Sob efeito do El Niño e de outros fatores, os termômetros têm registrado temperaturas superiores a 30° em regiões produtoras. Diante desse acontecimento é essencial conhecer os impactos do El Niño na agricultura para definir o que pode ser feito.

De fato, as alterações climáticas figuram entre os fatores que mais afetam a produção agrícola, exigindo total atenção dos produtores rurais.

Enquanto algumas mudanças climáticas são atribuídas a ação humana, o fenômeno El Niño emerge como um verdadeiro ator global, desempenhando um papel fundamental nas alterações climáticas.

Para entender essa onda de calor e como ela afeta a agricultura brasileira, a Agrishow Digital conversou com Enrico Manzi, Country Manager da Biond Agro, empresa que auxilia produtores agrícolas a profissionalizar sua gestão e comercialização de grãos.

Extrema onda de calor em pleno inverno: o que explica?

Na reta final do inverno de 2023, os termômetros seguem registrando números altíssimos em todo o Brasil.

Porém, vale ressaltar que ondas de calor ao final do inverno não são tão incomuns como o imaginado. A baixa umidade da atmosfera e do solo fazem com que quase toda incidência solar vire calor, resultando nas atuais ondas de calor.

O primeiro fator desse calor extremo é a atuação de uma bolha de calor que permeia o Paraguai e o Centro-Oeste brasileiro. Essa bolha de calor é criada quando uma massa de alta pressão permanece sobre a mesma área por semanas, prendendo ar muito quente por baixo.

No entanto, Enrico Manzi salienta que o que diferencia o período atual é a intensidade desta onda. “O efeito principal por traz desse calor elevado é o El Niño, fenômeno decorrente do aquecimento das águas do oceano pacífico equatorial, causando elevação na umidade atmosférica e mudanças das correntes de vento no globo”.

Importante destacar que o fenômeno El Niño tem um padrão de intensidade também, e quanto maior a sua intensidade, maiores serão seus efeitos sobre a temperatura e umidade. 

A onda de calor que estamos presenciando atualmente é resultado de um El Niño moderado a forte (já apelidado de super El Niño por alguns), que vem reforçado por efeitos decorrentes do aquecimento global”, complementa Manzi. 

Segundo o NOAA (Agência de clima norte-americana) há a probabilidade de 95% de que o fenômeno se estenda até março de 2024. A agência também aposta que o fenômeno virá em intensidade forte, desta vez com uma probabilidade de 70%.

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Impactos do El Niño na agricultura

Como já destacado, o El Niño está correlacionado com a onda de calor presenciada no final do inverno, mesmo sendo um fenômeno comum. 

A massa de ar quente que se instalou sobre o Brasil central tem mantido o efeito de calor presenciado, ao mesmo tempo que tem bloqueado a subida da umidade que vem do sul da américa do sul. Isso tem provocado chuvas intensas no sul do Brasil”, complementa o Country Manager da Biond Agro.

Podemos dividir os efeitos do El Niño na Agricultura sobre as diferentes regiões do Brasil. 

A região Sul é favorecida por bons níveis de chuva (podendo chegar ao excesso de chuvas), a região Sudeste e central do país é impactada com maiores temperaturas, mas geralmente acompanhadas de boa umidade. A região Norte/Nordeste é a que mais sofre, especificamente pela menor umidade. 

Dessa forma, Enrico Manzi explica que tanto a umidade quanto o calor em excesso atingem diretamente o potencial produtivo das lavouras. 

A nível de comparação, na safra 22/23 a projeção é que o Brasil finalize com uma produtividade de 58,5 sacas por hectare (sendo um ano de La Niña), já na safra 18/19 que tivemos um El Niño de intensidade fraca a produtividade do país foi de 55,62 sc/ha e na safra 15/16, que tivemos um El Niño de intensidade forte, a produtividade brasileira foi de 47,97 sc/ha”. 

Logicamente, o especialista destaca que houve muito avanço em tecnologia e investimentos dos produtores ao longo dos últimos anos que devem minimizar um pouco os impactos do El Niño na agricultura este ano. 

Além disso, o aumento das temperaturas e alterações nos padrões de chuva criam um ambiente mais favorável para a proliferação de pragas. 

Consequentemente, agricultores precisam lidar com um aumento na incidência de infestações e doenças, o que pode afetar negativamente a produtividade de suas culturas.

De forma geral, em decorrência das temperaturas mais altas e um El Niño mais forte podemos esperar produtividades médias um pouco mais baixas nesta safra”, acredita Manzi.

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Não podemos mudar o clima, mas é preciso ter atenção!

Os eventos climáticos extremos, como a atual onda de calor, afetam diretamente a produção agrícola, resultando em perdas significativas de colheitas e redução na qualidade dos alimentos.

No entanto, mudar o clima é praticamente impossível, pelo menos no curto prazo, tornando o cenário ainda mais desafiador. Por isso, é essencial que os agricultores estejam preparados para enfrentar as mudanças climáticas e adotem práticas sustentáveis, inovadoras e tecnológicas.

Dentre essas práticas, se destacam o manejo adequado do solo, o uso eficiente de água para irrigação e a proteção da biodiversidade. Quando bem realizadas, essas estratégias podem ajudar a mitigar os impactos das mudanças climáticas na agricultura.

Além disso, Enrico Manzi sugere aos produtores acompanhar, mais do que nunca, os mapas climáticos, assim como realizar o plantio e manejo nas janelas corretas. 

Em locais onde é esperado umidades mais altas associadas a temperaturas extremas, é preciso redobrar a atenção aos controles de doenças.

Por fim, é importante salientar que o efeito do El Niño na agricultura é um desafio global que afeta todos os produtores. 

Mas com cooperação e inovação, podemos encontrar soluções para garantir a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável. A hora de agir é agora.

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