Dos 300 maiores grupos empresariais brasileiros, 265 têm sua origem no DNA, no sobrenome, empresas que se constituíram dentro da família e sobreviveram e cresceram com o passar das gerações, incluindo o agronegócio. A tradição as tornou mais competitivas e com valores estáveis. Entre suas características principais, estão a habilidade de ser ágil nas decisões, além de uma menor burocracia, mais confiança e orgulho de seu histórico.
Contudo, por mais sólida que seja a empresa, muitas vezes, o tema sucessão se torna um problema. O diretor técnico da Informa Economics, José Vicente Ferraz, explica que a espinha dorsal para um projeto de sucessão dar certo se resume a duas palavras: planejamento e perfil.
“O planejamento indica quem pode ser o sucessor. Depois é verificado se esse herdeiro tem vocação e qualificação para assumir a empresa. “Isso é básico. Se for constatado que não tem, contrata-se uma empresa para administrar”, ressalta Ferraz.
Dos grandes negócios aos pequenos, o problema parece ser o mesmo, e a solução também. É no que acredita a gestora de soluções do programa Sebrae Mais, programa de consultoria do SEBRAE Nacional (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Alessandra Cunha Souza. “O problema não se resume apenas à falta de um substituto adequado, mas também, à ausência de um planejamento para esta sucessão acontecer de forma tranquila”, avalia.
Por outro lado, quando o entrosamento desses dois itens é corretamente realizado, é uma questão de organização. Seguindo uma sequência de ações práticas você aumenta as chances de a sucessão ser imbatível.
Passo a passo da sucessão
1 – Planejar: quem pretende que o substituto assuma o negócio pode começar a se organizar durante a aposentadoria. Isso ajuda a testar quem está ou não preparado para seguir na linha de frente, identificar quem quer fazer isso e avaliar experiências.
2 – Preparar: sucessão não é entrega de bastão. A nova geração de gestores deve ser capacitada, pois quem assume em caso de morte do fundador, talvez tivesse outros planos ou não estava preparado. É preciso saber que o substituto trabalha para a empresa e não o contrário.
Uma das maneiras de preparar o sucessor é por meio de cursos, como o “Transformando herdeiros em sócios”, realizado pelo Senar-MS (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Mato Grosso do Sul). Com duração de 56 horas e organizado em cinco módulos, ele possui dois enfoques: preparar a pessoa para assumir e profissionalizar a gestão.
É o que explica o superintendente regional do Senar-MS, Rogério Beretta. “A família precisa entender que alguém deve assumir.” Porém, o curso também prepara quem não vai assumir. Se durante o processo for identificado que o herdeiro não tem as habilidades necessárias, ele pode permanecer como sócio.
O processo de sucessão e seus eventuais problemas são tema do primeiro módulo do curso: “governança de empresa”. Beretta explica que um dos maiores desafios dessa primeira aula é falar do acordo de acionistas, que define quem serão os sócios, o percentual de cotas da empresa, e ainda, como serão as demissões e contratações.
Outro assunto delicado são as relações interpessoais, comunicação e ética, temas abordados durante o segundo módulo: “a família empresária e os desafios da sucessão”. “Não parece, mas esses temas são mais complicados quando há família envolvida”, sentencia o superintendente. Gestão financeira da empresa, direito societário na empresa e gestão tributária e contábil são os temas dos últimos módulos do curso desenvolvido pela FIA/USP (Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo).
3 – Participar: certifique-se de que seu sucessor acompanha de perto o que acontece na empresa e entende o funcionamento do negócio como um todo. Não adianta ser um especialista em apenas uma área, o líder precisa ter visão global.
4- Conhecer a documentação da empresa: é preciso saber se a empresa possui dívidas. Aproximar-se rapidamente do contador, advogado ou mesmo do funcionário mais antigo da empresa para coletar informações.
5-Administrar: em alguns casos, os familiares podem contratar uma administradora externa ou organizar um conselho para elaborar um protocolo para decidir a rotina da empresa, como férias, empréstimos, quem assume em caso de morte de um dos sócios etc.
É possível ainda realizar um acordo de cotistas, em que cada integrante da família possui cotas. Caso alguém queira deixar a empresa, ele deve oferecer sua parte aos parentes, isso ajuda a manter a empresa familiar, evitando que cotas sejam vendidas à terceiros.