Esses dias, discutia com um grupo de pecuaristas sobre a conduta de parte dos profissionais do Agro em não aceitar muito bem que nós – e digo nós porque faço parte deste segmento há quase 20 anos – também cometemos erros. É claro que se trata de uma minoria que mancha a imagem do Agro, mas ela existe e, portanto, não deve ser ignorada. Pelo contrário, deve ser delatada.

Como protagonistas de um mercado que representa praticamente um quarto do PIB, é a nossa obrigação dar nomes aos bois e sermos os primeiros a repudiar, publicamente, qualquer ato ilícito, como grilagem, mão-de-obra análoga à escravidão em fazendas espalhadas pelo País, produção em áreas de desmatamento ilegal, pulverização sem o menor zelo intoxicando adultos e crianças nas residências e escolas vizinhas à aplicação, entre outras irregularidades.

A pergunta que devemos nos fazer é: “Quero jogar a sujeira do Agro para debaixo do tapete, negar fatos concretos de abuso e maus-tratos a pessoas e animais, ocorridos sistematicamente nos rincões do Brasil, ou quero me posicionar contra isso tudo?”.

Não se indignar é, no mínimo, falta de dignidade e caráter. É esse tipo de cidadão do Agro que queremos ser? O argumento de que não existe perfeição no setor até convence, mas o excelente exemplo de que somos contra às ações desprezíveis arrastaria uma multidão a nosso favor, além de fortalecer o respeito e a admiração que tanto reivindicamos de nossa sociedade.

Em meio à discussão, um pecuarista, chamado Antonio Carvalho, concordou com a reflexão e fez um depoimento lindo que pode ser considerado um ato AgroCorajoso. Segue a íntegra logo abaixo, exatamente como ele escreveu, incluindo as letras maiúsculas para nos chamar a atenção.

“Prezados, ainda sobre meio ambiente, fui criador de suínos por 24 anos (de 1984 a 2007), e ainda sou um apaixonado, e defendo a atividade e o sabor e valor da carne suína, desprezada por alguns e criticada por outros profissionais da nutrição.

Pois saibam que, além de ser a de maior consumo entre as carnes vermelhas, é melhor inclusive que a de aves. Isso só para dizer que eu fui um suinocultor, mas, por IGNORAR, fui um poluidor (junto com uns 25 criadores do Rio de Janeiro) dos córregos e rios. Jogava todo o esgoto de uma criação de até 50 porcas (multiplique por 10 o número de animais). Depois fomos intimados a “limpar” nossos dejetos, antes de jogar no rio. E todos nós passamos a aproveitar todos os resíduos da suinocultura.

Resumo: o conhecimento salva. Jogávamos fora um dos produtos de maior valor (“ouro” puro) da criação de suínos. Por ignorância ou burrice (não é simples trabalhar com dejetos), deixamos de recuperar e adubar, áreas enormes, por muitos anos. PIOR, todas as propriedades rio abaixo tinham que “engolir” e “pagar” por minha ignorância.

Hoje, a cadeia da suinocultura faz muito dinheiro com seus dejetos e faz questão de tratar com respeito tanto seus vizinhos, quanto sua equipe que normalmente é de excelente qualidade, necessariamente.

Para ter um colaborador que seja responsável, preparado tecnicamente e que saia do trabalho todos os dias com cheiro de esterco de suínos, temos que pagar bem e tratar com muito respeito. Não é um limpa-bosta, mas é sempre uma equipe maravilhosa, que supera qualquer desafio.”

O depoimento acima é, além de muito nobre, um ato de coragem que deve servir de exemplo a todos nós. Assumir os próprios erros é para poucos. Buscar conhecimento para melhorar os seus negócios e, consequentemente, o entorno é para pouquíssimas boas almas também.

O relato acima deixa no chinelo quem bate no peito para dizer que tem orgulho de ser Agro, mas não toca nas feridas que nos envergonham. Porém, feridas que nos tornam ainda melhores em busca pela excelência, bem como ao repúdio de quem teima em continuar fazendo mal para o Agro seja por ignorância ou, pior, pela má-fé.

Devemos começar a ter orgulho e a imitar agropecuaristas como o senhor Antonio de Carvalho…

Lilian Dias é comunicadora Agro, possui MBA Executivo pela ESPM, com foco em habilidades de gestão de pessoas, práticas de liderança e marketing. É autora do e-book “Os Pilares do Agronegócio”. Site: www.novoagro.com.br – Instagram: @novoagrotv – Youtube: https://www.youtube.com/novoagrotv – E-mail: novoagro@ novoagro.com.br

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