A 9ª edição do Congresso Nacional das Mulheres do Agro teve início nesta quarta (23), em São Paulo. Com o tema “Mulher Agro Brasileira: Voz para o Mundo”, o evento tem como objetivo posicionar-se como um mensageiro para o mundo utilizando a força da voz da mulher para expandir a visão global sobre o agronegócio brasileiro e ajudar a criar uma percepção justa do setor.

A mesa redonda de abertura contou com a moderação de Roberto Rodrigues, embaixador especial da FAO para as cooperativas. O painel ainda teve a presença dos convidados: Ana Repezza, Diretora de Negócios da ApexBrasil; Carolina Aquino de Sá, Chefe da Coordenação-Geral de Gestão dos Adidos Agrícolas; Caroline Barcellos, Presidente da Aprosoja Tocantins; Maria Claudia Souza, Diretora Sênior de Assuntos Corporativos e Governamentais na Mondelēz Brasil; Paulo Sousa, Presidente da Cargill no Brasil; e, Silvia Masshurá, Presidente da Embrapa.

O Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, também marcou presença durante a programação e defendeu a expansão do agro brasileiro para o mundo. Confira a seguir mais detalhes desse debate.

Abertura de 265 Mercados

“As mulheres brasileiras podem e devem ser o que elas quiserem”, assim o ministro abriu sua fala.

Fávaro comentou sobre um evento recente que participou sobre fruticultura. O ministro trouxe o exemplo da cidade de Petrolina que, antes região inóspita, conseguiu desenvolver-se e tornou-se uma região de prosperidade para esta cultura. “Conto essa história pata compartilhar um negócio: quer montar uma empresa de fruticultura? Para ter sucesso, precisa da presença feminina, a sensibilidade é fundamental na produção. Se quiser fracassar, tenha apenas homens”, afirma.

O Ministro da Agricultura e Pecuária também explicou sobre o contexto histórico dos países após a 2ª Guerra Mundial e sua constante busca por suas vocações. Um dos exemplos citados foi a Coreia do Sul, que investiu em produção de eletrônicos. “Hoje quem não tem um equipamento produzido na Coreia do Sul? Está em tudo que usamos hoje, é belo de exemplo de um país que se reinventou”, comenta.

Fávaro destacou que a vocação do Brasil está na produção de alimentos, que vem sendo intensificada pela ciência, principalmente pelo trabalho de pesquisa da Embrapa e empresas parceiras. “O Brasil vai continuar intensificando a produção, isso é o grande ativo do Brasil, garantindo a perpetuação dessa vocação”, explicou. O Ministro ainda destacou o excelente programa de sanidade animal no Brasil, garantindo processos eficientes, sem doenças e atendendo à demanda global.

Carlos Fávaro explicou sobre os programas de recuperação de pastagens, que tem como objetivo dobrar a produção brasileira sem derrubar novas áreas e garantindo os processos de sustentabilidade. Com o compromisso de continuar sendo protagonista no cenário global, o Brasil tem investido fortemente na recuperação de pastagens degradadas. Atualmente, há 90 milhões de hectares de pastagens em estado de degradação no País, sendo 40 milhões com alto potencial de recuperação. O Programa Nacional de Recuperação de Pastagens Degradadas, lançado pelo governo federal, oferece linhas de crédito com juros baixos, dois anos de carência e 10 anos para pagamento. Em 2023, foram destinados R$ 7 bilhões para o Plano Safra e mais R$ 7 bilhões este ano. Em janeiro, a captação de recursos internacionais somou US$ 1,350 bilhões, com juros ainda mais baixos, de 6,5% ao ano. Esse esforço já está gerando resultados, com 1,5 milhão de hectares convertidos para a produção em 2024, indicando o rumo de uma agropecuária sustentável e promissora.

Para finalizar, o Ministro destacou um cenário animador sobre a abertura de novos mercados ao longo dos últimos 20 meses. “Abrimos 265 novos mercados, é um recorde. Abrimos o mercado de algodão para o Egito, pena de ganso para o Oriente Médio, e, vamos aproveitar todas as culturas, teremos novos anúncios em breve, na fruticultura, etanol de milho e todo potencial de sustentabilidade do Brasil”, finaliza.

Mulher Agro Brasileira: Voz para o Mundo

Roberto Rodrigues abriu o debate da mesa explicando o cenário mundial: “em termos planetários, estamos vivendo uma confusão muito grande, fundamentalmente porque as organizações perderam protagonismo, isso resulta em falta de projetos que promovem harmonia e projetos equilibrados e igualitários para todo mundo”, comenta.

De acordo com o embaixador especial da FAO para as cooperativas, o mundo está sendo assolado por 4 fantasmas que precisam de soluções urgentes: Insegurança alimentar, transição energética, mudanças climáticas e desigualdade social. Ele ainda explica que, para superar esses fantasmas, existem alguns passos cruciais através do agro, e, que Brasil tem papel fundamental e destaque, porque tem modelos de produção que podem ser replicados em todo mundo.

Para enriquecer a discussão, Rodrigues abriu espaço para que os demais palestrantes pudessem comentar sobre esses fantasmas e as iniciativas promovidas por cada um.

Silvia Masshurá

A presidente da Embrapa iniciou comentando que estava muito emocionada por participar do Congresso pela primeira vez como Presidente.

Silva conta que a Embrapa enfrenta desafios há mais de 50 anos, e, a parceria com produtores rurais para desenvolvimento dos projetos de pesquisa foi fundamental.

Masshurá destaca que o um dos grandes desafios do ponto de vista da ciência para segurança alimentar diz respeito a uma mudança: “Antes, pensávamos apenas em como melhorar o solo, passados 50 anos, trabalhamos tão bem com os produtores, parceria público-privadas, estamos num momento da agricultura multifuncional, já avançamos muito e precisamos pegar as lições aprendidas e ver o que podemos melhorar”, comenta.

A presidente também reforça que a comunicação é dos pontos fundamentais para espalhar o agro e todos os projetos de sustentabilidade e elencou alguns passos importantes:

– Utilizar dados e métricas para evidenciar a sustentabilidade. “Precisamos dos indicadores para comprovar que estamos fazendo correto”, explica;

– Pensar no comportamento dos novos consumidores que trazem cada vez mais preocupações, por isso, aplicar rastreabilidade, aspectos sociais e ações preventivas. “Precisamos de uma visão mais sistêmica da ciência”, afirma.

– Promover discussão desses temas e apoiar as mulheres. “A Embrapa possui observatório, inclusive o observatório das mulheres rurais, que ajuda a subsidiar políticas públicas para pecuária e desenvolver caravanas para divulgar tecnologia e mulheres empreendedoras”, finaliza.

Ana Repezza

A Diretora de Negócios da ApexBrasil explicou seu trabalho com a promoção das exportações brasileiras e como conseguiu avançar passos para desenvolvimento da igualdade.

Devido ao fato de que apenas 14% das empresas de exportação tinham líderes mulheres, a Apex criou um programa voltado para as mulheres que querem iniciar na exportação e para as mulheres que já exportam, mas querem atingir novos mercados. A empresa também conta com um programa de mentoria para mulheres que ainda não estão seguras com as competências necessárias para exportação, desde as técnicas, até as socioemocionais.

Carolina Aquino de Sá

A Chefe da Coordenação-Geral de Gestão dos Adidos Agrícolas dividiu a evolução das adidâncias agrícolas e a expansão do agro brasileiro.

Carolina explicou que, em mais de 20 anos de negociação, hoje, contamos com mais de 40 adidâncias e algumas em preparação, o que é fundamental para países que são grandes potências. “O Brasil é um parceiro estratégico para segurança alimentar, agrícola e energética”, explica.

Caroline Barcellos

A Presidente da Aprosoja Tocantins também explicou que a diretoria executiva da instituição conta com 50% de mulheres e comentou sobre a importância da comunicação para garantir processos de sustentabilidade e segurança.

“Tem sido desafiador produzir no Brasil. Nós tentamos dar voz ao produtor de soja, comunicando da melhor forma possível que temos um modelo de agro sustentável e que respeita o código florestal, para nos manter na cadeia produtiva. E a mulher, cada vez mais inserida em sua fazenda, está trazendo mais gestão e olhar humanizado”, comenta.

Maria Claudia Souza

A Diretora Sênior de Assuntos Corporativos e Governamentais na Mondelēz Brasil explicou sobre a grande parceria entre o agronegócio e a indústria da transformação de alimentos, afinal, a indústria de alimentos compra aproximadamente 70% de todos os alimentos produzidos pelo agro.

Adicionando mais um fator na explicação de Roberto Rodrigues, Souza comentou que esses dois segmentos padecem de mais um fantasma: a desinformação.

“Apostamos numa coisa que depende das forças da natureza para alimentar as pessoas. Mas ao longo dos anos, sofremos com muita fake news, precisamos nos juntar e não aceitar mais isso”, afirma.

Paulo Sousa

O Presidente da Cargill no Brasil reforçou a fala de Maria Claudia, explicando que o agro tem a responsabilidade de combater esses fantasmas. Ele reforçou que, apesar da relevância do agronegócio, a indústria de alimentos também desempenha um papel central na economia do País.

“Muitos dos produtos consumidos pela plateia, como óleo de cozinha e produtos à base de tomate e chocolate, estão relacionados à Cargill, que atua fortemente na comercialização e na fabricação de alimentos. Presente no Brasil há quase 60 anos, a Cargill está em 60 países e é atualmente a nona maior empresa do País em termos de faturamento”, comentou Sousa. “Nesse cenário, a empresa tem grande responsabilidade em relação aos desafios globais, mencionados por Roberto Rodrigues, e como o Brasil está preparado para suprir a crescente demanda mundial por alimentos, principalmente em regiões como o Sudeste Asiático”, finaliza.