A safra 2025/26 de soja no Brasil promete ser histórica em volume, mas desafiadora em rentabilidade. Segundo o relatório “Radar Agro” da Consultoria Agro do Itaú BBA, o país deve atingir 175 milhões de toneladas, compensando a queda na produção americana e mantendo o equilíbrio global de oferta e demanda. No entanto, a taxa de câmbio e os efeitos da La Niña colocam pressão sobre os preços internos e as margens dos produtores.
Oferta global de soja
O balanço global de soja para 2025/26 aponta estoques estáveis, com leve redução na relação estoque/uso (de 30% para 29%). A produção mundial deve se manter em torno de 426 milhões de toneladas, com destaque para o Brasil, que lidera o crescimento. A safra americana, por outro lado, recua para 117 milhões de toneladas, enquanto a Argentina projeta 50 milhões, sob risco climático.
La Niña e clima no Brasil
Modelos climáticos indicam um episódio de La Niña de baixa intensidade, mas suficiente para alterar o regime de chuvas. O Sul da América do Sul pode enfrentar déficit hídrico, enquanto o Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil devem receber chuvas acima da média. Esse cenário favorece o avanço do plantio e o desenvolvimento da safra brasileira, mas impõe atenção à Argentina, cuja quebra de safra poderia impulsionar os preços na CBOT.
Câmbio e soja: projeções e impacto na rentabilidade
A projeção do Itaú BBA para o câmbio é de R$ 5,35/USD em 2025 e R$ 5,50/USD em 2026, com expectativa de valorização do real no curto prazo. Essa valorização, combinada com preços internacionais contidos, pode levar a soja abaixo de R$ 100/saca em Mato Grosso, especialmente em praças como Sorriso.
A margem operacional estimada para 2025/26 é de R$ 1.946/ha (31%), contra R$ 3.080/ha (44%) na safra anterior. O custo de produção foi formado com câmbio mais alto (entre R$ 5,60 e R$ 6,00/USD), o que agrava a deterioração da relação de troca.

Comercialização lenta e prêmios acima da média
Até agosto, apenas 20% da safra brasileira havia sido comercializada, abaixo da média histórica de 29%. Os prêmios de exportação estão acima da média dos últimos cinco anos, mas podem ceder com o avanço do plantio e a consolidação da safra recorde. A medida do governo argentino de zerar as retenciones até 31 de outubro também pode pressionar os prêmios brasileiros e as cotações na CBOT.
Fatores críticos para monitoramento
- Evolução da La Niña e impacto no clima argentino
- Negociações comerciais entre EUA e China
- Volatilidade cambial em 2026, com risco fiscal e reformas no radar
- Ritmo de comercialização da safra brasileira
- Prêmios de exportação nos portos brasileiros
Produtividade alta, rentabilidade incerta
O cenário base é de preços internacionais estáveis, com o Brasil sustentando o abastecimento global. No entanto, a rentabilidade do produtor dependerá da combinação entre clima, câmbio e dinâmica comercial. A gestão de risco e o monitoramento contínuo desses fatores serão essenciais para decisões estratégicas na safra 2025/26.
Fonte: Consultoria Agro do Itaú BBA
LEIA MAIS
Exportações do agro caem, mas soja e carne bovina garantem fôlego ao setor
Consórcio parcial de soja e capim: sistema antecipasto e seus benefícios