A pecuária leiteira brasileira é um setor de grande importância econômica e social para o país. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de leite, tendo uma produção de mais de 34 bilhões de litros por ano.
No entanto, mesmo com a alta produção, ainda pecamos em produtividade, que, de forma geral, é considerada baixa em relação aos grandes produtores do mundo.
Como forma de resolver essa dificuldade, muitos produtores do país vêm buscando adotar novas tecnologias para aumentar a produtividade de suas fazendas e ao mesmo tempo garantir maior bem-estar dos animais.
Panorama da pecuária leiteira do Brasil
Atuante no país há muitas décadas, a cadeia produtiva do leite e seus derivados possui grande representatividade para o agronegócio brasileiro.
Com 34 bilhões de litros por ano, com produção em 98% dos municípios brasileiros, a pecuária leiteira tem sua predominância em pequenas e médias propriedades que empregam cerca de 4 milhões de pessoas.
Além disso, Roberta Bertin Barros, Médica Veterinária e Proprietária da Fazenda Floresta, explica que o país conta com mais de 1 milhão de propriedades produtoras de leite. No entanto, ela cita as projeções da Secretaria de Política Agrícola para fazer uma ressalva importante:
“As projeções do agronegócio da Secretaria de Política Agrícola, estimam que, para 2030, irão permanecer os produtores mais eficientes, que se adaptarem à nova realidade de adoção de tecnologia, melhorias na gestão e maior eficiência técnica e econômica”.
Raça Girolando é protagonista na pecuária leiteira do país
Pelas suas dimensões continentais, o Brasil usa praticamente todas as raças leiteiras em seu território. Mas, pelas suas características, a raça Girolando se destaca.
Segundo Roberta Bertin, a raça Girolando é responsável por 80% do leite produzido no Brasil. “Como diferenciais a Girolando possui alta produtividade, rusticidade, precocidade, longevidade e fertilidade, além da alta capacidade de adaptação a diferentes tipos de manejo e clima”, complementa.
A raça, que tem origem do cruzamento entre o Gir Leiteiro e o Holandês, possui fêmeas com características fisiológicas e morfológicas perfeitas para a produção nos trópicos, como a capacidade e suporte de úbere, tamanho de tetas, pigmentação, capacidade termorreguladora, aprumos e pés fortes, conversão alimentar, eficiência reprodutiva.
“Essas são características que garantem maior produtividade e menor custo de produção, melhorando a rentabilidade do negócio”, recomenda a médica veterinária.
Por essas características, a raça Girolando é, atualmente, referência em produção de leite para países do clima tropical e subtropical.
Tecnologia: Grande aliada da pecuária leiteira atual
Assim como ocorreu com outros segmentos do agronegócio brasileiro, os avanços tecnológicos foram, e continuam sendo, essenciais para elevar a produtividade e o bem-estar dos animais.
Segundo Roberta Bertin, muitas são as tecnologias que vêm consolidando gradativamente o importante papel do setor leiteiro no agronegócio nacional, com atuação em diferentes etapas da cadeia produtiva.
“Essas tecnologias são muito além dos softwares de gestão da fazenda ou ordenhadeiras cada dia mais eficientes. Englobam também diferentes biotecnologias e nutrição cada dia mais eficientes, o que proporciona um melhor desempenho e crescimento do setor como um todo”, garante a proprietária da Fazenda Floresta.
Assim, especificamente para o aumento da produtividade, Roberta cita as principais tecnologias que vem beneficiando a pecuária leiteira:
- Melhoramento genético animal;
- Tecnologia de fertilização in Vitro (FIV);
- Melhor capacidade de seleção de doadoras e touros;
- Desenvolvimento de Tecnologia em melhoramento genético para todas as raças leiteiras do país;
- Manejo sanitário, com a definição de um calendário sanitário e exames laboratoriais;
- Medidores de atividades dos animais como colares, melhorando reprodução, saúde, controle de doenças, bem-estar
Além disso, a médica veterinária salienta que os softwares também vieram para revolucionar o setor e aumentar a produtividade.
“Essas tecnologias auxiliam os produtores na gestão do rebanho, controle zootécnico, controle sanitário e até toda a gestão financeira”, comenta.
Ordenha: etapa que também evoluiu bastante nos últimos anos
O grande desenvolvimento da produção leiteira no Brasil se deve ao progresso de vários fatores (como os já citados), mas a evolução na etapa da ordenha também foi significativa e merece destaque.
Para Roberta Bertin, as tecnologias que merecem destaque na etapa da ordenha são:
- Equipamentos de qualidade e manutenções realizadas de forma preventiva;
- Gestão de pessoas, treinamentos e qualificações para os colaboradores;
- Melhoria nos procedimentos operacionais de manejo;
- Adoção das ordenhas canalizadas, com extratores e lavagem automática para melhor precisão dos procedimentos e agilidade no tempo. “Hoje já existem vários tipos de ordenha, como, as tradicionais, robotizada e carrossel, com cada uma atendendo um tipo de necessidade”, comenta Roberta;
- Softwares para controle zootécnicos, ajudando na reprodução e produção das vacas.
Há ainda outros avanços que, além de aumentar a produtividade, proporcionam melhor bem-estar das vacas. Entre esses avanços, Roberta Bertin destaca:
- Sombreamento, seja ele natural ou artificial, em pastagens ou confinado. “Vaca não pode ficar no sol”, afirma a médica veterinária;
- Resfriamento evaporativo (água e vento) corretamente dimensionado, seja na sala de espera como na pista de alimentação do confinamento ou até mesmo em pivô central. “As vacas não podem passar de 39.1º C de temperatura retal”, complementa Roberta;
- Confinamentos como Compost Barn, sendo necessário usar camas de qualidade e reutilização da cama como adubo;
- Tratamento da água para reutilização, reduzindo a quantidade de água utilizada.
Todos estes fatores resultarão em mais saúde, produção e reprodução dos animais em lactação da pecuária leiteira, resultando em maiores produtividades e bem-estar.
Diante de tudo que foi citado, Roberta Bertin indica que a busca pelo bem-estar animal na pecuária leiteira significa garantir um ambiente saudável e confortável onde ele possa expressar todo o seu potencial genético na produção.
“O bem-estar deve ser garantido em todas as fases do animal”, finaliza.