Vivemos um cenário de incertezas quanto ao abastecimento de fertilizantes. Com isso, a busca por novas alternativas tem crescido em vários países: produtores brasileiros têm procurado por outras fontes e formas de adubação, caso dos fertilizantes orgânicos.
Diante da alta dependência externa por fertilizantes químicos, o adubo orgânico é uma das alternativas mais discutidas recentemente para manutenção da produção agrícola.
No entanto, muitos são os produtores que ainda não conhecem ou não confiam em um adubo orgânico. Será que funciona? Ele substitui fertilizantes tradicionais com a mesma qualidade? Quais são suas vantagens?
Para responder essas dúvidas, conversamos com Ednaldo Araújo, Pesquisador em Manejo e Fertilidade do Solo com ênfase em Agroecologia e Produção Orgânica na Embrapa Agrobiologia. Entenda, neste artigo, como funciona a adubação orgânica e todas as suas características!
Crise externa leva a procura por alternativas na adubação
A guerra entre Rússia e Ucrânia vem causando muitas preocupações para o mundo, e uma delas afeta o agronegócio brasileiro em cheio, estando relacionada ao mercado de fertilizantes.
Para termos uma ideia, a Rússia foi, no ano de 2021, o país de onde o Brasil mais importou adubos e fertilizantes. Mas a atual crise na região do leste europeu causou muita apreensão, decorrente da possível interrupção no fornecimento de fertilizantes.
Diante disso, o produtor brasileiro precisou se movimentar e buscar alternativas. Os fertilizantes orgânicos, então, tornaram-se uma opção.
O que são fertilizantes orgânicos?
Basicamente, o fertilizante ou adubo orgânico é um produto de origem vegetal, animal ou agroindustrial que, quando aplicado no solo, proporciona a melhoria de sua fertilidade e contribui para o aumento da produtividade e qualidade das culturas.
“O fertilizante orgânico é caracterizado como uma biomassa de origem vegetal ou animal rica em nutrientes essenciais e matéria orgânica, em diferentes estágios de decomposição”, complementa Ednaldo Araújo.
Dentre as vantagens, os fertilizantes orgânicos são capazes de contribuir para a produção agrícola nos seguintes aspectos:
- Maior disponibilização de nutrientes;
- Aumento na eficiência dos fertilizantes sintéticos;
- Aumento da resistência do solo aos processos erosivos;
- Ampliação da atividade biológica do solo;
- Redução na incidência de pragas e doenças.
Quais as origens do adubo orgânico?
Decorrente de diferentes tipos de resíduos naturais, o adubo orgânico pode ter diferentes origens:
1. Adubo orgânico de origem animal
O fertilizante orgânico de origem animal mais conhecido é o esterco. Ele é formado por excrementos sólidos e líquidos dos animais e pode estar misturado com restos vegetais.
A composição dos estercos costuma ser muito variada. De forma geral, eles são bons fornecedores de nutrientes, tendo o fósforo e o potássio rapidamente disponíveis, e o nitrogênio fica na dependência da facilidade de degradação dos compostos.
Como exemplos de adubo orgânico animal, o pesquisador da Embrapa Agrobiologia sugere:
- Cama de frango, constituído da mistura de material fibroso (ex. serragem) com resto de ração, fezes, urina e penas;
- Estercos de bovino, de suínos, de galinha poedeira e de equinos.
2. Adubo orgânico de origem vegetal
Este tipo de adubo geralmente é composto por restos vegetais remanescentes das safras. O arroz e o trigo deixam de 30 a 35% da massa original em forma de resíduo orgânico, e o algodão, a cana e o milho, cerca de 50 a 80%.
Os resíduos agroindustriais, tais como torta de mamona, torta de algodão, resíduos de cervejaria e restos de culturas são também considerados fertilizantes orgânicos de origem vegetal.
Sua função de fornecedor de nutrientes, como quase todos os outros resíduos, depende basicamente do material empregado em seu preparo.
Vantagens dos fertilizantes orgânicos estimulam seu uso
Quando aplicados da forma correta, os fertilizantes orgânicos têm muitos benefícios, mesmo diante de uma densidade de nutrientes relativamente modesta. Dentre as vantagens trazidas pelo adubo orgânico, Araújo indica como mais importantes:
- Fornecimento de nutrientes essenciais à planta, incluindo nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre e micronutrientes;
- Aumento da eficiência dos fertilizantes sintéticos — “O adubo orgânico proporciona o aumento da CTC do solo (Capacidade de Troca Catiônica) retendo os nutrientes na camada superficial e evitando a lixiviação de bases, principalmente, do potássio”, explica o pesquisador;
- Diminui a fixação do fósforo, tornando-o mais disponível às plantas;
- Diminui a erosão do solo por fornecer matéria orgânica, que é o agente cimentante para formação de agregados resistentes. Isso aumenta a infiltração da água no perfil do solo, com consequente redução do escoamento superficial;
- Aumenta a atividade biológica do solo, contribuindo para o aumento da diversidade e consequente redução da ocorrência de organismos patogênicos;
- São gerados em grande quantidade no Brasil. A quantidade de nitrogênio contida nos resíduos orgânicos, por exemplo, é superior à quantidade importada desse nutriente;
- Permite a reciclagem de nutrientes, evitando a contaminação dos rios e reduzindo a pressão nos aterros sanitários;
- Por fim, os fertilizantes orgânicos apresentam baixa oscilação de preço, além de baixo custo, principalmente quando obtidos a partir de fontes regionais.
Mas é importante salientar que os fertilizantes orgânicos aplicados no solo precisam ser mineralizados, pois as plantas não têm a capacidade de absorver compostos na forma orgânica.
Apesar das vantagens do adubo orgânico, algumas limitações merecem destaque
Mesmo com as muitas vantagens da adubação orgânica, há alguns inconvenientes e limitações que merecem maior atenção do agricultor.
Inicialmente, há a exigência de doses elevadas de aplicação do adubo orgânico, em função da menor quantidade de nutrientes quando comparado ao adubo sintético. A torta de mamona, por exemplo, tem 5% de nitrogênio, enquanto a ureia tem 45%.
“Mesmo com essa limitação, a ureia apenas fornece o nitrogênio, ou seja, não oferece nenhuma das demais vantagens dos adubos orgânicos”, opina Araújo.
Em outra vertente, há o risco de uso de contaminantes biológicos, tais como coliformes termotolerantes (também chamados de coliformes fecais), ovos viáveis de helmintos (vermes parasitas) e Salmonella sp. Mas, segundo o pesquisador, esse risco é praticamente zero quando o adubo orgânico é de origem 100% vegetal, e pode ser eliminado dos resíduos de origem animal pelo processo de compostagem.
Além disso, alguns fertilizantes orgânicos apresentam mau cheiro quando ainda não foram bioestabilizados pela compostagem. Também é recomendado caracterizar os adubos orgânicos cuja fonte tenha potencial de apresentar metais pesados.
Fertilizantes orgânicos podem substituir fertilizantes sintéticos?
Apesar das muitas vantagens que apresentamos neste artigo, os fertilizantes orgânicos não têm a capacidade de substituir os fertilizantes químicos comumente adotados nas grandes culturas, principalmente soja, milho e cana-de-açúcar.
Em contrapartida, muitos são os casos em que a substituição é plenamente possível, como é o caso das hortaliças e frutíferas. Contudo, Ednaldo Araújo diz que é necessário o acompanhamento de um agrônomo e a realização de análises químicas para o monitoramento da fertilidade do solo.
“O mais correto é fazer o uso racional dos recursos disponíveis, se possível, combinar fertilizantes orgânicos e adubos sintéticos de forma a manter ou incrementar a fertilidade do solo”, recomenda o pesquisador.
Você já fez o planejamento de safra? Nosso material exclusivo ontém informações essenciais para garantir um planejamento completo e obter bons resultados! Faça agora mesmo o download gratuito