O Brasil é mundialmente reconhecido como um dos países com elevado protagonismo no mercado de carbono. Boa parte desse protagonismo pode vir do agronegócio brasileiro.
Este setor tem potencial para ser um dos maiores fornecedores de serviços ambientais para o mundo e, através do mercado de carbono, poderá emitir créditos por emissões evitadas.
Diante disso, cabe a nós entender o que é o mercado de carbono e principalmente qual é o papel do agronegócio brasileiro neste cenário.
O que é o mercado de carbono?
Por definição, o mercado de carbono (ou mercado de créditos de carbono) é um sistema de compensações de emissão de carbono ou equivalente de gás de efeito estufa.
Esse mercado funciona por meio da aquisição de créditos de carbono por empresas que não atingiram suas metas de redução de gases de efeito estufa (GEE), daqueles que reduziram as suas emissões.
“A precificação de carbono corresponde à internalização nos negócios dos custos sociais gerados pelas emissões dos gases de efeito estufa, nos custos privados de produção e consumo, com um preço para uma tonelada de CO2e emitida”, explica o Professor Ronaldo Seroa da Motta, membro do corpo técnico do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
Para Motta, a precificação do carbono é importante para:
- Direcionar a demanda de consumidores para produtos menos intensivos em emissões;
- Atrai investimentos para projetos e tecnologias com menos carbono, inclusive aqueles dentro do agronegócio;
- Permitir uma trajetória custo-efetiva de redução de emissões com menor custo para a economia como um todo;
- Cria incentivos para a inovação tecnológica em diversos setores.
“Nossos principais parceiros comerciais já adotam a precificação, que amplia oportunidades de negócios e fortalece a governança climática com participação do setor privado, além de reduzir disputas comerciais originadas de medidas protecionistas de cunho climático”, complementa o professor.
Potencial do agronegócio brasileiro no mercado de carbono
Nos últimos anos, várias nações estão comprando créditos de carbono para ajudar a cumprir suas metas climáticas firmadas em encontros internacionais. Neste contexto, o Brasil apresenta um imenso potencial dentro deste mercado a ponto de desenvolver uma economia mais sustentável.
A empresa WayCarbon, por exemplo, avaliou que até o ano de 2030, o Brasil deverá suprir de 5% a 37,5% da demanda global de créditos de carbono no mercado voluntário e de 2% a 22% para o mercado regulado global no mesmo período.
Vários são os motivos que podem dar este protagonismo ao país. Temos uma extensão territorial significativa e clima favorável, temos também pessoas capacitadas para desenvolver o mercado.
Além disso, um estudo realizado pelo ICC Brasil indica que nosso país poderia gerar até 100 bilhões de reais em receitas no mercado de carbono até 2030 e os principais setores para o mercado de carbono são o agronegócio, energia e floresta.
Estudos mostram que, juntos, estes setores podem evitar a emissão de 1 bilhão de toneladas de carbono equivalente até 2030.
Agropecuária – Principal mediador do mercado de carbono no Brasil
Dentro do crescente mercado de carbono, o agronegócio brasileiro tem potencial bastante importante. Dentre suas atividades, a agropecuária merece destaque, sendo o principal eixo para atingirmos nossas metas.
Assim, várias técnicas agropecuárias, que já se fazem presentes em nossas atividades, darão o protagonismo ao agronegócio brasileiro como “vendedor de créditos”, como:
- Plantio direto;
- Recuperação de pastagens degradadas:
- Tratamento de dejetos animais;
- Sistemas de integração (ILP e ILPF);
- Florestas plantadas; e
- Produção de bioinsumos.
Essas técnicas tornam a agropecuária muito mais produtiva e eficiente, sendo esse um dos melhores caminhos para o sucesso da produção rural e sustentabilidade do sistema produtivo.
Oportunidades do mercado de carbono para o agro brasileiro
O Brasil é um país que tem um agronegócio extremamente forte e competitivo, além de grande expertise em manejos conservacionistas.
Consequentemente, Marília Folegatti, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, destaca que há um enorme potencial dentro do mercado de carbono.
“A agricultura é uma das poucas cadeias que consegue sequestrar carbono da atmosfera. Nossas boas práticas agrícolas são capazes de incorporar matéria orgânica que, em algum momento, será carbono sequestrado no solo. É uma redução de emissões que nenhuma outra cadeia tem. Essa é uma oportunidade enorme para o agronegócio”, destaca.
Mas, apesar das ótimas perspectivas, precisamos entender que o processo é lento e demorado, principalmente devido às divergências técnicas e especificações mais claras.
Com isso, a tendência natural é que o produtor rural seja recompensado futuramente no mercado de carbono, mas não de forma imediata. Até porque o ganho financeiro não deve ser o foco da discussão.
Para Bruno Vizioli, técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR, o produtor terá um ganho indireto bastante importante.
“O ganho maior virá de maneira indireta, com aumento da fertilidade do solo, maior acúmulo de água e menos perdas por erosão, o que resulta em economia de insumos e maior eficiência produtiva”, exemplifica.
Neste cenário, Marília, da Embrapa Meio Ambiente, complementa:
“O caminho da sustentabilidade traz vários benefícios. Se o Brasil quer ter uma agricultura saudável e duradoura, a aplicação de boas práticas é indispensável. Isso vai garantir bom desempenho ambiental e econômico”.
Mas, apesar das muitas oportunidades, especialistas afirmam que o Brasil ainda precisa evoluir em alguns tópicos para que entre definitivamente no mercado de carbono, tais como:
- Regulamentação das operações no país;
- Maior governança entre empresas, produtores e órgãos emissores;
- Promover a adequação do nosso sistema às metodologias aceitas internacionalmente.
Dessa forma, todo produtor rural deve ter o entendimento de que o sequestro de carbono não é uma atividade-fim e, portanto, o crédito não deve ter mais valor monetário que o produto agropecuário.
Ou seja, se você é produtor rural, não crie expectativas em torno de uma nova fonte de renda (mercado de carbono). A ideia é que este mercado esteja sempre atrelado à produção sustentável e este deve ser sempre o foco central das ações dentro do agronegócio brasileiro.
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