A transição energética chegou ao campo. Cada vez mais propriedades rurais têm buscado alternativas aos modelos tradicionais de fornecimento de energia, impulsionadas por três fatores principais: o alto custo das tarifas convencionais, a necessidade de autossuficiência para manter a produtividade e o crescente apelo da sustentabilidade nos mercados nacional e internacional.

Segundo estudo da FGV, o agronegócio brasileiro já responde por cerca de 29% de toda a energia renovável produzida no país, demonstrando o protagonismo do setor nesse movimento. Para produtores que desejam aumentar sua eficiência energética, reduzir custos operacionais e agregar valor à produção, investir em fontes renováveis deixou de ser uma tendência e passou a ser uma estratégia viável e acessível.

Energia solar no campo: da tendência à realidade

Entre as fontes de energia renovável, a energia solar fotovoltaica é, sem dúvida, a que mais cresceu nos últimos anos no meio rural. Seu apelo está na possibilidade de gerar a própria energia elétrica, reduzindo drasticamente a conta de luz — especialmente em sistemas que demandam irrigação, climatização de instalações ou processamento de alimentos.

Existem dois principais modelos de implementação:

  • On-grid: conectado à rede pública, com compensação de créditos de energia.
  • Off-grid: sistema isolado, com baterias para armazenar energia em locais sem acesso à rede.

Para produtores com orçamento mais apertado, há linhas específicas de financiamento rural — como o Pronaf Eco e programas estaduais — que facilitam a aquisição dos sistemas. Além disso, o uso da energia solar pode ir além do abastecimento elétrico, como os sistemas agrofotovoltaicos, que combinam geração de energia com cultivo agrícola na mesma área.

Biomassa: transformar resíduos em energia

Outra alternativa cada vez mais explorada é o uso da biomassa, especialmente a partir de resíduos agrícolas abundantes no Brasil — como bagaço de cana-de-açúcar, casca de arroz, palha de milho, resíduos de madeira e até dejetos animais.

Com o uso de tecnologias como:

  • Biodigestores (produção de biogás).
  • Gaseificação (transformação térmica da biomassa em gás combustível).
  • Combustão direta (queima para gerar calor ou energia elétrica).

Atualmente, já é possível aproveitar subprodutos que antes eram descartados para gerar energia térmica ou elétrica dentro da propriedade.

A experiência com o biocarvão de bagaço de caju, já relatada no canal, exemplifica como o aproveitamento de resíduos pode reduzir emissões e aumentar a rentabilidade. Leia mais em: Redução de carbono com biocarvão de bagaço de caju

Novos modelos: híbridos, microrredes e cooperativas

A realidade do campo brasileiro é diversa. Em algumas regiões, a conexão com a rede elétrica ainda é instável ou inexistente. Em outras, há excedente de produção energética que poderia ser compartilhado. Por isso, vêm ganhando espaço soluções como:

  • Sistemas híbridos (solar + biomassa, por exemplo), que aumentam a estabilidade energética;
  • Microrredes rurais, que conectam várias propriedades a uma fonte comum;
  • Cooperativas de energia renovável, que permitem o compartilhamento de geração e redução de custos em comunidades rurais;
  • Armazenamento com baterias inteligentes, especialmente em regiões isoladas.

Essas soluções abrem caminho para uma geração distribuída, com menos dependência das grandes distribuidoras e mais autonomia para o produtor.

Benefícios econômicos e ambientais para o produtor

Além da redução na conta de energia, adotar fontes renováveis no campo traz uma série de vantagens de médio e longo prazo:

  • Corte de custos operacionais
  • Valorização da propriedade rural
  • Acesso a mercados que priorizam práticas sustentáveis
  • Possibilidade de gerar créditos de carbono, monetizando a redução de emissões
  • Conformidade com exigências ambientais e certificações

Esse movimento também contribui diretamente para que o Brasil avance nas suas metas climáticas internacionais, com o agronegócio como agente ativo na transição para uma economia de baixo carbono.

Desafios e o que vem pela frente

Apesar dos avanços, ainda existem barreiras que precisam ser superadas:

  • Burocracia na regulamentação da geração distribuída
  • Falta de conhecimento técnico em propriedades menores
  • Custo inicial elevado em algumas regiões
  • Carência de assistência técnica especializada

A capacitação de produtores e técnicos, aliada ao fortalecimento de políticas públicas, será essencial para ampliar a adoção em larga escala. A COP30, que acontecerá no Brasil, pode acelerar esse processo ao colocar a sustentabilidade do campo brasileiro no centro das atenções globais.

A transição energética já está acontecendo no campo — e o produtor que se antecipa sai na frente. Com planejamento, acesso à informação e investimento correto, é possível tornar a propriedade mais eficiente, sustentável e competitiva. O agronegócio brasileiro tem tudo para liderar essa revolução, aliando produtividade com responsabilidade ambiental.

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