“Para contar uma boa história, nem sempre precisamos de números, estatísticas, projeções e tabelas, porque os fatos também se comprovam com observação e disposição para ouvir”. É assim que termina um dos textos mais lindos que já li sobre o setor produtivo rural que traduz, com fidelidade, a essência do Agro dentro da porteira.
Com a devida permissão do autor e jornalista especializado em agronegócio, Tobias Ferraz, reproduzo a seguir parte do texto.
“Em algum lugar do Brasil central, um jovem casal de produtores rurais põe a conversa em dia num final de tarde, com pôr do sol bem vermelho. Os dois sentados no banco rústico de madeira, à sombra de uma velha mangueira; ele tirando as botinas de trabalho, ela com uma peneira de taquara no colo escolhendo o feijão. Ela puxa a conversa:
– Os ovos da carijó picaram hoje. Mais seis bicudinhos.
Ele mostra um brilho intenso no olhar, abre um sorriso e diz:
– Ela é boa mãe, né! Vai criar bem os pintinhos.
Ele se anima para trazer notícia do campo de fora:
– A Gamela pariu uma “feminha”. Nasceu “chitada” que nem a vó. Lembra das manchas da Bordada?
Ela sorri com mais uma notícia boa, que reforça os bons cuidados com a criação no sítio e emenda:
– Se lembro! Foi uma das mais leiteiras que já tivemos. A bezerrinha vai ser igual a vó, o pai é touro afamado, a semente dele é de filha leiteira, genética boa que puxa pro bom, se a pelagem é da vó, a mansidão e produção vêm junto, né!”.
Após relatar o diálogo acima, o autor comprova que ficou evidente o aumento do número de cabeças no galinheiro e a chegada do melhoramento genético na vacada de leite, com o nascimento da bezerrinha, filha de um touro provado, por inseminação artificial.
Ferraz vai além: explica que enxergar a grandiosidade e a série de informações contidas numa conversa doméstica rural é exercitar a arte de entender e traduzir a forma e o conteúdo empregado pelo pessoal da roça.
No entanto, quase não nos deparamos com as histórias das experiências vivenciadas no campo de forma humanizada. Nesse cenário – por vezes esquecido, em que reside praticamente um dialeto para quem não sabe o que é pisar no campo, porque apenas projeta números do Agro trancado entre quatro paredes no conforto de um ar-condicionado –, perde-se uma imensa riqueza cultural e informações de grande valia para a continuidade e aperfeiçoamento dos estudos advindos da lida rural.
Enfim, não basta fazer planilhas, ou discursar eloquentemente sobre a pujança do Agro, se a manutenção dessa potência depende de ouvirmos com empatia, e não burocraticamente, o que os nossos homens e mulheres do campo sentem e têm a dizer. É o orgulho deles por ser Agro que ainda mantém as nossas estatísticas positivas e em pé.
Um forte abraço AgroAmigo para você do campo e da cidade.
Lilian Dias é jornalista especializada em agronegócio, possui MBA Executivo pela ESPM, com foco em habilidades de comunicação, gestão de pessoas e práticas de liderança, e é autora do e-book “Os Pilares do Agronegócio”. Workshops onlines e gratuitos pelo link: https://www.liliandias.com.br/workshop . Instagram: @jornalistalilian – E-mail: [email protected]
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