Foto: Álvaro Vilela de Resende, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo.
O milho é a segunda maior cultura de importância na produção agrícola no Brasil, sendo superado apenas pela soja que lidera a produção de grãos no País. A safra 2019/2020 brasileira fechou com uma produção de 101 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
Porém, produtores de milho convivem com desafios relacionados à qualidade do solo, isso porque a maioria dos solos brasileiros apresenta baixa fertilidade natural, com condições de acidez que limitam a expressão do potencial produtivo das cultivares de milho, utilizadas pelos agricultores.
Vale ressaltar que o milho é classificado como sendo de tolerância mediana às condições de acidez e toxidez de alumínio, exigindo para isso a adoção de manejos que visem corrigir o solo para cultivo de milho.
Por isso, contamos com a participação do pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Álvaro Vilela de Resende, para entender mais sobre a acidez do solo e as dicas para corrigir esse problema.
Acidez do solo: quais as consequências para o milho?
O processo de acidez do solo vem ocorrendo há séculos. Mas, de forma simplificada, Resende explica que, durante o longo processo de intemperismo que levou à formação dos solos brasileiros, o substrato derivado das rochas foi perdendo os elementos de caráter básico (Ca, Mg e K), permanecendo presente o alumínio (Al).
“Este, além de expressar caráter ácido, foi contribuindo para a redução do pH do solo, provocando toxidez às culturas em geral. Quanto maior a saturação por Al no solo, maior a dificuldade para as plantas desenvolverem raízes e explorar o perfil para absorção de nutrientes e água”, complementa o pesquisador.
Portanto, a acidez do solo pode envolver a combinação de três problemas:
- pH em água menor que 5,5;
- Deficiência de Ca e/ou Mg; e
- Toxidez por Al.
Nas condições mais críticas destes problemas, o desenvolvimento da cultura fica totalmente comprometido, como visto na figura abaixo que representa uma área experimental na Embrapa Cerrados que apresenta elevada acidez do solo.
O pesquisador explica também que, na prática, os produtores têm que lidar com acidez mais acentuada nos primeiros anos após a abertura de área ou a conversão de pastagem degradada em lavoura, sobretudo na região do Cerrado.
Mas, ele ressalta que as áreas consolidadas de cultivo, que já receberam aplicações de corretivos, também estão sujeitas à reacidificação. “Qualquer lavoura tende a apresentar algum grau de acidez no solo, e o desafio é manter um processo contínuo de diagnóstico e medidas de controle”, recomenda.
Principais erros relacionados à correção do solo: como evitá-los?
O milho, assim como a maioria das culturas anuais, se desenvolve melhor quando o pH em água está acima de 5,5. “A partir desse valor de pH, geralmente, o problema de toxidez por alumínio já está resolvido”, indica Resende. Além disso, o solo deve também apresentar teores adequados de Ca e Mg.
Entretanto, o pesquisador salienta que no anseio de alcançar esse pH, muitos produtores cometem alguns erros, caso da não reaplicação de calcário depois de determinado período de tempo. “É comum o produtor aplicar calcário uma vez e passar muito tempo sem uma reaplicação”, indica.
Ainda segundo o pesquisador, a calagem com incorporação bem-feita (uso de aração e gradagem) pode ser suficiente para controlar a acidez por até três anos ou mais. Porém, quanto mais intensivo for o cultivo da área, mais curto será o efeito residual da calagem.
Nesse caso, a recomendação do pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo é a adoção de um trabalho de monitoramento com amostragem e análise mais frequente do solo.
“No plantio direto esse monitoramento deve ser ainda mais criterioso, pois como não é mais possível incorporar corretivos (ausência de preparo do solo) e o calcário distribuído na superfície do solo demora mais a reagir e ter efeito em profundidade no perfil, pode-se dizer que o controle da acidez deve ser preventivo”, ressalta.
Assim, o pesquisador recomenda que o solo sob plantio direto deve receber aplicações periódicas de calcário para que, ao longo do tempo, vá ocorrendo a reação e o aprofundamento da frente de alcalinização, de modo a manter a camada de 0-20 cm devidamente corrigida. Já o gesso apresenta maior mobilidade no perfil e atua na melhoria do ambiente radicular em subsuperfície.
Outro cuidado importante é calcular a quantidade de calcário ou de gesso a aplicar segundo os métodos mais utilizados na região e conforme os indicadores da análise do solo. “Dosagens sub ou superestimadas podem resultar em baixa eficiência técnica e econômica”, comenta Resende.
Resende ressalta também que a distribuição uniforme de corretivos não é uma tarefa fácil. “Como quase sempre esses materiais são finos e há produção de muito pó, equipamentos mal regulados ou a ocorrência de vento forte durante a aplicação podem por a perder todo o esforço do produtor para homogeneizar a lavoura num nível ideal de controle da acidez”.
E o pesquisador finaliza: “Embora muitas vezes passem despercebidos, problemas dessa natureza reduzem a produtividade global do talhão, sendo importantes os cuidados para minimizar essas falhas quando se busca o condicionamento de ambientes de alto potencial produtivo”.
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