Já na 1ª Guerra Mundial, foi cunhado o termo segurança alimentar sob a dramática experiência vivida principalmente na Europa, quando se mostrou a traumática dependência do fornecimento de alimentos. Após cerca de 30 anos, ocorre a 2ª Guerra Mundial e o tema fica ainda mais acentuado, relevante e impactante.

O mundo passou a viver sob as grandes mudanças provocadas pelas enormes consequências das guerras, através da implantação das instituições globais voltadas a reduzir as possibilidades de eventos mundiais tão negativos como os observados no século XX. Em síntese, além de armas, a alimentação passou a ser outro poderoso instrumento de segurança nacional, vindo aspectos individuais dos países, como estoques de alimentos, subsídios, entre outros.

Ainda no século XX, pós medidas planejadas pelos países vencedores da 2ª Grande Guerra, o mundo se assusta com a insegurança energética que surge no início da década de 1970, com o corte na oferta de petróleo do mundo árabe. As consequências foram parecidas, com aumento nos investimentos da busca do petróleo nos países e com a procura pela energia renovável, já apoiada pelo famoso Clube de Roma e suas primeiras notas sobre o meio ambiente.

A onda de protecionismos principalmente nos países ricos, com elevadíssimos subsídios e outras medidas criando dificuldades a países exportadores, passa a ser crescente e limitadora da oferta de alimentos, em fase de agravamento da fome, entre outros aspectos.

Após um período de menores pressões, com o acelerado processo de globalização e seus excelentes resultados, o mundo pós crise financeira global de 2008/09 passa a viver um novo processo de “desglobalização”. Nesse processo, percebe-se não apenas o enfraquecimento das organizações multilaterais como a OMC – Organização Mundial do Comércio – mas, também, um movimento na linha populista com protecionismos e precaucionismos.

Com uma transformadora posição, os Estados Unidos mudam seu modelo “xerife” de cuidar das instituições globais, notadamente no governo Trump, mas sem importantes mudanças no atual governo Biden, de desvalorizar as instituições globais. Nessa realidade, uma nova onda de reglobalização começa a ocorrer, com forte crescimento de subsídios em países como China e Índia.

Após uma longa experiência na Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética (ambos ocidentais), onde ocorreu a “queda” do Muro de Berlim (consequência da 2ª Guerra Mundial e a separação da Alemanha Ocidental capitalista da Oriental socialista), o mundo, anos após, passou a conviver com a nova Guerra Fria EUA/China, mas com a China integrada ao mundo ocidental.

Com a pandemia do COVID-19 instalada, se aceleram as medidas de desglobalização e de fragilidades, explodindo logo em seguida a Guerra Rússia/Ucrânia com todos os seus impactos.

A grande novidade que se percebe é a volta do velho, com o retorno das inseguranças alimentar e energética e, de novo, na Europa.

“A relevância ou o protagonismo brasileiro nesse tema global é o fato claro no século XXI.”

Deve se acentuar que antes da década de 1980, o Brasil era importador de quase tudo, inclusive alimentos e energia. Em 40 anos o Brasil passa a ser o 3º maior exportador mundial de alimentos e o 7º país em reservas de petróleo no mundo. Isso foi avaliado pela FAO (ONU), que indica para os próximos 20 a 30 anos a crescente dependência mundial do aumento da oferta de alimentos pelo Brasil. A relevância ou o protagonismo brasileiro nesse tema global é o fato claro no século XXI.

O conceito de segurança alimentar, no entanto, depende do interesse de cada país. Em países ricos, trata-se de impor barreiras às importações, elevando os preços dos alimentos; em países pobres, governos populistas usam o termo para tabelar preços e impor perdas aos produtores. Qual o conceito que vale ou qual é o pior?

Segundo a FAO, segurança alimentar tem quatro dimensões: disponibilidade, estabilidade, acesso e utilização. Todas elas estão ligadas aos riscos climáticos, qualidade, competitividade da produção e sua sustentabilidade, assim como a qualidade das políticas públicas implantadas.

A intervenção do Estado nas economias tende a ser negativa à população local e global quando se trata de alimentação. Estimular a competitividade e preparar-se para o aumento e o envelhecimento da população será essencial.

O Brasil será chave às inseguranças alimentar e energética e deve se preparar internamente para isso, via política econômica competente aos investimentos externos, fundamentais para o crescimento que o mundo espera dele.

Por Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Presidente da ABAG – Associação Brasileira do Agronegócio

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