No último dia 22 de fevereiro, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou o surgimento de um caso de mal da vaca louca, chamado tecnicamente de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), em um animal macho de 9 anos em uma pequena propriedade no município de Marabá, no estado do Pará.

Este caso foi investigado pela Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA) e foi considerado atípico, ou seja, surgiu de forma espontânea no organismo do animal. Dessa forma, a OMSA reiterou o status sanitário do país em relação à doença.

Mesmo sendo um caso atípico, essa doença fez com que o Brasil, de forma preventiva, suspendesse as exportações de carne para a China, um dos maiores compradores do país. 

Mas, mesmo com este caso solucionado, o sinal de alerta para evitar o mal da vaca louca precisa se manter acessível. Por isso, saiba o que é essa doença, seus principais sintomas e entenda mais sobre este caso atípico que gerou preocupação entre pecuaristas.  

O que é o mal da vaca louca?

A encefalopatia espongiforme bovina (EEB), popularmente conhecida como doença ou mal da vaca louca, é uma doença transmissível do sistema nervoso que ocorre em bovinos adultos (Bos taurus e Bos indicus), causada pelo acúmulo de uma proteína anormal chamada “príon” no tecido nervoso. 

Segundo Vanessa Felipe de Souza, Médica-Veterinária e pesquisadora em Sanidade Animal na Embrapa Gado de Corte, a EEB é uma doença neurológica fatal que se manifesta de duas formas:

 – Esporadicamente em bovinos mais velhos (forma atípica); 

 – Na forma clássica, quando a transmissão se dá por meio da ingestão de alimentos contendo proteínas de origem animal, como farinha de carne e de ossos contaminados com o agente causador da EEB.

O príon é uma proteína anormal e infectante que se acumula no sistema nervoso central levando a neurodegeneração dos tecidos dos animais afetados”, complementa Vanessa.

A pesquisadora da Embrapa de Gado de Corte indica ainda que a EEB atípica (EEB tipos H e L) tem ocorrência natural e costuma ser detectada durante ações de vigilância ativa de animais caídos ou que apresentam sinais neurológicos. “Essa ocorrência deve ser observada especialmente em bovinos com mais de 5 anos”, sugere.

Já a EEB clássica (EEB tipo C) é provocada pelo acúmulo da proteína príon anormal (PrPSc, PrPd ou PrPres) que se deposita no sistema nervoso central de bovinos que ingeriram alimentos originalmente contaminados com a proteína anormal. 

Principais sintomas da doença

O mal da vaca louca é uma doença que ocorre de forma subaguda à crônica, com os sinais clínicos nos animais sendo progressivos. 

Embora variáveis, os sinais incluem alterações de comportamento nos animais afetados, que podem apresentar hiper-reatividade e incoordenação motora”, salienta Vanessa de Souza. 

No caso de gado de leite, as vacas tendem a relutar em entrar na sala de ordenha ou podem chutar vigorosamente durante a mesma. Nas vacas secas, os primeiros sinais a serem notados são incoordenação e fraqueza dos membros posteriores.

Entre os sinais neurológicos mais comumente relatados destacam-se apreensão, ataxia (falta de coordenação de movimentos musculares) dos membros pélvicos e hiperestesia (aumento da sensibilidade a estímulos sensoriais) ao toque e a ruídos.

Os animais acometidos pela doença reagem com sobressalto a estímulos externos, de forma repetida e frequente, antes de entrar em estado de prostração”, complementa Vanessa.

Cuidados para deixar a doença longe do seu rebanho

A pesquisadora da Embrapa Gado de Corte explica que com as medidas de vigilância ativa realizadas pelo sistema de defesa oficial tanto em nível federal, estadual ou municipal, a pecuária brasileira está bem segura quanto à ocorrência dessa doença. 

Seja na execução do diagnóstico post mortem de animais suspeitos, assim como na proibição e na fiscalização do uso de proteínas de origem animal (incluindo cama-de-aviário e resíduos da produção de suínos) na dieta dos bovinos, o risco de ocorrência da doença vem caindo significativamente no país”.

Mas, mesmo o Brasil tendo um controle sanitário bastante rígido e eficiente, a pesquisadora indica que impedir a ocorrência passa, necessariamente, pelo combate de abates clandestinos.

Devemos combater o abate clandestino com mais afinco, principalmente por essa e outras doenças que podem acometer os animais e serem transmitidas a humanos, as chamadas zoonoses”.

A pecuária brasileira não teve sua imagem manchada

Seguindo o protocolo sanitário oficial, as exportações para a China foram temporariamente suspensas. No entanto, o diálogo com as autoridades foi intensificado para demonstrar todas as informações e o restabelecimento do comércio da carne brasileira.

E, cerca de 20 dias após o embargo ao produto nacional e com o caso da doença devidamente solucionado, a China anunciou que voltou a comprar a carne brasileira.

Para Vanessa de Souza essa é a prova de que o Brasil conta com um serviço de defesa sanitária animal robusto e atento aos possíveis riscos de entrada de doenças. 

A detecção de casos esporádicos de EEB, caso do animal do Pará, apenas demonstra que a vigilância para a identificação e diagnóstico de casos suspeitos tem funcionado muito bem”, comemora. 

Neste sentido, a pesquisadora destaca que, para o reconhecimento do status oficial de risco de EEB de um país, a EEB atípica está excluída. “Essa ocorrência se trata de uma condição que se acredita ocorrer espontaneamente nos rebanhos, mas em uma taxa muito baixa”.

Atualmente, o Brasil está caracterizado como tendo risco desprezível para a ocorrência de EEB pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).

Assim, com a redução de idade dos rebanhos ao abate, além das medidas de defesa sanitária animal adotadas, tanto para a produção quanto para a importação de bovinos ou produtos oriundos de países com status sanitário semelhante para EEB, o Brasil tem se mantido em uma posição privilegiada e de destaque no cenário pecuário internacional. 

A pesquisadora explica que muito provavelmente outros casos de mal de vaca louca atípica serão diagnosticados no país, o que naturalmente gera uma instabilidade nos mercados compradores.

A transparência e a agilidade do Brasil para esclarecer as circunstâncias da ocorrência faz com que se consiga demonstrar a eficácia das medidas de prevenção e controle da doença aos parceiros importadores”, finaliza a pesquisadora.

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