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Processo de sucessão familiar no agronegócio: saiba como fazer

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Comum para empresas do agronegócio, o processo de sucessão familiar é bastante desafiador, mas altamente necessário para a continuidade da atividade.

À frente de empresas do agronegócio de sucesso, há sempre grandes líderes. Mas, quando a empresa é familiar, um dia esse líder terá que passar o bastão para seus filhos em um processo de sucessão familiar.

Porém, a transição de propriedades rurais e empresas agrícolas de líderes para seus herdeiros representa um desafio bastante complexo, com uma série de obstáculos que precisam ser superados para garantir a prosperidade do empreendimento familiar.

Por essa razão, a equipe da Agrishow Digital conversou com Hugo Monteiro da Cunha Cardoso, Professor de gestão rural e Consultor de Empresas Familiares no Agro, para falar sobre as melhores práticas para superar desafios e tornar o processo de sucessão familiar o mais natural possível.

Processo de sucessão familiar: desafiador, mas altamente necessário

Relativamente comum em empresas do agronegócio, a sucessão familiar é o processo de transferência das responsabilidades do proprietário da fazenda para o sucessor da família, geralmente o(s) herdeiro(s).

Para o agronegócio ou em qualquer outro ramo, a sucessão familiar é, segundo Hugo Monteiro, um grande desafio e, por vezes, gera uma certa confusão. 

Quando se fala em sucessão, muitas vezes pensamos apenas na passagem do patrimônio dos pais aos filhos, seja em vida ou através do inventário, após o falecimento. Isso, de fato, chama-se sucessão patrimonial”, destaca. 

No entanto, quando falamos de empresas familiares, o consultor ressalta que há três âmbitos que precisam estar organizados: a família, o patrimônio e a gestão do negócio.  

Quanto mais separados esses âmbitos, mais profissional é a empresa e, por conseguinte, maior é a chance de se manter viva por mais gerações”, complementa.

Daí, há outra conclusão bastante importante: todos os filhos serão herdeiros do patrimônio, mas nem todos estarão à frente do negócio, seja na gestão ou no campo. 

Segundo Monteiro, essa relação precisa estar muito bem clara e regrada. “Somente assim são evitados conflitos que possam inviabilizar a continuidade de uma empresa, interferindo também na harmonia da família, âmbito que temos o dever de preservar”.

90% das empresas brasileiras são familiares!

Seja no agro ou em qualquer outro setor, a sucessão familiar é imprescindível, mas nem sempre é bem conduzida. Para se ter uma ideia, no Brasil, 90% das empresas são familiares. Porém, as pesquisas mais otimistas constatam que apenas em torno de 10% conseguem chegar à terceira geração. 

Nessa mesma linha, pesquisas recentes da ABAG demonstraram que o segundo maior gargalo para a competitividade do setor é a gestão e governança no meio rural, atrás apenas da falta de infraestrutura do país. 

Isso corrobora com o pensamento do consultor de Empresas Familiares no Agro. “Antes de escolher ou preparar um sucessor, deve-se preparar a empresa para recebê-lo!”. 

Diante disso, o consultor destaca que é fundamental evoluir em gestão e governança, para então tirar o negócio “da cabeça do dono”, formalizando-o. 

Se o negócio está apenas nas mãos do dono, ele toma as decisões sem consultar ou comunicar ninguém. Quando ele partir, o negócio vai junto com ele”, destaca Hugo Monteiro. 

Para o consultor esse é o ponto central quanto à importância da sucessão familiar. Ele sugere inverter a pergunta, saindo do “para quem eu vou deixar?”, para “o que eu vou deixar para os meus filhos?”.

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Muitos desafios precisam ser superados

Como já relatado pelo consultor entrevistado pela Agrishow Digital, a sucessão familiar no agro é um processo complexo que envolve três etapas centrais:

  1. A transferência da gestão;
  2. A divisão dos rendimentos; e
  3. A transferência patrimonial.

E é nestes três pontos centrais que as dificuldades da sucessão familiar se fazem presentes na visão do especialista em sucessão familiar.

Ao longo de mais de uma década acompanhando famílias do agronegócio, percebi que, independentemente do tamanho da propriedade, da posição geográfica e de questões culturais, alguns são os problemas mais comuns e que estão presentes em todas elas”.

Dentre os principais desafios da sucessão familiar no agronegócio, Hugo Monteiro destaca:

  • Dificuldade de comunicação;
  • Falta de profissionalização da gestão;
  • Alinhamento de expectativas entre os membros familiares;
  • Compreensão de que existem diferenças entre as gerações;
  • Preparar sucessores, mas também os herdeiros;
  • Estimular a maturidade empresarial de toda a família;
  • Fazer com que os filhos se interessem genuinamente pelo negócio;
  • Preparar a empresa para o processo de sucessão, criando regras e cronograma de reuniões (governança);
  • Manter o negócio dentro do grupo familiar além da terceira geração.

Passo a passo para o sucesso do processo de sucessão familiar

Para deixar um negócio preparado para receber as próximas gerações, é necessário ter visão de longo prazo, antevendo possíveis conflitos enquanto eles ainda não existem. 

Também vale destacar que a sucessão familiar não tem uma fórmula pronta. É um processo gradativo, que visa a continuidade da empresa para as próximas gerações. 

Mas há a possibilidade de criar mecanismos que facilitem esse entendimento. Seguindo alguns passos e respeitando etapas, o processo pode ser mais natural, com uma maior chance de êxito.

Para Hugo Monteiro, algumas são as dicas que podem aumentar a chance sucesso do processo de sucessão familiar, levando a uma longevidade maior da empresa:

  • A propriedade precisa ser vista como uma empresa e o produtor como um empresário;
  • Lembrar que o melhor momento para começar a se falar de sucessão é quando todo mundo está se dando bem. Depois que um problema é instalado, é muito mais difícil se alcançar algum consenso;
  • Tirar o negócio da cabeça do dono: “é preciso realizar a gestão dos números do negócio, ter relatórios com informações úteis em mãos e comunicar os membros da família, nos momentos certos e de maneira assertiva”, sugere o consultor;
  • Estabelecer funções e remunerações adequadas com o papel desempenhado;
  • Acabar com o “caixa único” da fazenda e com o livre acesso. “O dinheiro da empresa é da empresa. O dinheiro dos sócios vem de acordo com o seu papel dentro da empresa. O salário é para quem trabalha e a distribuição de lucros é para quem é sócio!”, afirma;
  • Proporcionar um ambiente onde as diferentes gerações possam contribuir em harmonia para o negócio da família. Vale identificar os pontos comuns entre elas e os diferenciais que podem ser potencializados;
  • Aprimorar a comunicação, sendo necessário comunicar interna e externamente as ações;
  • Não levar problemas enfrentados no dia a dia do negócio para momentos de confraternização familiar, como festividades;
  • Evoluir na comunicação com o público externo. É preciso aproveitar as características das novas gerações, que são mais digitais, para comunicar de forma positiva a realidade da fazenda;
  • Criar reuniões onde participem os membros da família, de acordo com o papel desempenhado. Ex. Reuniões mensais com quem está no dia a dia do negócio, para decisões mais rápidas. Reuniões trimestrais com todos os sócios, incluindo os que não estão trabalhando, mas são sócios/herdeiros do patrimônio;
  • Criar um momento anual para integração de todos os membros com a realidade do negócio;
  • Criar regras, principalmente, para: Entrada de familiares na empresa, negócios paralelos, uso de bens comuns, despesas com saúde e instrução, funções, papéis, remunerações, distribuição de resultados, férias, responsabilidades familiares etc;
  • Sempre contar e reforçar a história da empresa familiar. “É preciso lembrar sempre do esforço dos fundadores e das gerações anteriores. Isso faz com que os valores e o legado sejam passados adiante e aumenta a chance de engajamento entre as gerações”, recomenda o consultor;
  • Não projetar em um ou mais filhos a obrigação de ser o sucessor, pois isso pode virar um fardo pesado;
  • Entender que ser sucessor não é uma obrigação. Ser sócio também não é. Logo, para se ter uma família empresária trabalhando junta, todos precisam estar engajados, com seus direitos e obrigações claros, com confiança mútua e objetivos comuns;
  • Entender a sucessão familiar como um longo processo, incluindo as novas gerações desde cedo, mas respeitando as etapas de vida e expectativas do indivíduo quanto ao negócio;
  • Colocar na cabeça que nenhum filho será igual aos pais, pois as gerações são diferentes. Todas elas têm seus pontos positivos e negativos, erros e acertos.

Por fim, vale reforçar que cada família, cada empresa e cada indivíduo são únicos. Eles têm suas dinâmicas, formatações e anseios totalmente particulares. Ou seja, não há uma receita ou fórmula mágica dentro do processo de sucessão familiar no agronegócio.

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