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A sucessão familiar na geração dos influencers digitais

Article-A sucessão familiar na geração dos influencers digitais

Sucessão familiar no agronegócio
Em seu novo artigo para o Agrishow Digital, o colunista Hugo Monteiro da Cunha Cardoso destaca a importância do planejamento da sucessão familiar no agronegócio para a preservação da força e do legado das atividades agropecuárias entre as gerações

Um estudo recente da PWC mostra que 90% das empresas no Brasil são familiares. Dessas, apenas 5% chegam à 3ª geração. As principais causas de fracasso na manutenção das empresas familiares são a falta de uma maior profissionalização, de comunicação entre os membros, de alinhamento de expectativas e, principalmente, de compreensão de como as novas gerações enxergam o mundo e o que esperam do negócio familiar.

A falta de continuidade das empresas dentro da família não é uma novidade desse século. O conflito ocasionado pelas diferenças entre as gerações também não é.

O termo “geração”, de acordo com o Dicionário Houaiss, significa o “espaço de tempo correspondente ao intervalo que separa cada um dos graus de uma filiação, avaliado em cerca de 25 anos”. A partir da aceleração na velocidade da informação, globalização e novas tecnologias, a cada 15 anos, no máximo, é identificada uma nova tendência geracional. Isso quer dizer que, com os avanços da medicina e na busca de melhorias na qualidade de vida, cada vez mais gerações vão conviver ao mesmo tempo dentro de uma empresa, com todos precisando estar unidos por um mesmo objetivo. Sim, sempre irão existir pontos comuns entre as pessoas de cada geração, apesar de cada uma ver o mundo de uma forma diversa. Basta olhar com atenção e sem preconceitos.

Lá atrás, certamente foi difícil para um pai de uma geração tradicional do campo, aceitar a adesão a tecnologias para melhoria da produtividade propostas por um filho ou uma filha. Após, focado em produzir cada vez mais, tomando decisões através do feeling (intuição) que a vivência prática proporcionou, escuta da geração seguinte que precisa de um software de gestão, que as decisões precisam ser baseadas em números, compartilhadas, e que o negócio não pode ficar apenas na cabeça dele. Nada fácil.

Então, imagine um produtor ou uma produtora que, até aqui, adaptou-se bem às mudanças, às incertezas políticas e econômicas, baixou a cabeça e produziu muito bem. Correu muitos e dos mais variados riscos. Conseguiu implementar novas culturas e técnicas até onde parecia não ser possível produzir. Que em certo momento, teve que lutar pela manutenção do direito a propriedade privada contra invasões e desapropriações. E que, agora, ouve falar que uma nova geração está mais interessada em novas experiências, em viajar o mundo, do que em possuir alguma coisa. Ele(a) não desfrutou do patrimônio construído. Seu foco era não deixar que os filhos passassem o mesmo trabalho que ele passou. Queria deixá-los mais tranquilos financeiramente. Como compreender essa mudança?

A pesquisa sobre a diversidade de gerações é utilizada para aprimorar as formas de comunicação nas empresas e até pelas grandes marcas para compreender a melhor forma para chegar a cada público. Ou seja, é uma ferramenta importantíssima para quem sabe utilizá-la. Deve ser interpretada com cautela, claro. Não dá para perder a cabeça, achar que, mais a frente, filho nenhum mais vai querer “tocar” a fazenda. Mas é preciso estar atento às tendências comportamentais para que se ache a melhor forma de se comunicar, buscando pontos comuns e minimizando as chances de conflitos.

É isso mesmo. Precisamos compreender os anseios dessas novas gerações, que buscam mais o “SER” do que o “TER”. Aqui estão algumas características e valores que começaram a ficar evidentes com a chegada da internet, na chamada “geração Y” (1980 – 1994) e que se intensificaram na “geração Z”, nascida já com a consolidação do meio de comunicação, entre 1995 e 2010:

  • Busca por ser visto, notado;
  • Necessidade de manifestar opinião;
  • Redes social como ferramenta principal de interação com o mundo;
  • Os limites geográficos ficaram para trás (ainda mais pós pandemia);
  • Senso de pertencimento;
  • Buscar ser parte de algo maior, ter um propósito;
  • Fazer a diferença para outras pessoas;
  • Maior grau de desapego;
  • Volatilidade nas relações pessoais e profissionais;
  • Liberdade e flexibilidade de horários;
  • Tendência ao imediatismo;
  • Inovação ágil;
  • Maior preocupação com a inclusão social e com as questões ambientais.

Vejamos mais um exemplo. Recentemente, foi publicada uma matéria onde uma herdeira da Disney declarava ter pavor da fortuna e vergonha do sobrenome da família. Pense comigo, um modelo de sucesso, inovador, que serviu como fonte para vários livros publicados. Livros que exaltam o modelo de gestão, endomarketing (ações para um bom ambiente de trabalho para os colaboradores) e a capacidade de encantar clientes com muita empatia. Por que algum familiar teria algum sentimento diferente de orgulho e gratidão à família?

Possivelmente houve um problema de comunicação entre gerações. A visão que foi comunicada ao público externo não foi compartilhada com todos os herdeiros. Pode ter faltado um maior conhecimento da história dos fundadores, do que a empresa da família fazia de bom. Ficaram intrínsecos, talvez, os problemas que todo negócio e toda a família tem, mas que, de forma alguma, podem desmerecer o legado deixado.

A herdeira em questão, Abigail Disney, nasceu em 1960. Logo, é de uma geração criada com muita rigidez e conservadorismo, que tinha como valor principal a busca pela estabilidade financeira, a dos “baby boomers”. De qualquer forma, essa declaração pode influenciar as gerações mais novas, visto que vai ao encontro das tendências comportamentais presentes nesses indivíduos nascidos em uma era mais digital.

Nessa mesma linha, é cada vez mais comum vermos influenciadores digitais adotando posturas contra o agronegócio em geral, o consumo de carne ou técnicas produtivas utilizadas. Geralmente, os criticamos por falar sobre uma realidade que não conhecem, não vivenciam. No entanto, será que os nossos filhos conhecem? Estamos mostrando o nosso melhor, o porquê de amarmos o que fazemos ou estamos deixando transparecer para eles apenas todos aqueles problemas enfrentados diariamente?

Notem que no caso do agronegócio a reflexão é ainda mais profunda do que na história da Disney: precisamos comunicar melhor internamente, para a própria família, o que fazemos de bom, os problemas que enfrentamos no caminho, como os resolvemos e os valores construídos geração após geração. A história precisa ser contada. De onde viemos, pelo que passamos até chegar aqui e o LEGADO que essas novas gerações precisam ter o prazer de levar adiante. Mas, além disso, precisamos comunicar melhor ao público externo o que realmente é produzir alimentos no Brasil.

Sucessão familiar no agronegócio

Uma das soluções para esse problema está dentro do planejamento da sucessão familiar. É a inclusão das novas gerações desde cedo. E não estou aqui falando da sucessão (doação ou venda) do patrimônio em vida e, sim, da integração das diversas gerações no ambiente da empresa familiar. Saber o que se passa na fazenda. Do filho pequeno brincar no campo, acompanhando o manejo dos animais, a preparação das máquinas, o cuidado com o meio ambiente. Do jovem andar a cavalo, subir no trator, auxiliar na lida com o gado, no plantio, na colheita. Conhecer os funcionários e ouvir as suas histórias tão ricas. Dar uma mão no escritório, manipulando dados e gerando informações através dos números disponíveis. Aproveitar a maior familiaridade com a tecnologia, para ajudar os pais a escolher e tirar o melhor proveito possível dos bons softwares de gestão que existem atualmente. Ver toda a natureza ao redor, árvores, rios, açudes, diversidade de espécies de aves, peixes, mamíferos e répteis convivendo em harmonia em meio às lavouras, florestas e criações. Acompanhar os ciclos completos das safras, as mudanças das estações, as rotações de culturas, os hábitos dos animais e perceber que tudo isso, além de nos ligar à terra, muda a forma como enxergamos as nossas próprias vidas. Nos conecta, no mais amplo sentido, com o que realmente somos e de onde viemos.

Integrando as gerações com a realidade do agronegócio, com o dia a dia da fazenda, a chance de compreensão do legado é muito maior. Há o senso de pertencimento na relação com o campo. E aí, com o passar do tempo, na hora certa, cada membro da família vai encontrando o seu papel, dentro das aptidões, interesses e individualidades de cada um.

Ser familiar não é sinônimo de trabalhar no negócio. Mas nenhuma empresa dispensa gente competente. Quanto mais sucessores interessados e capacitados, maior a empresa pode se tornar, desde que haja organização, boa comunicação e papéis bem definidos.

Nenhum membro da família é obrigado a ficar no negócio, mas dificilmente alguém vai querer deixar de fazer parte de algo que se sente parte, que compartilha dos valores e se orgulha quando pensa no que foi construído.

Voltando às gerações, sempre há um lado bom nessas diferenças. O desafio é encontrar os pontos em comum, pois, às vezes, cada um olha para a mesma coisa de um ângulo diferente. Estamos agora na onda da ESG, que trata das questões ambientais, sociais e de governança. Como está a sua fazenda em relação a agenda ESG? O que pode melhorar? Essa sigla pode ser o elo entre as gerações, a chave para cativar os mais novos e mantê-los dentro da porteira.

O ESG surgiu como uma forma de medir o impacto que as ações de sustentabilidade geram nos resultados das empresas. Sim, não podemos esquecer que entre os 03 pilares da sustentabilidade estão, além do social e ambiental, o econômico. Como principal produtor e exportador de várias commodities, acredita-se que o produtor brasileiro que melhor se familiarizar com esse termo, terá um diferencial no mercado, tanto na relação de venda, como nas parcerias com fornecedores. Até o crédito rural será dependente dessas boas práticas em breve, visto que alguns parâmetros já impactam na concessão dos recursos.

Vejamos: é fundamental para a continuidade dos negócios dentro da família que o produtor rural evolua em profissionalização e gestão. Sucessão, profissionalização e gestão estão inseridas dentro do tema da governança. Em uma pesquisa realizada em 2020 pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), esse quesito foi apontado como o segundo principal gargalo do setor de agronegócio no Brasil, perdendo apenas para os problemas de infraestrutura. Além disso, o produtor brasileiro necessita mostrar mais, ou seja, comunicar melhor o que faz em termos de preservação ambiental e bem-estar social e animal, tanto internamente quanto externamente.

Em contrapartida, a nova geração quer ser parte de um mundo mais sustentável, principalmente na questão social e ambiental. Gosta de manifestar opinião e ser notada. Quer achar um propósito claro e fazer a diferença na vida das pessoas. Consegue se comunicar com o mundo todo através das redes sociais. Olha quantas competências e oportunidades!

Hoje, já existem muitos produtores avançados em boas práticas de governança, com ações sociais bem definidas, comitês internos de sustentabilidade e certificações ESG, por exemplo.

A evolução nas boas práticas ESG, além de trazer inúmeros benefícios para o setor, é um bom desafio para essa nova geração. Colocar em prática, com a objetividade das gerações anteriores, as suas idealizações de um mundo mais sustentável. Como ponto de partida, pode-se observar o que esses grupos estão fazendo e, um passo de cada vez, ir implementando melhorias nesses quesitos, não esquecendo de exaltar tudo aquilo que já se faz com excelência.

E quanto aos influencers que criticam o agro? Fechar os olhos não resolve. Muito menos atacar quem pensa diferente sem argumentos.

Com a visibilidade das redes sociais, é mais fácil os filhos terem acesso ao que um influenciador diz do que àquilo que se passa na fazenda dos pais. A receita para que isso não aconteça é a mesma a bastante tempo: dar o exemplo em casa para que os filhos não andem (ou sigam) e nem aprendam com as “más companhias”.

Em outras palavras, comunicando melhor internamente tudo que o produtor faz de bom para a economia, comunidade e meio ambiente, vão surgindo mais vozes para ajudar na comunicação para o público externo.

Quem sabe, assim, não criamos, além de sucessores, que vão manter a empresa da família viva por muitas gerações, novos influenciadores do bem, que serão a voz do agronegócio que comunica da maneira certa tudo que o setor tem e faz de bom.

Quer algo mais inspirador do que ter o propósito de levar o legado da família adiante, alimentando o mundo de uma forma sustentável e gerando impacto social positivo? Eu desconheço.

Hugo Monteiro da Cunha Cardoso é consultor tributário e de empresas familiares no agro, professor de Gestão Rural, Direito e Planejamento Tributário e autor do livro “Guia da Gestão Rural” pela editora Atlas. Instagram: @hugomonteirodacunha

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