No último dia 24, comemoramos o dia do suinocultor. E, mesmo diante das dificuldades, há muito a se comemorar, principalmente com significativo aumento no consumo de carne suína em 2023.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Kantar, empresa especializada em dados, insights e consultoria, os números revelam que o consumo passou de 4,6% em 2021 para 7,6% em 2022 e chegou a 9,1% neste ano.
Esses números corroboram com o destaque do Brasil no mercado internacional. Figuramos na quarta colocação entre os maiores produtores e exportadores global, ficando atrás apenas da China, União Europeia e Estados Unidos.
Mas tão importante quanto atender o mercado interno e externo, a carne suína brasileira precisa, cada vez mais, ser produzida com as regras de sustentabilidade.
Para comentar sobre este tema, conversamos com Iuri Machado, Consultor de mercado da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) e com Airton Kunz, pesquisador da área de meio ambiente da Embrapa Suínos e Aves.
Suinocultura brasileira: 9,1% do consumo de proteínas animais
A produção brasileira de carne suína fechou 2022 como a quarta maior produtora e exportadora do mundo, sendo também uma das que mais cresceu nos últimos anos.
Foram abatidos 56,4 milhões de cabeças, totalizando 5.186.303 toneladas de carcaças, sendo que 1.013.739 de toneladas de carne in natura (19,5% da produção) foram exportados para mais de 90 países.
O consumo interno ultrapassou os 19 kg per capita/habitante/ano, sendo a proteína que mais ganhou espaço na mesa do brasileiro nos últimos 5 anos. No primeiro semestre de 2023, os números mostram que o consumo chegou a 9,1%.
Essa alta é resultado de um trabalho conjunto entre os diversos setores que compõem nossa suinocultura. A tecnologia, por exemplo, desempenha um papel importante, permitindo melhorias na produção, eficiência e qualidade dos produtos.
Por outro lado, a sustentabilidade vem sendo motivo de muitas discussões no segmento. Produtores e pesquisadores focam na redução dos efeitos da suinocultura sobre o meio ambiente, tornando a produção mais sustentável.
Exigência do mercado crescente estimula a adoção de medidas de sustentabilidade
A suinocultura brasileira vem rapidamente se expandindo, visando atender a demanda de consumo interno e externo de carne suína, produtos e derivados.
Mas, o impacto ambiental causado pelo manejo inadequado dos dejetos líquidos de suínos pode causar severos danos ao meio ambiente e, segundo Airton Kunz, isso pode comprometer nossos produtos em mercados mais exigentes.
“Na nossa suinocultura, a sustentabilidade vem sendo uma clara exigência daqueles mercados mais sensíveis às questões ambientais. Assim, estratégias que atendam o mercado de carbono e reduzam a emissão de gases do efeito estufa se destacam e contribuem com a competitividade da cadeia”.
Iuri Machado, que atua na cadeia da carne suína, acredita que a sustentabilidade já faz parte do DNA da suinocultura brasileira, seja na atenção ao meio ambiente, no social, no econômico e no cuidado com os animais (bem-estar) e, segundo ele, a explicação para isso é simples.
“O crescimento da produção e da participação no mercado internacional da suinocultura brasileira na última década não seriam possíveis sem a adoção de práticas sustentáveis adotadas por toda a nossa cadeia”.
Dicas para tornar a suinocultura brasileira mais sustentável
Impulsionada pela preocupação com as mudanças climáticas, a sustentabilidade tem ganhado cada vez mais importância na cadeia produtiva da carne suína, pautando não só as ações dentro da atividade, mas também as escolhas dos consumidores.
Por isso, é essencial que todo projeto de suinocultura adote as seguintes medidas sustentáveis:
Sistemas de tratamento dejetos dos animais
Graças ao avanço dos processos sustentáveis, o manejo de dejetos de suínos deixou de ser um problema e passou a oferecer novas oportunidades para suinocultores.
Assim, os dejetos de suínos, quando tratados podem ser utilizados como insumos de outras atividades como fertirrigação de pastagens e lavouras.
Outra opção é a compostagem destes dejetos para uso em outras propriedades como adubo orgânico.
Biodigestores
O biodigestor é um equipamento que recebe os dejetos dos animais e realiza um processo de biodigestão anaeróbica. O resíduo sólido se sedimenta no fundo e a parte líquida passa por um filtro interno, é depurado, filtrado e resulta em um efluente mais limpo e com menor contaminação.
“Os biodigestores sequestram o carbono, reduzem a emissão de gases de efeito estufa e ainda possibilitam o uso do biogás para geração de energia elétrica e/ou calor”, indica Iuri Machado.
Já Airton Kunz explica um crescimento expressivo do uso do biometano em soluções de mobilidade. “Após sua produção, o biogás é purificado e transformado em biometano. Este, por sua vez, é utilizado em soluções de mobilidade”, complementa.
Adequações na dieta dos animais (reduzindo a emissão de gases poluentes)
Outra opção muito viável visando a sustentabilidade é adequar a dieta para aumentar a digestibilidade e reduzir o uso de nutrientes com potencial poluente.
O consultor da ABCS indica o uso de aditivos melhoradores de desempenho ou mesmo o melhoramento genético. “O foco dessas soluções é melhorar a conversão alimentar e reduzir a quantidade de ração necessária para produzir a mesma quantidade de carne”.
Promover o bem-estar animal
Há muitos anos a suinocultura brasileira tem dado atenção especial ao bem-estar animal nas questões relacionadas às instalações, adequação de manejos e educação das pessoas envolvidas diretamente na atividade de produção.
“Hoje o Brasil não somente tem uma legislação específica para BEA, alinhada com os conceitos da OIE, mas também as empresas têm estabelecido protocolos mais amplos que a própria legislação”, complementa Iuri.
Investir em energia limpa
Além do aproveitamento do biogás, proveniente de biodigestores, para geração de energia ou aquecimento dos animais, muitas granjas também fazem uso da energia fotovoltaica para abastecer as granjas.
Com isso, conseguem reduzir o consumo energético de fontes não renováveis, como os derivados do petróleo.
Por fim, tanto o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves quanto o consultor da ABCS indicam que essas são medidas essenciais para garantir a sustentabilidade da nossa suinocultura.
“Essas são medidas que certamente vão contribuir imensamente com a sustentabilidade de todo o sistema de produção da suinocultura”.
Então, se você é suinocultor, você tem muitos motivos para comemorar o seu dia, seja pelo aumento da produção e do consumo, seja pela busca incessante por uma produção mais sustentável.