% a 80%).
Ao entrar no mercado de polpas, a pesquisadora Virgínia da Matta, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, explica que a juçara não compete com o açaí. “Na minha visão, os dois se apoiam, porque há mercado para a expansão da produção de ambos“, afirma.
Modelo sustentável permite a exploração comercial da Juçara
A junção dos nomes da Juçara e do Açaí deu nome à marca Juçaí. Essa é uma empresa que produz o sorbet de jussara, um projeto que foi desenvolvido em parceria com a Embrapa.
O projeto foi desenvolvido como uma forma de incentivar a exploração comercial da Juçara de uma forma que a palmeira se mantivesse em pé.
Em uma entrevista para a BBC, Roberto Haag, presidente da empresa, destaca que a exploração comercial da Juçara é um modelo que tem tudo para dar certo.
“A gente vê que o modelo dá certo hoje para o produtor que trabalha a coleta da juçara junto com outras atividades agrícolas, como a produção de cacau e café“, comenta.
Além do mais, uma alternativa importante para tornar a produção da juçara mais sustentável é a parceria com o projeto Pró-Juçara da Fundação Florestal de São Paulo.
Essa é uma forma de usar, além da polpa, as sementes da palmeira. O objetivo da fundação é utilizar as sementes para reflorestamento dos parques com a espécie nativa.
A aquisição destas sementes é feita de produtores vizinhos aos parques, visando a manutenção das características locais das plantas. Depois de adquiridas, as sementes são jogadas por helicópteros ou drones.
Dessa forma, mesmo tendo uma cadeia mais estruturada, que não depende apenas do extrativismo, a produção de açaí ainda é menor do que a demanda. Cabe à produção sustentável da Juçara contribuir neste cenário, com mercado para a expansão da produção de ambos.