Na economia brasileira, a atividade agropecuária sempre teve grande importância na geração de empregos. Durante a pandemia, o setor mostrou sua força e se manteve ativo, gerando um saldo de 141 mil empregos.
De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), esse expressivo resultado foi impulsionado pelo avanço do Plano Nacional de Imunização contra a Covid-19, que permitiu a flexibilização das restrições de circulação de pessoas.
Para os próximos meses, a tendência é que a geração de vagas no agronegócio se mantenha crescente. No que que devemos ficar de olho? Em quais áreas específicas eles aparecerão?
Para entender melhor o cenário de empregos no agronegócio, conversamos com Nicole Rennó Castro, pesquisadora da equipe macroeconômica do Cepea, e Isabel Mendes, assessora técnica da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Geração de empregos no agronegócio: oportunidades em diversas esferas
Dados recentes do Comunicado Técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) mostraram que, entre janeiro e dezembro de 2021, a agropecuária gerou 140,9 mil novos postos de trabalho. É o maior saldo de vagas desde 2011, ano em que foi registrada a criação de 85,6 mil novos empregos com carteira assinada.
Quais regiões e atividades geraram mais empregos no agronegócio?
A região Sudeste ocupa a primeira posição na criação de novos postos de trabalho no agronegócio em 2021, seguida da região Nordeste e Centro-Oeste.
Entre as atividades que mais contribuíram para a geração de empregos no agro, o cultivo de soja, a criação de bovinos para corte e a cultura da cana-de-açúcar ficam nas primeiras posições.
Veja os números:
Geração de empregos na agropecuária em 2021 (por região):
- Sudeste: 79 mil novas vagas;
- Nordeste: 20,7 mil;
- Centro-Oeste: 17,8 mil;
- Sul: 8,8 mil;
- Norte: 8,1 mil.
Geração de empregos na agropecuária em 2021 (por atividade):
- Cultivo de soja: 22,2 mil empregos;
- Pecuária bovina de corte: 21,6 mil;
- Cultivo de cana-de-açúcar: 8,9 mil;
- Atividades de apoio à agricultura: 8,6 mil;
- Preparação de terreno, cultivo e colheita: 5 mil
Fonte: Novo Caged (MTP) / CNA
Com este resultado, a agropecuária contribuiu com 5,2% do total de vagas no Brasil (2,7 milhões). Mas Rennó ressalta que, se considerarmos o agronegócio como um todo, a geração de empregos é ainda maior.
“Nos últimos anos presenciamos um expressivo crescimento na geração de empregos antes da porteira. Ou seja, na indústria de fertilizantes, defensivos, medicamentos, sementes e máquinas agrícolas”, indica.
A pesquisadora do Cepea explica, também, que há uma ampla gama de oportunidades depois da porteira, como agroindústrias e setor de serviços. “Estes setores do agronegócio têm gerado muitos empregos, mesmo com os efeitos das últimas crises que insistem a conviver conosco desde 2014”.
Empregos mais qualificados são tendência
Nos últimos anos, notamos uma grande tecnificação e digitalização da agropecuária. Com isso, para Rennó, a tendência é que tenhamos uma menor geração de empregos no segmento – mas, em contrapartida, novas oportunidades de trabalho poderão ser criadas.
“Com a modernização do agro, a tendência é que tenhamos um saldo líquido negativo na geração de empregos no agronegócio. Mas a tendência é que surjam novos postos de trabalho qualificado e que exijam uma mão de obra com conhecimentos específicos”.
A prova dessa tendência é o crescimento do percentual de pessoas com ensino superior e capacitação técnica trabalhando no campo.
“Hoje, o tomador de decisão tem que considerar uma infinidade de fatores para fazer a melhor escolha, e isso exige um conhecimento técnico mais diversificado e alinhado às novas tecnologias”.
Além do mais, desde o início da pandemia a conjuntura da agropecuária foi menos afetada, principalmente quando comparada com a agroindústria. Isso ajudou a alavancar os empregos no agronegócio.
“Essa tendência deve se manter por um tempo, seguindo o boom da agropecuária brasileira, com novas oportunidades surgindo naqueles trabalhos que exigem maior qualificação. É preciso ficarmos de olho nelas”, completa Nicole.
Como se preparar para os novos empregos no agronegócio?
Como citado por Rennó, o agronegócio vive uma transição, reduzindo os postos de trabalho mais braçais e elevando as oportunidades que exigem qualificações mais técnicas e modernas.
Assim, para Isabel Mendes, esse novo cenário exigirá capacitação de profissionais que pretendem se candidatar às novas oportunidades de empregos no agronegócio.
“A capacitação é o que torna o trabalhador apto para aproveitar as oportunidades, tanto para aqueles que estão sem emprego como, também, para aqueles que desejam se recolocar em outra área de atividade, em outro cargo ou conseguir um emprego com melhor remuneração”, aponta Mendes.
Segundo a assessora técnica da CNA, a experiência do profissional é um elemento que quase sempre pesa na contratação, em particular em cargos que exigem conhecimentos mais específicos. Mas a qualificação é um grande determinante na conquista da vaga e na negociação salarial.
Além disso, Mendes crê que o trabalhador rural precisa estar habilitado e atualizado para utilizar recursos tecnológicos de fronteira, como máquinas e equipamentos de última geração e a conectividade no campo. “Esses ‘novos insumos’ impactam profundamente a competitividade por meio da inovação de processos de produção”, diz.
Ainda segundo Mendes, todo esse rol de conhecimento beneficia o mercado de trabalho no agronegócio, tanto para o empregado quanto para o empregador.
“Para o empregado, melhora na conquista de novas oportunidades, assim como de melhores salários. Para o empregador, oportuniza ganhos de produtividade e aumento de rentabilidade, o que motiva o crescimento da atividade e possibilita a geração de novos empregos e de mais renda”.
Capacitação técnica é uma das estratégias para conquistar oportunidades de trabalho no agro
Por fim, de olho nas exigências e nas oportunidades do mercado de trabalho, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) traz diversos cursos de formação técnica em seus programas de capacitações, ofertados de forma gratuita e remota (Ensino a Distância – EAD).
A Faculdade CNA, por sua vez, disponibiliza cursos de educação superior, assim como cursos de curta duração, como em seguros rurais.
“O Sistema CNA/SENAR cumpre um importante papel de agente transformador na vida dos inúmeros trabalhadores rurais, assim como o apoio ao crescimento e ao desenvolvimento do setor agropecuário”, finaliza Isabel Mendes.