Os preços de commodities como soja, milho e trigo são referenciados por bolsa internacionais que levam em consideração fundamentos importantes como o fluxo de oferta e demanda mundial. No entanto por ser uma bolsa localizada nos Estados Unidos, as negociações acabam de certa forma contextualizando de forma mais instantânea o que acontece naquele país.

Certamente já tivemos situações em que o processamento de notícias de origem da América do Sul, Ásia ou Europa foi mais lento. Caso de um veranico em algumas regiões produtoras no Brasil ou excesso de chuvas na Argentina influenciaram as diretrizes dos trabalhos dos fundos de investimento com maior morosidade.

No entanto o processo de globalização muito estimulado pela popularização das redes sociais, vem possibilitando o encurtamento de tempo de atraso.

É claro perceber que nos últimos anos, o processamento mais lento sobre o que acontece fora dos Estados Unidos diminuiu e o acompanhamento de situações relacionadas ao campo e a economia da Brasil e Argentina passou a ser mais ágil. Nunca o mercado agro internacional presenciou tanto interesse por parte de produtores rurais dos Estados Unido e empresas de diversos países sobre o que acontece no Brasil, afinal o país nos últimos anos conquistou forte representatividade e em especial a medida que se consolidou não apenas como o maior exportador, mas também, o maior produtor mundial de soja.

Se por um lado o que acontece no Brasil tem chamado a atenção dos norte-americanos e investidores no mercado agro, por outra parte, os Estados Unidos nunca estiveram fora da pauta de acompanhamento dos sojicultores, tradings e indústrias brasileiras. Estados Unidos sempre foram referência em vários segmentos para os brasileiros.  Desde tecnologia, tendências, práticas de manejo e também formação de preço.

Os preços da soja praticados mundialmente estão atrelados aos preços negociados em Chicago Board of Trade – CBOT, mais conhecida entre o meio agrícola como Bolsa de Chicago. CBOT, braço do Grupo CME é o berço para a formação de preços da oleaginosa e por isso a importância de se acompanhar atentamente o que é tendência lá nos Estados Unidos.

Saber o que projetam analistas, o que estimam as tradicionais casas de consultoria, o que acontece na economia do país, tendência de plantio, ritmos de trabalhos, evolução climática é mais que vital para definir estratégias de comercialização lá e aqui na América do Sul.

Vamos relembrar o que aconteceu durante a temporada anterior quando os Estados Unidos deixaram de semear aproximadamente 14 milhões de acres por razões climáticas?

Em 2019 durante a janela de plantio, chuvas excessivas e recorrentes impossibilitaram os trabalhos em campo de forma adequada. O cinturão de produção foi tomado por grandes extensões de alagamentos. Produtores que já vinham preocupados pelas consequências desastrosas da guerra comercial, tiveram que assumir riscos extras ao replantar completamente fora da janela ideal de produtividade e até descobertos de seguro agrícola, enquanto muitos abandonaram os trabalhos deixando áreas significantes sem plantar

Esses momentos de especulação em Chicago possibilitaram à origem brasileira oportunidades de vendas ou trocas.  O nervosismo que se desenhava nos campos do meio oeste era quase que simultaneamente processado na bolsa, afinal, formadores de opinião no agro, gestores de grandes fundos de investimento e tradicionais casas de consultoria em agro estão sediados nos Estados Unidos

Tendo trazido esse exemplo recente, reforço que o agro brasileiro, que é eficientíssimo dentro e fora da porteira, demanda cada vez mais de informações e ferramentas para gerir conhecimento e capacitação. Não bastam apenas novas tecnologias, maquinários, variedades de sementes, insumos capazes de aumentar produtividade de forma sustentável é preciso cada vez mais informação de qualidade. 

Mais do que nunca, monitorar de forma macro todos os fundamentos são fundamentais, uma vez que é justamente a partir deles que o mercado, leia-se fundos de investimentos, constroem suas posições, abrindo grandes janelas de oportunidades.

Sempre foi importante acompanhar cada passo da safra dos EUA, mas à medida que o Brasil consolida sua participação no ranking como maior produtor e exportador de grãos e conquista novos mercados, é vital monitorar tudo o que acontece lá fora. Esse processo ajuda não apenas na possibilidade de mitigar riscos através de operações de hedge em bolsa, mas também colabora na construção de cenários e estratégia para o setor agrícola no Brasil.

Não se pode deixar de contextualizar que em menos de quatro meses as famílias produtoras iniciarão o plantio da próxima safra brasileira e parte de suas estratégias serão definidas com o que vem acontecendo nos Estados Unidos.

No próximo artigo trarei alguns números sobre o plantio e relacionarei algumas possibilidades acerca da velocidade dos trabalhos em campo e o que isso pode impactar futuramente nos preços da oleaginosa.

Um abraço e até a próxima.