Você já imaginou que a produção de créditos de carbono pode ser vantajosa para o agronegócio? Atualmente, as companhias que reduzem a emissão de dióxido de carbono conseguem obter esse crédito e depois vendê-lo para mercados financeiros de todo o mundo.

Neste mercado, empresas que possuem um nível de emissão muito alto e poucas opções para a redução podem comprar créditos, compensando suas emissões. Assim, mesmo que indiretamente, ajudam a manutenção do projeto de redução, contribuindo para o desenvolvimento sustentável no âmbito geral.

Mas você deve estar se perguntando: quais são os segredos da produção de créditos de carbono? Para responder, conversamos com Marcelo A. Boechat Morandi, Chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente e com grande conhecimento sobre o tema.

Créditos de carbono: uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida

Por definição, um crédito de carbono representa uma tonelada de dióxido de carbono equivalente (CO2eq) que deixou de ser emitida e/ou foi sequestrada da atmosfera. “Essa é uma medida de contabilização da redução de emissão de gases de efeito estufa”, salienta Morandi.

A ideia de criação de um mercado de carbono surgiu a partir da formação da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (UNFCCC, em inglês), durante a ECO-92, no Rio de Janeiro, e se materializou pelo Protocolo de Kyoto, em 1997. Com a entrada em vigor do Acordo de Paris, em 2015, esse mercado está sendo reavivado.

Estas regras estabelecidas nos acordos internacionais representam o mercado regulado, em que os países possuem metas de reduções a serem cumpridas de forma obrigatória”, complementa Morandi.

Além do mercado regulado, há também outras possibilidades de mercados locais ou até internacionais (não atrelados a metas de acordos internacionais), que dão liberdade para os países estabelecerem planos e metas internas para setores da economia ou até mesmo para negociação entre partes privadas, estabelecendo mercados de carbono não-regulados, sendo essa possibilidade ideal para o agronegócio.

A nova commodity brasileira?

Problema para uns, oportunidade para outros”: É assim que as empresas do agronegócio devem ver o mercado de créditos de carbono.

De fato, o agro tem grande potencial de gerar créditos de carbono, em praticamente todas as cadeias. Porém, Morandi explica que algumas se destacam mais que outras, pela maior facilidade de estabelecer as métricas exigidas para comprovar a geração destes créditos.

Recentemente, o Ministério da Agricultura (MAPA) em parceria com a Climate Bond Initiative (CBI) lançou um estudo mostrando as oportunidades para gerar investimentos verdes na cadeia de suprimentos agrícola no Brasil, incluindo a possibilidade de criação de mercados de crédito de carbono”, cita.

Entre as principais áreas com destacado potencial na geração de créditos de carbono, o Chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente indica:

  • Programas de restauração dentro do Programa de Regularização Ambiental – PRA do Código Florestal;
  • Implantação de práticas de Agricultura de Baixa emissão de Carbono, como ILPF e recuperação de pastos degradados;
  • Expansão da produção de biocombustíveis e biogás;
  • Desenvolvimento de florestas plantadas e da indústria de papel e celulose, entre outros.

Diante de todas essas possibilidades, especialistas creem que os créditos de carbono serão, num futuro bem próximo, a nova commodity brasileira, com possibilidade de gerar milhões e milhões de dólares para o agronegócio brasileiro.

A regulação do mercado de carbono é fundamental

Para que funcione da melhor forma possível, a regulação do mercado de créditos de carbono é uma necessidade recorrente.

O mercado regulado, aquele atrelado aos acordos internacionais, como o Acordo de Paris, é regulado pelas regras da UNFCCC. “Na próxima Conferência das Partes (COP26), que ocorrerá este ano em Glasgow há uma grande expectativa para que se definam as regras para este novo mercado de carbono, que foi criado no artigo 6 do Acordo de Paris, mas ainda não foi regulamentado e acordado entre os signatários”, indica Morandi.

Já para o mercado não-regulado, ou seja, que está fora das metas de acordos internacionais, há regulações também, de forma a garantir a credibilidade do crédito de carbono, incluindo mecanismos de certificação e verificação.

No Brasil há vários projetos localizados de crédito de carbono voluntários em diversos setores como indústria, hidrelétrica e outras energias renováveis, produção animal, entre outros. Para isto, há certificadoras credenciadas que podem promover a geração de créditos auditados para venda no mercado voluntário.

Como exemplo temos o recém-criado mercado de créditos de descarbonização a partir de biocombustíveis, dentro do programa RenovaBio.

Várias são as iniciativas em curso dentro do mercado de créditos de carbono

No Brasil, há várias iniciativas em curso para produção de créditos de carbono, principalmente para cadeias de produção animal, café, madeira, grãos e outras, com base nas práticas de agricultura de baixo carbono.

De forma geral, todas as grandes empresas do agro estão anunciando metas de construção de mercados de produtos neutros ou de baixa emissão de carbono. Isso abre enorme oportunidade para os produtores se engajarem serem remunerados também por este mecanismo”, salienta Morandi.

No RenovaBio, por exemplo, o chefe da Embrapa Meio Ambiente explica que parte dos valores gerados com os CBios (créditos de descarbonização) pelas usinas de biocombustíveis também se reverte para os produtores de biomassa.

Como o programa está em seu início, muitas negociações ainda estão ocorrendo para regular esta remuneração, mas com o crescimento do mercado, certamente este valor será significativo no futuro próximo”, finaliza Morandi.

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