Dia após dia, o agricultor precisa enfrentar muitos desafios e preocupações e, no atual contexto, o maior deles está relacionado à elevação do custo de produção dos alimentos

Prova disso é o Índice de Preços de Alimentos da FAO, que em março de 2022 mostrou 159,3 pontos, um aumento de 17,9 pontos (12,6%) em relação a fevereiro, dando um salto gigantesco para um novo nível mais alto desde seu início em 1990. 

Quais fatores estão relacionados com o aumento no custo de produção dos alimentos?

A alta do dólar, a inflação crescente, a elevação do preço dos combustíveis e os conflitos internacionais armados são grandes causadores do aumento no custo de produção dos alimentos. 

Estas questões também são causas dos elevados gastos com insumos que produtores vêm tendo nos últimos meses. Dados da CNA mostram que, de janeiro de 2020 a março de 2022, os preços nominais dos principais fertilizantes tiveram alta de 288%. Já os preços da soja, milho e trigo aumentaram 110%. 

Todo esse cenário mostra que as margens do produtor se retraem mês a mês. Tal fato vem exigindo a adoção de estratégias de gestão e controle de custos de produção

Para entender mais sobre esse desafio, conversamos com Tiago Pereira, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Ele cita algumas estratégias e dicas para melhor enfrentar o cenário de alta no custo de produção dos alimentos. Acompanhe!

Alta no custo dos alimentos

Todo produtor precisa investir na melhoria da gestão de seus custos

Não há outra opção. Realizar a gestão de custos é a estratégia mais eficiente para enfrentar a alta no custo de produção de alimentos. 

“Por meio da gestão de custos o produtor terá condição de avaliar os fatores de produção que comprometem em maior eficiência do seu sistema de produção. Por outro lado, é também a análise detalhada do custo que indicará eventuais gastos passíveis de serem reduzidos”, salienta Tiago Pereira. 

Exatamente por isso, há anos o Sistema CNA/Senar, por meio do Projeto Campo Futuro e da Assistência Técnica e Gerencial, busca meios de difundir a administração econômica e financeira dos empreendimentos. “Diante da alta dos custos de produção, a administração dos empreendimentos é sempre importante”, complementa Pereira. 

Além do mais, alterações do manejo podem ser alternativas para redução de custo e a tomada de decisão de quais práticas devem ser usadas. 

Porém, essas alterações devem ser sempre acompanhadas de assistência técnica, para que seja a mais adequada e assertiva para a realidade específica de cada produtor. 

Quais práticas ajudam o produtor a lidar com a alta no custo de produção dos alimentos?

Dentre as práticas já consolidadas, o assessor técnico da CNA cita: 

  1. Análise de solo: “Essa é uma forma de mensurar o nível de fertilidade, a necessidade de correção e suplementação nutricional adequada àquela realidade de solo e cultura”, diz Pereira; 
  2. Manejo Integrado de Pragas, Doenças e Plantas Daninhas (MIPD): esse tipo de manejo indicará o nível de infestação e de dano econômico a ser considerado no controle, além de sugerir o uso de diferentes métodos que vão desde o controle físico até o controle biológico de pragas, doenças e plantas daninhas; 
  3. Acompanhamento próximo das condições de ambiente: junto a esse acompanhamento, é importante também haver uma avaliação da necessidade e importância da irrigação de precisão para a cultura em questão; 
  4. Organização para compra coletiva de insumos e ampliação do poder de barganha.

 

Adote estratégias para mitigação dos riscos associados ao custo de produção

Outra excelente dica para contornar a elevação do custo de produção dos alimentos é adotar estratégias para mitigar os riscos relacionados a essa situação. Para isso, Tiago Pereira sugere que o produtor rural deve: 

  • Acompanhar as tendências de mercado, tanto para compra de insumos quanto para a venda da produção; 
  • Conhecer o custo de produção. 

Segundo o assessor técnico do CNA, o comportamento sazonal dos preços já auxilia muito na mitigação dos riscos associados ao mercado. “Esse comportamento sazonal permite uma tomada de decisão mais assertiva do momento de compra e venda da produção”, diz. 

Para algumas culturas, instrumentos de hedge (estratégias de proteção dos investimentos) já se encontram disponíveis no mercado, como as opções privadas de venda, os contratos de venda futura, bem como contratos e operações de barter — que se balizam na troca de insumos por produto. 

Importante ressaltar que a decisão dos volumes e preços de compra de insumos e venda da produção, a serem considerados nas operações, devem ser coerentes com a realidade de custo. “O produtor deve garantir que as receitas cubram os custos operacionais e as margens sejam protegidas”, completa Pereira. 

Da mesma forma, outros instrumentos podem ser utilizados na mitigação de risco. Este é o caso dos produtos de seguro de faturamento, que associam na cobertura os riscos climáticos e de mercado.

Agricultor

Diversificação: mais uma opção para lidar com o custo de produção

Por fim, diversificar os sistemas de produção é, sempre que possível, mais uma recomendação para lidar com a alta do custo de produção dos alimentos. 

Para Tiago Pereira, diversificar fontes de renda é sempre uma alternativa a ser considerada dentro do processo de gestão ao passo que, normalmente, picos e vales de preço não ocorrem para todos os produtos agropecuários. 

“No processo de gestão da propriedade como um todo, a diversificação pode garantir que em momentos distintos uma atividade venha suprir o déficit financeiro deixado por outra, garantindo assim maior sustentabilidade econômica”, analisa. 

A tomada de decisão em prol da diversificação dos produtos deve considerar alguns fatores importantes:

  1. As condições de ambiente da propriedade e sua coerência com a cultura em potencial; 
  2. A existência de mercado demandante para o produto; 
  3. A possibilidade de agregação de valor e atendimento de nichos que valorizam o produto a ser inserido; 
  4. O potencial de rotação com outros cultivos e melhoria das condições de solo e sustentabilidade do ambiente de produção; e 
  5. Viabilidade de aproveitamento de máquinas, equipamento e know-how das culturas já praticadas na propriedade. 

 

CNA entrega proposta com pontos prioritários para a safra 2022/2023

Com o objetivo de ajudar o produtor a lidar com os últimos aumentos dos custos de produção, a Confederação Nacional de Agricultura (CNA) entregou, no dia 17 de maio, ao Ministério da Agricultura (Mapa) e à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) as propostas do setor para contribuir com o governo na construção do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2022/2023. 

O documento entregue apresentava 10 pontos prioritários para a próxima safra. Nele, a CNA pede mais recursos para ampliar a produção com o objetivo de garantir a segurança alimentar, gerar emprego, reduzir a pressão inflacionária sobre os alimentos e aumentar as exportações e o Produto Interno Bruto (PIB). 

Na construção do documento, a CNA avaliou o cenário atual e os desafios no curto e longo prazo, diante da insuficiência de recursos orçamentários, elevação dos custos de produção, falta de insumos no país, e perdas de produção e receita decorrentes de problemas climáticos, além das altas consecutivas na Taxa Selic. 

Com esse documento, a CNA mostra que está ao lado do produtor diante do desafiador momento de elevação do custo de produção dos alimentos no país. 

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