O ano de 2023 foi histórico para o agronegócio brasileiro, reforçando a importância do país como um gigante nas exportações globais de commodities. Com um balanço das commodities agrícolas muito positivo, o Brasil reafirmou sua posição como um dos principais fornecedores de alimentos do mundo.

Para 2024, a expectativa de analistas é a manutenção do bom volume de exportação e, se houver uma melhora no preço das commodities como um todo, teremos um ano ainda melhor que 2023.

Para ter um panorama geral do balanço das commodities em 2023 e tendências para 2024, a equipe da Agrishow Digital conversou com Daniel Mariga, especialista em investimentos na WIT Invest.

Commodities que mais se destacaram em 2023

Durante todo o ano de 2023, o balanço de commodities apresentou alguns produtos com resultados positivos, outros tiveram resultados não tão bons.

Como destaque positivo, Daniel Mariga cita o Açúcar e o Café, além do Ouro e do Minério de Ferro como commodities que tiveram destaque positivo em 2023. 

Já como destaque negativo, apesar dos recentes conflitos no Oriente Médio, o Petróleo teve uma queda relevante no ano de 2023. Além disso, o gado e os grãos também tiveram queda nos preços neste ano, gerando grande impacto na economia brasileira.

Com a supersafra e os recordes de produção nos grãos, tivemos muitos fundos ligados ao preço destes ativos performando muito abaixo do esperado”, complementa Mariga. 

Em contrapartida, o especialista destaca que tivemos uma demanda enorme de clientes que são produtores fazendo proteções através de derivativos no mercado financeiro. 

Tivemos mais do que o dobro de contratos futuros de Soja abertos, comparando o início de dezembro de 2023, onde tínhamos no dia 11/12 um total de 4.458 contratos abertos, com o início de dezembro de 2022, onde tínhamos 1.618 contratos abertos no dia 12/12”.

A pecuária foi fortemente impactada pelo preço da arroba

Para o ano de 2023, a pecuária tinha a expectativa de alcançar bons números, principalmente diante de um 2022 difícil.

No entanto, Mariga ressalta que a pecuária teve um impacto negativo em um primeiro momento por conta da queda expressiva no preço da arroba do boi ocorrida em 2023.

Em contrapartida, o especialista em investimento destaca que devido ao preço dos insumos necessários para o manejo também terem sofrido reduções, a margem de lucro conseguiu ser menos afetada do que o previsto. 

Para 2024, o mercado começa a reduzir o pessimismo, devido às recentes altas na arroba, projetando assim um ciclo de 12 meses melhor que o atual”, opina.

O produtor teve queda das suas margens de lucro e alguns fatores explicam isso

Outra constatação do ano de 2023 está relacionada à queda da margem de lucro do produtor brasileiro, mesmo com safra recorde de grãos de 322,8 milhões de toneladas.

Para Daniel Mariga um dos principais problemas enfrentados pelos agricultores, e que reduziu a margem de lucro, foi o alto custo dos insumos, especialmente no começo da época do plantio. 

Além disso, o excesso de produção fez com que os produtores achassem mais interessante desprezar os grãos do que pagar o custo para mantê-los. “Isso faz com que a margem de lucro líquida tenha uma redução drástica”, afirma Mariga. 

No caso da soja, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apresentou redução de 68% na margem bruta na comparação com a safra 2021/22. Segundo Mariga, essa queda drástica na margem bruta fez com que os produtores buscassem alternativas de plantio para manter seus lucros. 

Uma das alternativas destacada pelo especialista para a proteção da margem de lucro mais procuradas foi através de derivativos no mercado financeiro. “Com isso, introduzimos diversos agricultores a uma estratégia antes não praticada, mas muito eficaz, principalmente para os exportadores através de travas de dólar”.

Já na pecuária, os pecuaristas não estavam achando interessante a venda do boi pelo preço sugerido da arroba. Com isso, aumentaram o estoque, mantendo o custo do manejo dos bois. 

Em um certo momento, para que a conta fechasse, foi necessário vender com preços mais baixos do que o planejado. Isso fez com que a margem também caísse mais do que muitos acreditam que seja saudável para a manutenção do negócio”, opina o especialista.

Expectativas do balanço das commodities agrícolas para 2024

Segundo diversas análises, há a expectativa que a rentabilidade reduzida deva permanecer em 2024.

Ainda enfrentaremos um custo elevado para a produção, devido, principalmente, aos conflitos no Oriente Médio que afetam diretamente o preço do petróleo. 

Além disso, estamos entrando em 2024 com estoques muito elevados em diversos tipos de grãos, prejudicando ainda mais o preço. “Caso não tenhamos uma melhora na demanda efetiva, principalmente vinda da China, ainda deveremos ter uma pressão elevada sobre as margens do produtor”, salienta Marigo.

Vale destacar também que, de acordo com a projeção da CNA, o PIB do agronegócio pode ter queda de 2%, caso não tenhamos uma melhora na demanda e no dólar, por impactarem diretamente o preço de venda das commodities. 

Além disso tudo, o desempenho do agronegócio dependerá dos efeitos climáticos do El Niño.

Por fim, apesar da desvalorização recente das commodities, tivemos um excelente volume nas exportações, compensando a queda dos preços. 

Para 2024, Marigo acredita que manteremos um bom volume de exportação. “Caso tenhamos uma melhora no preço das commodities como um todo, teremos um ano ainda melhor que 2023, fazendo com que a balança comercial tenha um saldo positivo acima de US$ 90 bilhões”, finaliza.

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