No Brasil e em muitos países produtores, a produção de leite orgânico deve apresentar um forte crescimento nos próximos anos. Este segmento vem sendo impulsionado pelo consumidor mais preocupado com o consumo de alimentos saudáveis.
Produzido com boas práticas, respeitando o bem-estar animal e priorizando as questões sociais e o meio ambiente, este é um nicho de mercado que deve movimentar US$ 28 bilhões em 2023, de acordo com a Global Organic Dairy Market.
Este é também um segmento que agrega valor aos produtos, gerando maior rentabilidade para os produtores, principalmente em meio à crise do preço do leite.
Para entender mais sobre as características deste segmento, conversamos com Claudinei Saldanha Junior, coordenador da comissão de leite orgânico da Abraleite (Associação de Produtores de Leite).
O que é leite orgânico?
Para que seja orgânico, qualquer produto de origem animal, inclusive o leite, é um produto que passa por uma certificação, que considera diversos pontos do sistema de produção que buscam uma exploração economicamente viável, ecologicamente correta e socialmente justa.
Segundo o coordenador da Abraleite, a base do leite orgânico é a sua produção sem qualquer tipo de agroquímico, tais como pesticidas e herbicidas. “Para certificar a produção de leite orgânico, a dieta das vacas (pastagens, silagens etc.) não pode ter nenhum destes produtos químicos”, salienta.
Os animais também não podem ser tratados com antibióticos e hormônios. “Na produção de leite orgânicos, para o controle de carrapatos e de casos de mastite, as vacas recebem medidas preventivas, especialmente por meio da homeopatia”, complementa Saldanha.
O coordenador da Abraleite explica também que a Portaria 52 deixa claro que o bem-estar das vacas deve sempre estar em primeiro lugar. Saldanha dá um exemplo:
“Se o animal estiver correndo risco de vida e necessitar de um antibiótico, o medicamento poderá ser administrado (no máximo 2 vezes ao ano), porém, o leite será descartado em um volume dobrado do que indica a bula!”
Em resumo, algumas das premissas da produção do leite orgânico são:
- Animais que tem uma dieta livre de fertilizantes químicos e agrotóxicos;
- Ausência de transgênicos na alimentação;
- Instalações adequadas para total conforto e bem-estar dos animais;
- Uso de homeopatia, fitoterapia e acupuntura, como tratamento veterinário.
Importante destacar também que a produção de leite orgânico deve respeitar o programa de vacinação obrigatório estabelecido por lei.
Benefícios do leite orgânico
Diante da pressão mundial para controlar os efeitos do aquecimento global, o consumidor começa a entender que tem que fazer a sua parte para “salvar o planeta”.
Com isso, Claudinei Saldanha explica que é crescente o número de consumidores que passam a procurar consumir alimentos que não agridem o meio ambiente. “Ao tomar a decisão de consumir leite orgânico, ele naturalmente está dando sua pequena parcela de contribuição para um mundo melhor”.
O coordenador da comissão de leite orgânico da Abraleite destaca que uma fazenda orgânica é guiada por muitos processos sustentáveis, desde a coleta seletiva de lixo à análise de água.
“Essas são práticas que minimizam o impacto da produção leiteira, tornando-a muito mais perto das métricas ESG”.
Outro benefício importante do leite orgânico é a qualidade do produto. “Todo leite orgânico é livre de qualquer resíduo de agrotóxicos e de medicamentos, aumentando sua qualidade para consumo”, destaca Saldanha.
Além disso, a composição do leite orgânico se assemelha muito ao leite convencional. Mas um destaque é o betacaroteno. Este é um elemento benéfico para a saúde humana e possui uma concentração muito maior quando produzido em fazendas orgânicas.
Dicas e recomendações para iniciar a produção de leite orgânico
Se você é um produtor de leite convencional e quer investir na produção de leite orgânico, é necessário fazer uma conversão do seu sistema produtivo.
Inicialmente, Saldanha afirma que é preciso criar um marco zero na propriedade. “Neste marco é interrompida qualquer tipo de adubação química, agrotóxicos e produtos transgênicos”.
O coordenador da comissão de leite orgânico da Abraleite explica que esse processo dura em torno de 18 meses, sendo então obtida a certificação e o acesso ao selo de orgânico.
“Cerca de 12 meses são destinados à conversão das pastagens e desintoxicação da terra. A conversão dos animais é feita em 6 meses com a utilização de alimentação parcialmente orgânica”.
Nesse caso, é permitido apenas 15% da ingestão de matéria seca de alimentos convencionais, mas que não sejam provenientes de transgênicos.
Vale destacar que a certificação da produção do leite orgânico é realizada sempre por empresas idôneas que são credenciadas pelo MAPA. Essa medida assegura que os produtores cumpram os requisitos estabelecidos na legislação, com monitoramento por auditorias anuais.
Isso garante que o produto final não seja fraudado e o consumidor, enganado. Impede também que grandes empresas internacionais se apropriaram do termo orgânico, mas que produzem leite pelos sistemas convencionais.
No Brasil, o leite orgânico certificado é facilmente identificado pelo selo em seu rótulo. Isso garante ao consumidor que esse produto foi obtido dentro dos padrões da agricultura orgânica e ao produtor o status de produtor orgânico.