Esses dias, ouvi de um consultor do Agro, num riso debochado, que produzir o próprio adubo na fazenda é andar para trás. Fiquei preocupada com o que escutei porque tal afirmação é fruto de uma crença limitante, ou seja, este profissional está levando em consideração apenas o que ele conhece em termos de adubação, acredita, aplica e sugere a outros profissionais do Agro como verdade absoluta.
Não entendo que produzir o próprio adubo por meio da compostagem seja andar para trás, mas apenas uma medida diferente em relação à adubação industrializada. Produzir o próprio adubo exige conhecimento, técnica e é um tipo de ciência aplicada em agriculturas como a regenerativa, a orgânica, a biodinâmica, a agrofloresta, entre outros modelos.
Modelos que são ensinados com maestria pelos extensionistas, ou seja, eles lançam mão da arte de agricultar, enquanto os consultores, no geral, se limitam a indicar produtos por vários motivos, seja por não terem conhecimento sobre métodos alternativos ou porque realmente apostam e confiam na solução de aplicar algo pronto por crerem que tem maior eficácia, facilidade, praticidade, o que, de certo modo, é até compreensível, pois muitos produtores não têm tempo de fazer o processo natural, invariavelmente moroso, pela ânsia ou real necessidade de resolver logo o problema e fazer dinheiro rápido, uma vez que sem capital de giro qualquer negócio quebra.
Não nos cabe julgar o que é certo ou errado, mas o fato é que a maioria dos produtores se torna dependente de um modelo que encarece o seu custo de produção devido à importação de alguns componentes do adubo químico, em vez de usar produtos de forma emergencial, com parcimônia e, aos poucos, tentar migrar para uma agricultura que, além de salutar, também é menos onerosa.
Entenda, caro leitor(a), não estou aqui fazendo apologia contra o uso de agroquímicos, de forma alguma. O ideal seria a junção das duas técnicas, sem enaltecer ou demonizar nenhuma delas. O objetivo desse artigo é abrirmos a nossa mente para formas alternativas de adubação natural, por meio da compostagem, que não podem ser achincalhadas, tratadas com escárnio e rotuladas como metodologia atrasada por causa de crenças individuais ou falta de conhecimento sobre ciência aplicada na agricultura.
Também devemos nos preocupar com o manejo correto dos agroquímicos. Mesmo que a indústria seja cuidadosa com as orientações, o colaborador da fazenda, que não é devidamente treinado ou comprometido, não sabe aplicar o produto direito e acaba fazendo estragos; afinal, a diferença entre o remédio e o veneno está na dosagem, não é mesmo? Quem aqui se habilitaria a ministrar antibiótico a mais para o próprio filho sem se preocupar com as consequências?
A essa altura deste texto, creio que muitos de vocês estejam pensando: “É utopia produzir sem agroquímico”, “Graças ao agroquímico as pessoas não vão morrer de fome”, “Agroquímico é caro e produtor rural não rasga dinheiro” – ele, não, mas o colaborador dele destreinado, ou mal-humorado por ser mal remunerado, não está nem aí para o bolso ou solo contaminado do proprietário.
Enfim, repito, este artigo não é para dizer o que é certo ou errado em termos de agricultura, mas para encontrarmos o equilíbrio na adoção das mais variadas formas de agricultar sem menosprezar o que é diferente. Existe, inclusive, indústria de compostagem que faz negócios com grandes fazendas que produzem o próprio adubo. O pecuarista tem vaca de leite e, pasme, não é para produzir leite, mas para produzir adubo a partir do excremento da vaca e, com isso, ser remunerado pela empresa de compostagem que realiza o processo na fazenda.
Ou seja: existe um grande mercado aí que não pode ser tachado de atrasado só porque desconhecemos essa realidade. Tem uma outra grande empresa que produz açúcar orgânico, em mais de 20 mil hectares, sem usar uma gota de agroquímico, mas, sim, o processo é moroso e encarece o produto final. Trata-se de outro tipo de economia, que gera muita renda, que atende um consumidor diferenciado, exigente e que, portanto, não podemos, mais uma vez, chamar a renúncia por químicos de obsolescência. São apenas técnicas diferentes.
Compreendo e respeito o papel da indústria, mas também respeito a arte de agricultar sem depender tanto de produto. Só não podemos dizer que usar agroquímico é errado e nem dizer que o produtor rural que faz o próprio adubo é antiquado. Equilíbrio, sempre. Mente aberta às realidades que não fazem parte do nosso dia a dia e estão, sim, gerando muita renda, sustentabilidade e mais saúde à população.
Lilian Dias é comunicadora Agro, possui MBA Executivo pela ESPM, com foco em habilidades de gestão de pessoas, práticas de liderança e marketing. É autora do e-book “Os Pilares do Agronegócio”. Site: www.novoagro.com.br – Instagram: @jornalistalilian – E-mail: [email protected]
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