Para quem é do mercado, fica claro perceber o movimento de transição entre os ciclos sazonais de safras exatamente neste momento. Entramos numa janela em que, gradativamente, os fundamentos da safra sul-americana, em parte precificados, serão monitorados e processados juntamente com a expectativa de uma nova temporada no hemisfério norte.

Evidente que as safras europeias e asiáticas são relevantes para a formação do quadro de oferta mundial, mas não há dúvidas que a produção norte americana é que confere um peso maior sobre as cotações na Bolsa de Chicago. Os motivos são o reflexo da representatividade da safra se comparado aos outros países e também a grande participação de fundos atuando no dia a dia no mercado financeiro.

E daqui pra frente, meus amigos, será assim: investidores espartanamente disciplinados, acompanhando os detalhes do que acontece aqui na América do Sul e nos campos do meio oeste norte americano.

Os fundos de investimento adoram essa fase de transição. Se para nós, simples mortais, é um momento de dúvidas, de questionamentos e planejamentos, para eles é uma janela incrível de oportunidades. Cada dia vale um pretexto diferente, lá e cá, para fazer girar a roda da ciranda financeira. Os mesmos fundos que dão liquidez as negociações de ações, também atuam nos mercados agrícolas e gostam de aproveitar cada situação.  E fica o alerta: estamos entrando em uma fase em que a volatilidade nos preços será companheira nossa de cada dia.

De um lado, temos o Brasil com uma produção grande, porém inferior à projetada inicialmente, a qual ainda deve ser corrigida num futuro próximo devido aos problemas climáticos enfrentados. A comercialização, impulsionada pela demanda chinesa, também está bastante avançada, com mais de 50% vendida de uma safra de 132 milhões de toneladas. Outros pontos importantes a serem observados: o reflexo climático e as perdas nas safras do Paraguai, Uruguai e Argentina.

De outro lado, temos os Estados Unidos iniciando o plantio numa temporada em que as famílias norte americanas tinham tudo pra plantar muito mais área de soja do que foi anunciado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – USDA, no dia 31 de março. E foi justamente este relatório que desencadeou o limite de alta nas cotações da Bolsa de Chicago.

**Dá pra acreditar? Com os preços tão atrativos para a soja, as famílias do meio oeste sinalizarem que plantarão mais milho do que soja?

Agora só pra fechar o link com as oportunidades de mercado que os fundos caçam, quem aqui se lembra que há 2 anos, mesmo querendo plantar, os produtores do meio oeste não conseguiam por que a as chuvas torrenciais não davam trégua?

Naquela temporada, em 2019, muitas áreas de milho e soja não puderam ser semeadas e foram alocadas em programas de proteção e conservação. Ali os fundos fizeram muito dinheiro e foi exatamente por isso, que no ano passado os produtores, com medo de não conseguirem plantar assim que a janela de plantio abriu, foram em massa aos campos e plantaram suas safras de forma acelerada e concentrada.

Tentar antecipar agora o que vai acontecer é um jogo, uma aposta, mas é isso que os fundos fazem e, na maioria das vezes, ganham dinheiro, muito dinheiro!

O que precisamos aqui, é entender os fundamentos disponíveis no mercado, quais os possíveis cenários para os preços e nos posicionarmos, e o nome disso NÃO é especulação, é proteção, é hedge.  E pensando que o agro brasileiro é referência, em diversas cadeias e segmentos, não podemos deixar de pensar na gestão eficiente da porteira para fora também, pois isto influencia no resultado de uma safra.

Que assim como os fundos aproveitam oportunidades, o agro brasileiro use as inúmeras ferramentas disponíveis no mercado para maximizar seus resultados. fiquemos atentos as possibilidades! Um forte abraço e até mais, Andrea Cordeiro.