Diante do atual cenário, encontrar soluções para reduzir a dependência brasileira de fertilizantes importados é uma das grandes prioridades do Brasil. Para que isso seja possível, pesquisadores estão buscando novas técnicas para, ao menos, reduzir essa dependência.

Desenvolvida pela Embrapa Rondônia, em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, o Instituto Federal de Rondônia (IFRO) e a Universidade de Santiago de Compostela, da Espanha, essa pesquisa permite simplificar e dar maior agilidade na obtenção do biocarvão.

O biocarvão tem se mostrado bastante interessante na produção de fertilizantes organominerais (obtidos a partir de matérias-primas de origem animal e vegetal), ajudando o Brasil a reduzir sua dependência de produtos importados.

Biochar: excelente opção para geração de fertilizantes organominerais

A técnica desenvolvida pelos pesquisadores reduz de três para uma as etapas de produção do biocarvão (biochar). Isso acontece porque seu processo de combustão já incorpora partículas de solo — nas etapas convencionais, o carvão produzido precisa primeiro ser ativado para somente depois ser misturado ao solo.

Inspiração nos povos indígenas pré-colombianos

A solução encontrada pelos pesquisadores foi inspirada nos povos indígenas pré-colombianos, que realizavam a combustão parcial de resíduos orgânicos e os misturavam às lavouras, criando as terras conhecidas como “Amazonian Dark Earths”, ou Terra Preta de Índio (TPI).

As terras pretas, também chamadas de arqueológicas (TPA), diferem-se pela sua qualidade superior, que resultam em:

  • Maior fertilidade do solo;
  • Maior arejamento, retenção de água e carbono orgânico;
  • Alta resiliência aos processos de degradação da qualidade do solo;
  • Suportam um manejo mais intensivo de máquinas mantendo suas características, como maior capacidade de drenagem combinada com maior retenção de água;
  • Melhor disponibilidade de nutrientes, especialmente o fósforo, que é considerado um fator limitante da produtividade na maioria dos solos brasileiros.

Outra vantagem desse tipo de terra é a capacidade de fixação do carbono em formas recalcitrantes (ou seja, que permanecem por mais tempo no ambiente), resistentes à decomposição microbiana. Isso faz com que o carbono permaneça quimicamente ativo nos solos por dezenas a centenas de anos.

“Além de reduzir as perdas de nutrientes e aumentar a eficiência dos fertilizantes, essa tecnologia pode contribuir para o sequestro de 15 a 45 milhões de toneladas de carbono por ano, dependendo da proporção de compostos orgânico-minerais em cada fórmula de NPK”, complementa Paulo Wadt, pesquisador da Embrapa e participante do projeto.

Segundo o pesquisador, muitos estudos avançados já foram realizados na tentativa de reproduzir as qualidades das terras escuras, mas alcançaram poucas aplicações práticas.

“Neste estudo, consideramos os recursos a que essas populações pré-colombianas tinham acesso, pois não possuíam grandes fornos, reatores ou estruturas industriais para produzir o biocarvão, ativar o produto e depois aplicá-lo no solo. Então mantivemos simples e prático, e o resultado foi fantástico”, comemora Wadt.

Biocarvão

Solução mais simples, mas com grande eficiência

A solução desenvolvida pelos pesquisadores da Embrapa e das instituições parceiras foi bastante simples, principalmente quando comparada a outros experimentos para produzir carvões.

A maior parte dos experimentos utiliza a técnica da pirólise (transformação por aquecimento de uma mistura ou de um composto orgânico em outras substâncias) para produzir carvões que, depois, precisam ser ativados e misturados ao solo.

“Nossa solução foi bem mais simples: fazer a pirólise do material orgânico diretamente com a mistura do solo. Com isso temos um produto já ativado e com melhores propriedades físicas e químicas”, acrescenta Wadt.

Além disso, a professora do Instituto Federal de Rondônia (IFRO) Stella Matoso, uma das responsáveis pela pesquisa, explica que os primeiros ensaios em laboratório foram realizados com solos de características físicas e químicas diversas e materiais orgânicos com diferentes proporções de ligninas (macromoléculas encontradas na madeira).

“Nossa pesquisa mostrou que podemos usar materiais orgânicos com diferentes proporções de ligninas e carboidratos para produzir compostos com maior ou menor taxa de retenção dos nutrientes incorporados”, afirma Stella.

“Tivemos resultados muito positivos. Eles mostraram logo de início a vantagem dessa mistura: vimos que estávamos produzindo um material de fácil fragmentação e manipulação”, resume a pesquisadora.

Alguns desafios metodológicos ainda precisam ser vencidos

Dentro do estudo, também foram realizadas pesquisas de caracterização química do composto organomineral.

De acordo com o professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) Valdomiro Souza Junior, esse foi um grande desafio metodológico dentro do projeto e que ainda precisa ser aperfeiçoado.

“Nossas técnicas de pesquisa separam os componentes orgânicos e minerais para que possam ser estudados isoladamente. Nesse caso, temos um composto organomineral complexo, quimicamente rico e com novas propriedades físicas, o que nos coloca na fronteira do conhecimento nessa área”, pontua.

Com isso, há a possibilidade de potencializar o uso de fertilizantes de acordo com os diferentes tipos de cultura (ciclo curto, anual e perene), com melhor controle da liberação dos nutrientes em conformidade com a demanda da planta.

Por fim, os pesquisadores ressaltam que a técnica para obtenção do biochar, bem como sua caracterização, já estão muito bem estabelecidos. No entanto, eles ainda buscam parceiros para desenvolver o produto em escala, de forma a posicioná-lo no mercado para comercialização.

Para isso, os interessados em parcerias devem procurar a Embrapa Rondônia através dos seguintes contatos: [email protected] e [email protected].

Fonte: Agência Embrapa de Notícias

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