Toda vez que vejo um jornalista questionando a liberação recorde de agroquímicos no Brasil com um certo sarcasmo, sou tomada por dois sentimentos tipicamente humanos: perplexidade e impaciência. Realmente, dá nos nervos se deparar com um profissional que não busca embasamento científico para compreender determinadas medidas e permite que princípios ideológicos sobreponham a realidade e a sensatez.
Explicar aqui para o púbico Agro o motivo da liberação de tantos defensivos agrícolas seria ensinar a missa ao vigário, mas, caso algum desavisado esteja lendo este artigo, fica aqui a justificativa óbvia e necessária para a manutenção de um manejo menos agressivo ao meio ambiente. Vamos lá: os agroquímicos que foram autorizados estavam na fila de liberação há uns 10 anos e, ainda assim, estamos falando de produtos com maior tecnologia e, portanto, menos nocivo à natureza do que aqueles que estavam sendo usados anteriormente por décadas no Brasil. O que houve foi uma desburocratização no processo de permissão do uso de defensivos agrícolas, que, diga-se de passagem, já eram utilizados na Europa há anos.
Ora, se não existe nenhuma lei que proíba o uso de remédios para as plantas – ainda bem, né, senão estaríamos todos mortos de fome –, então que usemos remédios mais modernos, eficazes e menos agressivos ao solo e às culturas. Com base neste raciocínio, pergunto respeitosamente ao meu caro colega de profissão “que parte ele não entendeu que a liberação não é uma desgraça, mas uma benção porque veio para minimizar qualquer efeito danoso que um remédio antigo e mais forte pudesse supostamente ocasionar?”.
Lembro-me que à época da liberação desses “novos” produtos, eu fui conversar com um pesquisador que defende ferreamente o manejo sem a utilização de químicos e, pasme, até ele disse que a liberação seria um ganho ao meio ambiente. No entanto, se falta maturidade para quem ataca o setor, falta maturidade também para quem é do setor e que, igualmente, se recusa a estudar para aderir às novas tecnologias menos onerosas de manejo que não necessitam da utilização de agroquímicos.
Atenção: não estamos falando só de produção orgânica, mas do uso de defensivos biológicos que já não sofrem mais preconceito nem das próprias empresas produtoras de químicos; estamos falando de manejo integrado, plantio direto, agricultura de baixo carbono, etc. E em muitos casos o vilão da resistência por parte do produtor não é o custo, mas sim uma sensação também tipicamente humana que impede a nossa evolução, que é a tal da “preguiça”.
Ficamos irritados com a preguiça instalada no dia-a-dia do ambiente corporativo – com profissionais que só fazem corpo mole e querem tirar uma lasquinha de quem trabalha de verdade –; ficamos indignados com o péssimo atendimento nos serviços oferecidos tanto pelo sistema público quanto pelo privado, mas até no campo, onde os produtores acordam 3 ou 4 horas da manhã para colocar comida na nossa mesa, também existe o fator preguiça que não contribui muito para a sustentabilidade do nosso setor produtivo.
Já sei: você, do Agro, deve estar se perguntando como pode ser atacado por não colaborar com a preservação do meio ambiente, uma vez que o Brasil possui 66% de florestas nativas preservadas enquanto a Europa tem apenas 3%, não é mesmo? Afinal, o discurso é sempre o mesmo… A questão é que por mais que estejamos acertando aqui e acolá, que estejamos à frente do restante do mundo, esses acertos não justificam alguns outros erros que cometemos pelo meio do caminho e nos recusamos a reconhecer.
O Agro brasileiro é maior do que fazer birrinha, manter-se na defensiva o tempo todo e se comparar aos concorrentes. O Agro brasileiro é muito grande e quem é grande não arruma desculpas, apenas segue trabalhando cada vez mais de forma correta em busca de excelência para se tornar gigante.
Ok, podem brigar comigo, podem me xingar de louca porque comecei o artigo mostrando as garras para quem ataca o setor e agora pareço atacar também. Não, meus agroamigos, não estou sendo contra os produtores rurais quando digo que também existe preguiça e falta de vontade de estudar. Pelo contrário, estou indo em defesa do segmento para alertar que precisamos sair da posição de coitadinhos, de ofendidos, para nos tornarmos protagonistas de nossa própria história.
Recentemente, um repórter conhecido meu foi ao interior de São Paulo visitar uma plantação de café e voltou de queixo caído ao relatar que viu as mudas plantadas nos morros sem curva de nível, o que poderá provocar um desastre no solo que deverá levar uns 50 anos para ser recuperado. Então, perguntei: “Por que estão plantando do jeito errado?”. Resposta: “Porque dá menos trabalho. É mais fácil”.
Bem, depois de uma resposta dessa, creio que eu não precise mais de argumentos sobre a afirmação de que a preguiça também habita o campo. Enfim, para encerrar e fazer jus mais uma vez ao título deste artigo, falta maturidade dos dois lados: de quem é contra o Agro e discursa sobre questões ambientais sem o menor conhecimento sobre a atuação agropecuária sustentável; e falta maturidade por parte do próprio setor, que deveria admitir que não é o dono da verdade, que está em constante construção e que, em vez de se colocar só como vítima, deveria se posicionar como parte do problema para combater quem mancha a imagem do produtor brasileiro para os nossos clientes internos e externos.
Em tempo: o setor colocar-se como parte do problema sobre as acusações ambientais que pesam sobre agropecuaristas é tema para um outro artigo. Até a próxima e um abraço “agrofraternal” desta que é uma grande admiradora do produtor brasileiro, mas que assim como uma mãe, ou um pai que ama seus filhos de verdade, não os protege quando estão errados, mas os repreende para que cresçam com caráter e dignidade.
Lilian Dias é comunicadora Agro, possui MBA Executivo pela ESPM, com foco em habilidades de gestão de pessoas, práticas de liderança e marketing. É autora do e-book “Os Pilares do Agronegócio”. Site: www.liliandias.com.br – Instagram: @jornalistalilian – E-mail: [email protected]
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