Análises recentes mostram que a primavera de 2022 está com volumes de chuva acima do normal em boa parte do Brasil. Esse alto volume de precipitação, aliás, já está refletindo negativamente no bolso dos produtores de soja.
Em boa parte do Brasil, os agricultores estão tendo sérios problemas pelo excesso de umidade em suas propriedades. Os trabalhos em campo, por exemplo, precisam ser interrompidos, afetando o plantio da soja em Santa Catarina, no Paraná e no Mato Grosso do Sul.
O Agrishow Digital conversou com Nadiara Pereira, meteorologista da Climatempo, que nos ajudou a entender melhor este cenário e os efeitos das chuvas intensas na plantação de soja. Acompanhe!
Temporais de norte a sul do Brasil acendem alerta para o produtor
A agricultura é uma atividade amplamente influenciada por fatores climáticos. Portanto, estar sempre atento a essas questões é extremamente importante para o produtor.
Assim, qualquer mudança no clima pode impactar a produção de diferentes maneiras, desde a perda da produtividade até a disseminação de pragas e doenças.
Nos próximos meses, Nadiara Pereira indica que a metade norte do país deve ser influenciada pela frequente atuação de corredores de umidade. “Estão previstas chuvas acima da média principalmente entre ES, centro e norte de MG e de GO, MT e áreas do MATOPIBA”, afirma a meteorologista.
Já as áreas produtoras de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia podem ter problemas com chuvas excessivas ao longo das próximas semanas. As áreas do centro-norte do país, incluindo Mato Grosso, podem ter problemas na finalização da safra e início da colheita, com excesso de umidade e possíveis períodos de invernada entre dezembro e janeiro.
A meteorologista da Climatempo cita que os produtores precisam ter cuidados redobrados principalmente em janeiro. “Este é um período muito chuvoso e que tem expectativa de desvio positivo de precipitação para a metade norte do País”, garante.
Efeitos do La Niña tendem a continuar até o próximo ano, de forma mais moderada
Outro fator que pode comprometer as lavouras de soja é o efeito do La Niña. Especialistas indicam que este fenômeno climático está bem estabelecido este ano e deve prosseguir no ano que vem, mesmo que de uma forma um pouco mais moderada.
Para Nadiara Pereira, o La Niña já vem impactando a distribuição das chuvas sobre o Brasil desde o segundo semestre de 2020, e neste ano seus impactos passam a ser mais efetivos e clássicos a partir deste mês de novembro.
“O fenômeno ganhou força e ficou mais estabelecido no último mês e, com isso, a partir de agora se esperam eventos chuvosos mais frequentes sobre a metade norte do Brasil, enquanto sobre o centro-sul (principalmente entre a região Sul, SP e MS) as chuvas se tornarão mais irregulares e a tendência é de volumes de precipitação abaixo da média pelo menos até janeiro”.
Vale destacar que o padrão está muito parecido com o que aconteceu no último ano, quando o La Niña já estava em vigência. Assim, por conta desse fenômeno, haverá redução da ocorrência de chuvas no Sul do país, podendo haver quebra de produção em 2022/23, como houve no ciclo 2021/22.
Quais as consequências das chuvas intensas para a plantação de soja?
Em qualquer cultura, quando as chuvas são equilibradas, as safras têm expectativa de alta produtividade. No entanto, há a necessidade de considerar dois eventos: estiagem e excesso de precipitação.
Quando há chuvas intensas, os problemas são vários:
- Comprometimento da germinação, devido à embebição das sementes e à falta de oxigênio para que elas se desenvolvam em plântulas (plantas recém-nascidas);
- Redução da absorção de água e nutrientes. Da emergência até o enchimento dos grãos e maturação fisiológica, o excesso de umidade no ar faz com que a planta absorva menos água e, também, nutrientes do solo;
- O excesso de precipitação pode provocar erosão nas lavouras;
- Desenvolvimento irregular da lavoura, por falta de horas de sol;
- Maior risco de proliferação de doenças e fungos nas plantações;
- As chuvas intensas podem, ainda, impactar ou paralisar as atividades no campo em alguns momentos.
Todo esse ambiente é favorável à formação de plantas não só menores, mas também menos produtivas, comprometendo a qualidade do produto.
Como proteger a plantação de soja das chuvas intensas?
Como você pode ver, muitas são as consequências do excesso de chuvas para as lavouras de soja. Isso exige um plano de ação muito bem elaborado por parte do produtor rural.
Porém, a solução para os problemas apontados não é simples. Segundo a meteorologista da Climatempo, isso exige uma análise bastante detalhada do problema, domínio de diversas áreas do conhecimento, planejamento a longo prazo, monitoramento e persistência nos cuidados com o manejo do solo e da cultura.
“Cabe ao produtor preparar as lavouras de uma forma que possam ser evitados ou diminuídos os danos por erosão. Ele também precisa fazer aplicações para reduzir o risco de proliferação de doenças”, diz Nadiara.
Por fim, fazer uso das ferramentas de previsões climáticas é fundamental para que o produtor se planeje corretamente. “É preciso que o produtor acompanhe regularmente as previsões para o planejamento dos melhores períodos para as atividades de manejo e colheita da cultura”, finaliza a meteorologista.
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