No Brasil, durante o período de colheita de grãos é comum que o aumento da oferta derrube as cotações e o lucro de fazendas. Por isso, a estratégia mais corriqueira de muitos agricultores é guardar a produção em silos e esperar o melhor momento para vender.
Assim, geralmente esses grãos são guardados em cooperativas (que nem sempre estão perto da propriedade) ou silos e armazéns de terceiros, que também não existem em quantidades suficientes para atender a demanda.
Porém, guardar os grãos dessa forma, por muitas vezes, pode ficar caro e até derrubar a expectativa de lucro.
Em razão disso, muitos agricultores pensam em construir silos na própria fazenda. Além de poder vender na entressafra, o agricultor que tem seu próprio silo, pode também economizar com custos logísticos, caso do frete, fazendo com que o lucro possa se elevar.
Produzimos mais do que podemos armazenar
O Brasil é um dos principais produtores de grãos do mundo, porém, não consegue armazenar tudo que produz. Dados estatísticos provam isso.
Segundo dados gerados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) em 2016, a capacidade brasileira de armazenamento de grãos responde por cerca de 131 milhões de toneladas, enquanto a produção de grãos (essencialmente soja e milho) é de cerca de 182 milhões de toneladas. “Isso implica em um déficit de armazenamento de cerca de 28%”, comenta o engenheiro agrônomo e coordenador do Grupo ESALQ-LOG, ligado à ESALQ/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo), Thiago Guilherme Péra.
Ainda nesta linha, Péra ressalta que apenas 17% dessa capacidade está associada a estruturas de armazenamento na própria fazenda. O que é ainda muito pouco.
“Esse é o retrato que a produção de grãos tem aumentado mais do que a infraestrutura de armazenagem, trazendo um déficit cada vez maior, ano após ano. Os gargalos logísticos são bem complicados”, explica o engenheiro agrônomo.
Gargalos logísticos na produção de grãos no Brasil
Essa configuração no déficit de armazenamento, adicionada às dimensões continentais do Brasil, com seus grandes registros de produção, implicam em gargalos logísticos bem sérios, que afetam a lucratividade. Péra cita os principais:
- Intermináveis filas em terminais terrestres e portuários;
- Armazenagem de grãos a céu aberto;
- Altos custos logísticos (relacionados a um ambiente com falta de infraestrutura e capacidade de armazenamento) para fornecer uma demanda muito concentrada em alguns períodos do ano.
“Essa situação é bastante diferente dos Estados Unidos. No nosso principal concorrente a capacidade estática de armazenagem é de 150% da produção de grãos, ou seja, conseguem armazenar toda a produção de grãos e ainda sobra mais 50%”, comenta Péra.
Além do mais, nos EUA, 55% dos armazéns se localizam dentro das fazendas. Ponto (e muito lucro) para eles!
Dessa forma, para aumentar competitividade e consequentemente, o lucro, melhorar a logística de armazenamento é fundamental e, sem dúvidas, essa melhora passará pela construção de silos de armazenamento na própria fazenda.
Silos na fazenda: planejar é necessário em busca do lucro
Pensando na maior lucratividade, diversos produtores de grãos em todo o Brasil já começam a pensar na possibilidade de construção de silos em suas propriedades.
No entanto, Péra indica que o sucesso da armazenagem depende de muito planejamento estratégico. “O sucesso da armazenagem para fins de benefícios econômicos (lucro) requer um planejamento garantindo que as instalações atendam as necessidades da fazenda e tenham um comprometimento com a gestão dos grãos para manter a qualidade e reduzir perdas”.
Principais razões para a construção de um silo na fazenda
Seguindo este pensamento de que planejar é importante, o sucesso da armazenagem e a consequente lucratividade dependem de dois grandes fatores:
- O preço de comercialização; e
- Os custos logísticos envolvendo transporte e armazenagem no tempo, que afetam diretamente a lucratividade.
Serão, basicamente, estes fatores que incentivarão o agricultor a investir em silos dentro da sua fazenda.
Péra indica também que é muito importante a realização de análises de investimentos para definir qual a melhor infraestrutura de armazenagem e seu dimensionamento para a propriedade.
“Há diversas opções no mercado, desde silos de aço até os chamados silos-bags (bastante comum no corn belt americano)”.
Benefícios do armazenamento na própria fazenda
A princípio, ter seu próprio silo significará ao agricultor não ser refém dos preços, já que ele poderá vender sua produção no momento que achar que o preço é justo.
De fato, vários serão os benefícios da armazenagem de grãos na fazenda. Péra cita os principais:
- Possibilidade de obtenção de prêmios na comercialização do produto pelo fato da fazenda possuir armazenagem;
- Possibilidade de comercializar a capacidade de armazenagem ociosa para outros agentes interessados. “Isso contribui para ampliar a lucratividade”, indica Péra;
- Maior controle da qualidade do produto, envolvendo a mensuração efetiva do controle de umidade, por exemplo;
- Redução de perdas durante a operação no armazém.
O engenheiro agrônomo comenta ainda que o produtor que controla a armazenagem tomará a decisão de quando comercializar o seu produto com maior precisão, devido a sua capacidade adicional de armazenamento de grãos na fazenda. Tal fato pode inclusive aumentar a lucratividade.