Marcello Brito – presidente do conselho diretor da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio)

No ano passado assistimos uma derrocada econômica de grandeza gigantesca em praticamente todos os países do mundo. No Brasil, esse quadro dramático se reproduziu com uma queda de 4,1% no Produto Interno Bruto (PIB), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse resultado negativo significa a maior queda verificada desde 1990, quando se registrou uma baixa de 4,35%. Um desempenho tão ruim a ponto de ser comparado com os anos de 1980, conhecida como a “Década Perdida”. Mesmo assim, aguardava-se uma baixa ainda maior diante do menor ritmo principalmente nas atividades de serviços em geral.

No início de 2020, as projeções traçadas para o PIB, como por exemplo as divulgadas pelo Banco Central (BC), já descartavam de forma clara a possibilidade de um crescimento mais arrojado. Os picos máximos ficaram inferiores aos da ordem de 2,35% na primeira quinzena de janeiro. A partir daí começaram a borbulhar os comentários e as especulações em torno do surto do Coronavírus, com informações oriundas cidade chinesa de Wuhan. Em março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declara estado de pandemia devido a disseminação da nova doença. Em junho e julho, a expectativa de redução no PIB bateu 6,55 em junho e julho.

No Brasil, a agropecuária foi a único setor com variação positiva no ano passado, com sinal azul (2,0%) e fora do vermelho, diferente do que ocorreu com a indústria (-3,5%) e serviços (-4,5%). Grande parte na cadência das atividades econômicas foram afetadas pelas medidas oficiais de isolamento social impostas para evitar a disseminação da pandemia, somado com o choque nos custos de produção causados pela desvalorização do câmbio.  Considerada essencial para o funcionamento das cadeias de alimentos, desde a produção até a entrega ao consumidor final, a agropecuária não parou. Já a safra colhida em 2020, alcançou quantidade recorde no café e também nos grãos, principalmente com o bom desempenho das culturas de soja e milho.

Para o cenário de 2021, algumas variáveis tenderão a ter maior peso no jogo dos negócios do agro. Os fatores climáticos poderão atrapalhar as perspectivas de outra colheita recorde na safra 2021/22, mas existe muita água para passar debaixo da ponte. Uma área muito nublada diz respeito a volatilidade com a propensão de subida do dólar frente ao real. Haverá um período de instabilidade no processo de alastramento da pandemia e a eficácia da vacinação em massa para imunizar a população. As margens de comercialização dos produtores ficam apertadas com a oneração dos custos de produção provocados pela desvalorização cambial. Enquanto isso, a proteína animal defronta com as subidas nos preços das rações, que precisarão ser repassadas para o mercado de consumo final. 

Evidentemente, no âmbito mundial, o quadro geral também se apresenta cinzento. O desdobramento da pandemia ditará o rumo dos mercados, em especial no segundo semestre. Até lá, perdura uma fase de observação sobre os sinais de evolução do surto, ainda em estágio de muita incerteza, mesmo nos países desenvolvidos. Em comparação a 2020, a expectativa geral é de recuperação nos PIB´s dos países.  Para o Brasil, o sonho de recuperação da sua economia, se possível, com taxa de crescimento similar ao da agropecuária.

Brasil: Variação do Produto Interno Bruto (PIB)

Ano

Total

Agropecuária

2011

4,0

5,7

2012

1,9

-2,3

2013

3,0

7,0

2014

0,5

0,4

2015

-3,5

1,8

2016

-3,3

-6,6

2017

1,3

13,0

2018

1,8

1,1

2019

1,4

1,1

2020

-4,1

2,0

Total

3,0

23,2

Fonte:IBGE