Após dois ciclos de adversidades climáticas, a produtividade para a safra 2022/23 de cana-de-açúcar começa a mostrar recuperação dentro do agronegócio nacional.
Com isso, a produção de cana deve chegar a 572,9 milhões de toneladas, como indica o levantamento da safra 2022/23 divulgado recentemente pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Mas boa parte das conquistas do setor é decorrente das pesquisas desenvolvidas pelo Centro de Cana, que realiza trabalhos multidisciplinares dentro do Programa Cana IAC.
Estas pesquisas se baseiam em melhoramento genético, ciências do solo, caracterização de ambientes de produção, fitotecnia, manejo de pragas e doenças e estimativa de produção.
Para entender qual é a importância do Centro de Cana IAC, especificamente na área de melhoramento genético da cana-de-açúcar, conversamos com Mauro Alexandre Xavier, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), ligado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Melhoramento genético da cana-de-açúcar: maior produtividade e capacidade de processamento na indústria
Há mais de 500 anos, a produção de cana-de-açúcar representa uma das atividades que mais movimentam a economia brasileira. Hoje, somos os maiores produtores da planta no mundo — seja para exportação, seja para produção de álcool ou açúcar.
Consequentemente, os programas de melhoramento genético da cana-de-açúcar são realizados há décadas no Brasil e já geraram novos cultivares de ótima qualidade.
Estas pesquisas são conduzidas para desenvolver variedades mais produtivas e com maior tolerância ao estresse hídrico, resistência às pragas e doenças, além de adaptação à já obrigatória colheita mecanizada.
Nessa área, o IAC já conquistou grande protagonismo no cenário nacional. Segundo Mauro Xavier, o Instituto Agronômico mantém um programa de melhoramento genético da cana-de-açúcar ativo desde 1933, e com excelentes resultados.
“O fato desse trabalho e dos demais programas de melhoramento de cana-de-açúcar do Brasil serem contínuos possibilita ao setor sucroenergético nacional receber, praticamente todos os anos, novos pacotes tecnológicos, compostos por cultivares acompanhados de manejos fitotécnicos”, afirma Xavier.
O pesquisador do IAC ainda salienta que este trabalho possibilita ao produtor de cana a possibilidade de obter a expressão fenotípica e o potencial biológico que melhor se enquadrem dentro de seu sistema de produção.
“Dessa forma o melhoramento contribui com o principal insumo biológico na cadeia de produção do açúcar, etanol e bioeletricidade, entre outros”, complementa.
Benefícios para o produtor obtidos com as pesquisas do IAC
Como ressaltado anteriormente, as pesquisas em melhoramento genético dentro da cultura da cana-de-açúcar garantem ao produtor a possibilidade de ter uma variedade específica para sua área de plantio, que engloba características do solo, sazonalidade de chuvas e presença de pragas ou doenças.
Mas as pesquisas em melhoramento genético do IAC representam, também, uma grande ferramenta para garantir a sustentabilidade da cultura da cana-de-açúcar, atuando na redução de custos, na eficiência do cultivo e no aumento da produtividade.
Mauro Xavier explica que os ganhos indiretos também merecem destaque. “Indiretamente, a oferta de cultivares melhoradas permite ao produtor melhorar sua produtividade agrícola, por sua vez a unidade de processamento incrementa os indicadores agroindustriais”, diz.
O pesquisador explica ainda que a liberação contínua de cultivares de cana-de-açúcar também representa uma importante proteção biológica para o setor produtivo. “A diversidade de cultivares em utilização age como uma estratégia de defesa contra o surgimento e disseminação de novas pragas e doenças”.
Outro ponto bastante interessante é que o IAC divide todo esse conhecimento com a sociedade, visto que existe a possibilidade de visitação a seus vários centros de pesquisas e áreas experimentais.
Na concepção do IAC, essa é uma excelente oportunidade de interação com escolas e comunidades, podendo despertar o interesse de estudantes de todo o país pelo mundo das pesquisas científicas.
Cultivares adaptadas a diferentes condições de cultivo e à mecanização
O IAC tem uma atuação contínua na área de melhoramento genético da cana-de-açúcar. Prova disso é o estande da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo montado na Agrishow 2022.
Nesse estande, o Instituto Agronômico apresentou 14 variedades, sendo oito liberadas entre 2021 e 2022. “São variedades modernas, que atendem às condições de solo e clima de diversas regiões do Brasil, além do polo sucroenergético paulista”, explica Xavier.
Essas novas cultivares devem estar adaptadas às diferentes condições de cultivo e a pressão da mecanização, seja no plantio ou colheita. E, segundo o pesquisador, a região Centro-Sul será bastante beneficiada com essas variedades:
“Atualmente, a safra na região Centro-Sul é bastante ampla, o que também exige das novas cultivares a necessidade de apresentarem alta capacidade de brotação, emissão de perfilho e manutenção de colmos industrializáveis, o depósito de açúcar no campo”.
Trabalho que traz resultados para a indústria canavieira
O trabalho realizado pelos programas de melhoramento genético da cana-de-açúcar tem o objetivo de atender às principais demandas do setor, seja pelo aumento de produtividade agrícola, seja pela maior qualidade da matéria-prima a ser processada.
Dessa forma, todo o trabalho do IAC e do Centro de Cana tem o objetivo de integrar várias tecnologias em prol do produtor e da indústria.
“O Instituto Agronômico, por meio de suas várias linhas de pesquisa, pode contribuir para a finalidade da produtividade de três dígitos (acima de 100 toneladas por hectare, na média de cinco cortes)”, complementa o pesquisador.
Porém, todo esse trabalho não é fácil, nem rápido. O pesquisador explica que, para se chegar em uma nova variedade, o processo é longo, podendo se estender por até 12 anos, começando pela hibridação, caracterização e seleção até chegar à liberação como produto.
Nesse sentido, a identificação e caracterização de cultivares de cana-de-açúcar com hábito de crescimento ereto contribuem com a qualidade da matéria-prima entregue na indústria.
Quer saber mais sobre as ações do Instituto Agronômico pelo desenvolvimento do setor sucroenergético? Confira abaixo entrevista com o pesquisador Marcos Landell, do IAC, para o Agrishow Conecta!
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