Já faz alguns anos que a pecuária é uma das principais fontes de renda do Brasil, fazendo do nosso país referência mundial neste aspecto. Com tecnologias e investimentos, a pecuária brasileira vem aumentando sua produção sem, necessariamente, ter que comprometer o desenvolvimento sustentável.
Mas, mesmo assim, é preciso investir continuamente também em pesquisas relacionadas à pecuária de baixo carbono. Esse é o grande objetivo de um consórcio liderado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com o BNDES e o Ministério da Agricultura.
Liderado por Eduardo Assad, pesquisador da FGV Agro, este projeto de pesquisa visa a elaboração de modelos de negócios baseados em tecnologias da pecuária de baixo carbono.
Estudos sobre pecuária de baixo carbono: grande interesse do mercado consumidor
As pesquisas relacionadas à pecuária de baixo carbono despertam, cada vez mais, a atenção do mercado consumidor e, consequentemente, de produtores e da indústria frigorífica.
Quando olhamos para o tamanho da pecuária brasileira (com cerca de 172 milhões de cabeças de gado), a relevância e o interesse ao tema se ampliam de forma significativa.
E foi com este propósito que a FGV iniciou um estudo para desenvolver uma calculadora capaz de analisar todo o ciclo de vida dos produtos derivados da pecuária nacional.
“O objetivo da ferramenta é ter o balanço e a pegada de carbono de produtos derivados da pecuária. Isso pode ser obtido lá no início, ou seja, dentro da propriedade, e vai até a etapa final, na mesa do consumidor. E essa é a nossa grande meta”, explica Assad.
Dentro disso, o estudo da FGV Agro teve como objetivo realizar a análise do ciclo de vida do produto por completo.
“No nosso estudo vamos trabalhar com o ciclo todo, englobando os escopos 1 e 2 (dentro da propriedade) e o escopo 3 (fora da propriedade)”, explica Assad.
União dos melhores em prol de uma conquista em comum
Elaborado e coordenado pela equipe de pesquisadores da FGV e apoiado pelo BNDES e MAPA, este projeto é conduzido por grandes empresas privadas com atuação no Brasil.
“No desenvolvimento da calculadora, conseguimos ter a colaboração dos melhores profissionais do Brasil, caso da FGV, Agrotools, Waycarbon, DSM, Imaflora e WRI. Com isso, teremos a expertise de cada empresa para o sucesso da condução de todo o projeto”, complementa Assad.
Assim, com todo esse aporte financeiro e principalmente técnico, Assad acredita que os resultados obtidos dentro da porteira serão mais rápidos. “Já fizemos muita coisa na etapa de fazenda. Agora estamos vendo como englobar isso para os componentes fora da porteira”, complementa o pesquisador.
Mas, além disso, o pesquisador ressalta que há toda a questão que engloba as emissões pós-abate. “Depois da fazenda, há emissões relacionadas ao transporte, abate e demais questões até a mesa do consumidor. Tudo isso é o que chamamos de análise do ciclo de vida”, indica Eduardo Assad.
Vale salientar que o prazo para a realização do projeto é de 18 meses, segundo acordo entre o BNDES e a FGV, mas o pesquisador acredita que partes da calculadora sejam lançadas aos poucos.
“Acreditamos que, à medida que o projeto vai andando, nós conseguiremos lançar partes da calculadora para uso do público em geral”, diz.
Objetivos da calculadora de ciclo de vida na pecuária
Além de apresentar toda a pegada de carbono por todo o ciclo de vida dentro da pecuária, a calculadora apresenta alguns objetivos bastante claros.
Inicialmente, a ideia deste estudo é acabar com os diversos ruídos do mercado de carbono, principalmente quanto às diferentes metodologias desenvolvidas ao redor do mundo. “Pretendemos utilizar o que temos de melhor e mostrar que somos capazes de ter os nossos próprios cálculos”, opina Assad.
Por outro lado, ter essa calculadora é mostrar que a pecuária brasileira está, sim, mostrando preocupação com as questões ambientais e está desenvolvendo ações voltadas a este aspecto.
Assim, a ideia de todo este estudo é ampliar as ações sustentáveis, com a finalidade de auxiliar o Brasil a cumprir o Acordo do Metano, assinado na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 26), que estabeleceu o compromisso global de reduzir em 30% as emissões de metano até 2030.
“Nossa ideia é fazer a integração da nossa pecuária com base em protocolos internacionais, mas com fatores de emissões da nossa realidade. As ferramentas desenvolvidas serão fundamentais para mostrar isso”.
Além disso, o projeto dará ao BNDES a possibilidade de criar linhas para o setor produtivo que viabilizem a migração das atividades mais intensivas em emissões de carbono para as menos intensivas.
“Este trabalho permitirá criar linhas similares ao que fizemos no RenovaBio, que permite que haja um inventariado para medir as atividades de produção de biocombustíveis”, afirma Bruno Aranha, diretor de Crédito Produtivo e Socioambiental do BNDES.
Diretrizes para ter uma pecuária de baixo carbono
De fato, a calculadora desenvolvida pela FGV será essencial para identificar gargalos e melhorar a eficiência de diversos processos dentro da pecuária, visando sempre o baixo carbono.
Mas, para reduzir a pegada de carbono da pecuária brasileira e melhorar nossa imagem lá fora, há algumas estratégias que são imprescindíveis e podem ser colocadas em prática agora mesmo. Dentre elas, merecem destaque:
- Recuperação de pastagens;
- Integração lavoura-pecuária (ILP);
- Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF);
- Correta destinação de efluentes pecuários;
- Eficiência no uso da água;
- Promover o uso de resíduos agroindustriais e dejetos animais, entre outras.
Dessa forma, o grande objetivo deste estudo da FGV não é o de apenas desenvolver uma calculadora. Na verdade, é aplicar novas tecnologias e estimular a sustentabilidade da pecuária através da correta avaliação e certificação das emissões evitadas de carbono.
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