Nos últimos anos, o Brasil foi capaz de elevar a produtividade e ainda reduzir o impacto ambiental da atividade agropecuária, de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em 2022, que comparou grandes agroexportadores como Argentina, Alemanha, Canadá, China, Estados Unidos, França e Índia.
Este ano, há um clara perspectiva de crescimento do setor. Segundo estimativas da Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre), o PIB do agro deve avançar 8% neste ano, recuperando-se do encolhimento de 2% sofrido no ano passado. Contudo, é preciso ter cautela, pois estamos diante de um mercado que não se recuperou totalmente da pandemia de Covid-19 e que sofre os efeitos da Guerra da Ucrânia, que já completa um ano, bem como das mudanças climáticas.
Somado a isso, stakeholders continuam demandando do setor uma forte atuação ambiental, social e de governança (ESG). O documento Consumidor do Futuro 2024, da WGSN, traz uma perspectiva na qual os consumidores estão cada vez mais preocupados com a origem dos alimentos e seus impactos ambientais, enquanto governos estrangeiros, como por exemplo, União Europeia, EUA e Reino Unido, seguem essa tendência por meio de propostas de regulamentações unilaterais que impõem sanções a outros países que não se adequarem a processos de governança que garantam a sustentabilidade das suas cadeias produtivas.
Diante desse quadro, cabe ao setor privado seguir se preparando para superar esses desafios, por meio de novas formas de gestão, governança, redução de custos e otimização das atividades produtivas que são essenciais para manter a confiança no mercado internacional, de investidores e do consumidor. A inovação, portanto, será mais uma vez um fator chave neste cenário, viabilizando ferramentas que garantam, por exemplo, a rastreabilidade de alimentos e produtos agrícolas.
Dessa forma, Internet das Coisas (IoT), drones, Inteligência Artificial, blockchain, Agricultura de Precisão e plataformas de Big Data são algumas das soluções que permitem o monitoramento em tempo real da produção e viabilizam tal rastreabilidade.
Para tanto, é preciso ampliar a conectividade e digitalização do Brasil para além dos centros urbanos, por meio da expansão de infraestrutura. O número de pessoas no campo que não possuem acesso à internet alcança 71%, segundo o IBGE. Dados de outubro de 2022 da Anatel apontam que o 4G corresponde a 78,1% das conexões móveis no Brasil, seguido pelo 2G, com 10,3%, e o 3G com 9,8%. É preciso levar essa tecnologia às áreas rurais, aprimorando não somente a rastreabilidade, mas também a produtividade do setor. Sem conectividade, os gestores não fazem o uso total dos dados consolidados, o que impacta nas produções agrícolas.
Essa realidade é comprovada pelo estudo Cenários e Perspectivas da Conectividade para o Agro, publicado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em novembro de 2022: a expansão da conectividade possibilitará um aumento agregado no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) de R$79,6 bilhões até 2026.
O agro brasileiro é moderno e ágil, e sempre prevaleceu diante dos desafios impostos. Neste ano, o uso de novas tecnologias será ainda mais importante para garantir técnicas sustentáveis e processos sólidos de governança. O diálogo entre as cadeias de produção e do poder público com o privado nunca foi tão relevante. O papel das entidades setoriais será fundamental para estabelecer condições positivas para que o Brasil siga fazendo jus ao seu papel de protagonista no mundo.
*Giuliano Ramos Alves é Gerente de Sustentabilidade e Projetos da ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio