Discussão iniciada nas últimas duas décadas, a mudança climática toma cada vez mais a atenção dos especialistas em agricultura devido às previsões nada otimistas para o futuro. Um estudo do Banco Mundial aponta o aumento médio de temperatura superior a 2°C até 2050, abrindo caminho para a redução do potencial de irrigação, aumento da aridez do solo e maior incidência de pragas e doenças. Esse cenário de grande desequilíbrio agrícola alerta para perdas na produção e até mesmo para a migração de culturas de uma região para outra.

O pesquisador do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Hilton Silveira Pinto participa de um grupo de análise das mudanças climáticas, responsável por projeções em 2002, 2008 e 2014, tendo como evolução das pesquisas o detalhamento das áreas de cultivo no Brasil. No acompanhamento, a soja mostrou-se a cultura mais preocupante. “Se nada for feito em relação ao manejo, desenvolvimento de variedade ou aplicação de tecnologias, o primeiro impacto será sentido em 2020 com perda de 12,5% da área produtiva devido ao aumento da temperatura e à deficiência hídrica.” Café segue a tendência de baixa na casa de 10% a 12%.

Para conter impactos, estudiosos de diversas entidades nacionais ligadas ao clima, meio ambiente e agricultura têm proposto medidas que direcionam ao controle do desmatamento, incentivo ao sistema de plantio direto, adoção de sistemas agroflorestais e agrossilvipastoris, arborização nos cafezais e melhoramento genético.

O documento do Banco Mundial ainda mostra um rumo para a perda de solo com elevado potencial agrícola em duas regiões. No Centro-Oeste e no Nordeste, a substituição de pastagens pelo cultivo de grãos e cana-de-açúcar poderia compensar a estimativa de perda de cerca da metade das terras cultiváveis e, especialmente, da produção de grãos no Sul.

“No Centro-Oeste e no Nordeste, a substituição de pastagens pelo cultivo de grãos e cana-de-açúcar poderia compensar a estimativa de perda de cerca da metade das terras cultiváveis e, especialmente, da produção de grãos no Sul.”

“Existe uma preocupação geral com eventos extremos, pois afetam qualquer cultura, e com a incerteza sobre a incidência de chuva no Brasil. É preciso lembrar que fenômenos são dinâmicos, não são mensurados com muita antecedência, mesmo com supercomputadores e supermodelos”, comenta Magda Lima, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente.

Melhoramento genético

Pesquisa em biotecnologia tende a entrar cada vez mais em pauta no agronegócio de Norte a Sul do País. A busca de genes que aumentam a tolerância das plantas deve resultar em variedades mais resistentes às mudanças climáticas. Porém, o melhoramento genético tem uma tolerância biológica de até 2ºC de aumento. Se os termômetros subirem mais do que isso, é necessário desenvolver uma nova espécie.

Ações de adaptação para o desenvolvimento de arroz e feijão resistentes à deficiência hídrica são conduzidas na Embrapa, empresa que também tem grupo de estudos focado na cultura de milho tolerante aos efeitos climáticos. Análises de variedades de café que se adaptem a altas temperaturas são feitas pela Fundação Pró-Café.

Custo preventivo é um problema sério, que depende de financiamento governamental. “Uma planta tolerante ao calor passa dez anos em fase experimental, com investimento de 1 milhão de dólares ao ano. Nesse período é feita a observação da semente e da muda para escolha da mais tolerante para só depois ser feita a multiplicação da planta”, afirma o pesquisador do Cepagri.