Já faz certo tempo que o Brasil vem se consolidando como uma potência na produção e exportação de carne bovina no âmbito mundial. Possuímos o maior rebanho comercial do mundo, com 219 milhões de cabeças (13,4% do rebanho mundial). Mas, para continuarmos protagonistas, precisamos acompanhar a inclinação do mercado quanto ao uso de aditivos naturais na nutrição bovina.

Essa inclinação se faz importante pois somos continuamente criticados por emitir quantidades significativas de gases de efeito estufa, tais como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O).

Por isso, o uso de aditivos naturais na nutrição bovina vem sendo motivo de diversas pesquisas, pois tende a agregar maior sustentabilidade à atividade, além de acompanhar os preceitos da bovinocultura mundial.

Saiba mais sobre o uso de aditivos naturais na nutrição bovina, seus tipos mais comuns e os benefícios que eles trazem para a sustentabilidade dentro da pecuária.

Principais aditivos naturais utilizados na nutrição animal

Com o objetivo de tornar a nutrição animal a mais sustentável possível, diversos aditivos naturais vêm sendo estudados como substituição aos aditivos sintéticos, tais como prebióticos, probióticos, leveduras, ácidos orgânicos, óleos e extratos de plantas.

Entre os aditivos naturais mais estudados pode-se citar aqueles caracterizados como óleos, como citronela, anis estrelado, cravo botão, gengibre, orégano, tomilho, entre muitos outros.

Nos últimos anos, um número crescente de pesquisas publicadas vem demonstrando que essas substâncias possuem efeito flavorizante, estimulante da secreção enzimática, além de ter atividade antimicrobiana e antioxidante de substâncias isoladas ou em misturas de compostos.

Tomilho e Orégano: resultados expressivos na nutrição bovina

Uma das pesquisas conduzidas apresentou resultados bastante expressivos e foi realizada pela zootecnista e pesquisadora Gabriela Benetel, na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) ligada à USP.

Na pesquisa defendida como sua tese de doutorado, Gabriela indicou que, dentre 10 tipos de aditivos naturais utilizados, o orégano e o tomilho tiveram os melhores resultados, podendo ganhar uma nova funcionalidade, que vai além de apenas proporcionar sabor a diversos pratos do mundo todo.

Em minha pesquisa, utilizei dez diferentes óleos essenciais, mas os melhores resultados associados aos menores índices de produção de gás metano estiveram associados ao tomilho e ao orégano”, diz Gabriela.

Os experimentos com os animais foram feitos a partir da análise de amostras obtidas na cavidade do rúmen, a região abdominal onde o bolo alimentar sofre fermentação pela ação de bactérias, protozoários e fungos e também há a produção de grande quantidade de gases, entre eles o metano.

Nas análises in vitro, Gabriela indica que com o uso desses óleos essenciais houve cerca de 75% de redução da produção de gases acumulados em condições ruminais, ou seja, em situação semelhante ao que aconteceria com o animal em seu processo digestivo.

Os óleos essenciais são potenciais aditivos naturais para seus usos na nutrição bovina pois apresentam propriedades antibacterianas, antifúngicas e antioxidantes, melhorando a qualidade da digestão animal e favorecendo a fermentação”, diz a pesquisadora.

Uso de aditivos naturais: Ganhos ambientais e econômicos

Segundo a zootecnista, os resultados da pesquisa são importantes no debate de assuntos de impacto ambiental e atividade pecuária.

Diversos estudos mostram que o uso de antibióticos também se faz eficaz para diminuir gases produzidos pelos ruminantes, porém, as exigências do mercado internacional de exportação de carne são rigorosas e primam por uma carne produzida com menos interferências do gênero possível, inviabilizando, por vezes, tais antibióticos”, diz Gabriela.

Segundo ela, a preocupação de mercados consumidores é que haja resíduos no leite e na carne, além de maiores probabilidades de resistência bacteriana aos antibióticos usados pelos humanos.

Por isso o uso destes aditivos naturais pode ter efeito semelhante ao que antibióticos ou outros produtos sintéticos na nutrição bovina, com a vantagem de não trazer problemas com a exportação da carne para aqueles mercados mais exigentes.

Tal pesquisa pode representar um ganho significativo em competitividade da carne brasileira, além de confiança do mercado internacional sobre a qualidade da nossa carne, aliada à preocupação para com o meio ambiente na criação dos animais.

Portanto, a tendência é que as pesquisas sobre aditivos naturais na nutrição bovina continuem para que analisemos novos tipos naturais de aditivos na alimentação de nossos animais.