Mesmo tendo evoluído bastante nos últimos anos, o acesso à internet no campo é ainda um dos principais gargalos do agronegócio brasileiro. De acordo com o último Censo Agropecuário do IBGE (2017), aproximadamente 72% das mais de cinco milhões propriedades rurais ainda não possuem qualquer tipo de conectividade.

Para ajudar a solucionar este problema, dois marcos recentes sobre o tema foram publicados pelo governo federal, a partir da mobilização da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e de outras entidades do agro e do setor telecom.

O primeiro marco é a Lei 14.109/2020, que trata da utilização de recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações – Fust – para conectividade rural. Já o segundo e a Lei 14.108/2020, que trata da desoneração da internet das coisas.

Isso comprova que o cooperativismo pode ser essencial para a oferta de um padrão de conectividade muito mais eficiente para produtores rurais de todo país.

Conectividade agrícola: essencial para a agricultura 4.0

A agricultura de precisão e as soluções digitais são processos que estão transformando a forma com que conduzimos a agricultura, tornando-a mais competitiva e mais sustentável, como salienta Onofre Cezário de Souza Filho, presidente do Sistema OCB/MT (Organização das Cooperativas Brasileiras de Mato Grosso).

As melhorias de tecnologias para o agronegócio hoje estão integradas em maquinários, uso de dados de satélite e softwares que possibilitam um uso de inteligência artificial que ajuda na melhoria da produtividade e redução de custos em campo”.

Por meio da conectividade é possível também utilizar um alto volume de dados emitidos pelos maquinários no campo para melhor entender o uso racional dos insumos.

As tecnologias como o acesso remoto de drones e o cruzamento dos dados decorrentes dos maquinários, podem também ajudar o setor produtivo a melhorar a produtividade e reduzir seu custo.

A interligação imediata da internet no ambiente do campo também pode ajudar socialmente as propriedades, possibilitando uma melhor qualidade de vida aos colaboradores e melhor acesso ao ensino, que com a pandemia do COVID-19, deve se reforçar de forma virtual.

Apesar dos avanços em conectividade, ainda há problemas

Como visto, a conectividade agrícola é e continuará sendo um dos grandes aliados do produtor, permitindo maior produtividade e lucratividade de seu sistema produtivo.

Entretanto, a interligação de todas essas tecnologias de dados carece de acesso à internet, cuja tecnologia é ainda precária em inúmeros estados brasileiros, impedindo a interação dos agricultores com ela.

Em outras palavras, Onofre de Souza explica que o conjunto de tecnologias de agricultura 4.0 já chegou ao campo, mas ainda carece de uma interligação imediata com aquele que usa os dados do sistema.

No Brasil, o acesso à internet ainda é muito precário no campo, seja pela falta de acesso, seja pelo alto custo para que produtores façam isso de forma individual”.

Por isso, os agentes do cooperativismo rural estão atuando em diversas frentes para, juntamente com seus associados, oferecer conectividade de qualidade às áreas rurais de diversas regiões do país.

Cooperativismo e a oferta de melhor conectividade no campo

As cooperativas agrícolas são associações criadas quando diferentes produtores rurais se unem com um objetivo em comum, como o aumento da produtividade, por exemplo. Dessa forma, o cooperativismo tem por propósito representar um grupo de produtores com o mesmo objetivo.

Tomando como base este propósito, a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop) vem agindo em prol da conectividade no campo, universalizando o uso da internet no campo e buscando, por meio do acesso à tecnologia, um agro cada vez mais competitivo e sustentável.

O Sistema OCB tem ciência do papel do cooperativismo para a distribuição de internet no campo, seja pela sua presença significativa no interior do País, seja pela sua participação histórica em políticas de desenvolvimento regional, inclusão produtiva e de acesso à eletrificação rural, trazendo maior racionalidade para alocação de recursos com eficiência e menor custo.

E uma das conquistas do cooperativismo é, como já citado anteriormente, a lei 14109/2020. “Com a edição da lei 14109/2020 as cooperativas ganham reforço para serem constituídas com objetivo de aprimorar e melhorar o acesso à internet, seja em campo seja nas cidades”, acredita o presidente do Sistema OCB/MT.

O presidente do sistema CCB/MT indica ainda que esse processo já possui iniciativas no Brasil e devem ser reforçadas com a edição da lei acima citada.

Com essa lei, cooperados podem se juntar para criar estruturas comuns de acesso e difusão de acesso à internet, tal qual já acontece com iniciativas para acesso de fibra ótica, o que deve criar um novo modelo de serviço para as cooperativas”, finaliza.

Por fim, vale salientar que o Brasil tem hoje umas das agriculturas mais adiantadas e produtivas do mundo, mesmo com esse grande gargalo na questão da conectividade. Agora imagine fazer isso com maior oferta de conexão no meio rural mediante ações do cooperativismo?

Certamente viveremos uma nova revolução que pode ter nas cooperativas (mais uma fez) um protagonismo bastante importante.