A intensificação da produção em Sistemas Integração Lavoura-Pecuária (ILP) é uma necessidade recorrente entre pecuaristas. Para isso, diversas estratégias podem ser adotadas. Uma delas é o antecipasto.
Basicamente, este é um sistema de consórcio de soja com forrageira em que o capim é semeado nas entrelinhas da soja, logo após a sua emergência.
Tal medida possibilita antecipar a formação de pastagem sem reduzir a produtividade da oleaginosa.
Segundo pesquisadores da Embrapa, idealizadora do projeto, o sistema foi validado recentemente e apresentou excelentes resultados. Seu DNA é “antecipar” processos, elevando os resultados da atividade.
O que é o sistema antecipasto?
O sistema antecipasto é uma técnica inovadora utilizada na integração lavoura-pecuária (ILP) que visa otimizar o uso da terra e aumentar a produtividade.
Nele, parte do período do plantio da forrageira ocorre em cultivo consorciado na entrelinha da soja.
Com isso, antecipa a formação de pastagem, sem que isso cause redução da produtividade de grãos da oleaginosa.
Em entrevista para a revista Globo Rural, Luiz Zago Machado, pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, destacou que houve muitos contratempos.
“Tivemos a morte do capim por deriva, a venda da área de testes e até a morte do produtor parceiro da pesquisa”.
Mas, de acordo com o pesquisador, o grande desafio foi impedir que o capim competisse com a soja. Afinal é essa a cultura que paga a conta! E é isso que falaremos a seguir.
Como funciona o sistema antecipasto na ILP?
O antecipasto é uma solução tecnológica que visa antecipar a formação da pastagem em até 30 dias.
Com a estratégia, o rebanho tem pasto disponível por mais tempo na época do ano (estação seca/inverno) em que o produtor tem maior dificuldade de fornecer alimentação/nutrição adequada aos animais.
Neste sistema, o capim é plantado nas entrelinhas da soja de 14 a 20 dias após a germinação do grão (estágios V3 e V4).
Com isso, permite antecipar a formação de pasto para os animais no sistema integração lavoura-pecuária (ILP), garantindo uma produtividade de duas a cinco arrobas a mais por hectare.
Segundo Zago, a adoção do sistema demorou a ser recomendada porque a validação teve que passar por 25 unidades.
Ele destacou que o grande desafio foi impedir que o capim competisse com a soja.
“Fizemos pesquisas com várias cultivares de soja e de capim para chegar no consórcio ideal que mantém a produtividade da soja e garante a antecipação da formação do pasto de 30 a 60 dias”, disse.
Feito isso, as recomendações quanto à cultura da soja e da forrageira devem ser:
Soja
- Porte em torno de 90 cm a 110 cm;
- Crescimento vegetativo vigoroso com bom fechamento de entrelinhas;
- Selecionar cultivares acamadoras.
Já a forrageira deve possuir baixa capacidade de competição com a soja. Ela deve apresentar as seguintes características:
- Pequeno porte;
- Crescimento inicial lento;
- Não devem emitir colmos na fase vegetativa ou emissão de colmos finos;
- Tolerância ao sombreamento;
- Boa produção de forragem durante a safrinha.
Vantagens do sistema antecipasto
Validado pela Embrapa para os estados de Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Roraima, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Bahia, o sistema antecipasto pode oferecer vantagens tanto para pecuaristas quanto para agricultores.
Para os pecuaristas, a solução ajuda a amenizar a falta de pasto na estação seca, o atraso no estabelecimento de pastagens e o insucesso na sua formação.
Já para os agricultores, essa é uma possibilidade real para abrir novas áreas com sistemas integrados de produção (ILP), assim como aquisição de terras a valores acessíveis e potencial agrícola, além de melhorias nas condições do solo.
Assim, de forma geral, as principais vantagens são:
- Não compromete o rendimento de grãos da soja;
- Permite a antecipação da entrada de bovinos na área (entre 30-60 dias);
- Aumento no período de pastejo;
- Aumento da produção de carne (+3 a 5 arrobas por hectare);
- Redução de plantas daninhas: tanto na soja, quanto na pastagem;
- Menor risco na formação de pastagem: época que antecede a convencional;
- Não compete por área com o milho: últimos talhões do “circuito” de semeadura;
- A semeadura do capim ocorre em uma época menos tumultuada.
Resultados animadores
A implementação do Sistema Antecipasto já está sendo adotada por agricultores de vários municípios do sul de Mato Grosso do Sul (Maracaju, Dourados, Nova Andradina, Anaurilândia, Rio Brilhante e Nova Alvorada do Sul).
Com 270 hectares de Antecipasto implantados na fazenda Rosa Branca, em Rio Brilhante, o produtor Carlos Eduardo Barbosa, em entrevista para o site da Embrapa, falou sobre sua experiência com o sistema.
Ele disse que está bastante satisfeito com os resultados obtidos. “Além de aumentar a disponibilidade de pastagens e melhorar a nutrição do gado, a produtividade de grãos foi excelente”.
O produtor ainda detalha que para a semeadura do capim, o espaçamento na entrelinha da soja foi entre 50 a 60 cm, e em áreas onde as plantas daninhas estavam sob controle.
Mesmo nesse espaçamento, o produtor destaca que foi detectado alto volume de palhada e boa distribuição. Ele conta que não houve problemas operacionais, como o comprometimento da separação de impurezas dos grãos de soja.
Com isso, ele enfatizou que o sistema Antecipasto funciona muito bem e acrescentou que a tecnologia pode ser útil “tanto em sistemas de ILP quanto nas propriedades com agricultura, onde o produtor pretenda fazer ciclagem de nutrientes, garantir uma palhada ou ainda reduzir a pressão operacional no momento da transição”.
Carlos Eduardo disse ainda que as experiências, que contribuíram para a validação do Antecipasto ao longo desses anos, foram positivas e acrescentou que sempre fizeram o consórcio Antecipasto utilizando a BRS Tamani.
O trabalho, diz Barbosa, trouxe ótimos resultados. Ele garantiu um aumento de 100 para cerca de 150 dias do período de pastejo do gado, proporcionando de duas a três arrobas a mais por hectare.