Muita gente pensa que sustentabilidade só tem a ver com o meio ambiente, mas vai muito além disso, porque também é uma das vertentes do empreendedorismo. Ou seja: para ser bem-sucedido no campo não basta ser ambientalmente sustentável, mas, principalmente, economicamente e financeiramente sustentável. 

É comum vermos muitos produtores rurais quebrados ou quebrando. A pergunta que fica é: “Onde está o erro?”. Quando começou a onda de sustentabilidade, quem estava do lado de fora enxergava a medida como modismo, ou um problema a mais, que passava a impressão de ser uma despesa enorme para quem já estava endividado e não tinha muito controle no fluxo de caixa. 

Com o tempo, perceberam que a sustentabilidade também é uma forma de fazer dinheiro e uma parcela de pequenos e médios produtores rurais começaram a agregar este novo conceito nos próprios negócios. Assim, esta mudança de visão em relação à sustentabilidade, que deixou de ser um problema e virou uma oportunidade, passou a ser disseminada por meio de cursos promovidos por entidades agropecuárias, estudos realizados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) ou até mesmo por meio de ensinamentos ou consultorias particulares. 

A partir dessa nova consciência, o produtor reduziu a quantidade de defensivos agrícolas, que são caros, conseguiu melhorar a logística da embalagem, do transporte e começou a perceber que é possível agregar valor ao seu produto colocando em prática um modo sustentável de produção, como, por exemplo, vender uma alface limpa e embalada num saquinho por um valor três ou quatro vezes maior do que o comercializado no mercado sem os mesmos cuidados. Isso resultou numa melhora do fluxo de caixa a partir do momento que esse produtor passou a economizar mais, por meio de métodos sustentáveis, e a vender mais, qualificando a produção com um manejo diferenciado. 

Embora esteja mais do que provado que a sustentabilidade está aliada à rentabilidade, ainda falta consciência por parte do setor agropecuário em relação a isso. O motivo é que muitos produtores rurais vêm repetindo os padrões de gerações passadas. E essa repetição de padrão significa o mesmo modelo de produção. Aos poucos, estão mudando, claro, mas faz poucos anos que o setor começou a falar em recuperação de solo e de áreas degradadas de pasto. 

Com este novo pensamento, de que é preciso ser sustentável, cuidar da terra, deixar um legado para as futuras gerações, a produtividade do Brasil cresceu nos últimos anos como em nenhum outro país. Hoje, não se fala mais em milho safrinha, por exemplo, mas em duas safras. E este conceito de mudança de comportamento tem ajudado a revolucionar a agropecuária em termos de sustentabilidade tanto ambientalmente quanto economicamente e financeiramente. 

Muitos agropecuaristas viram que do jeito que estava não ia dar certo e por isso se afastaram da atividade. Alguns trocaram o campo pela cidade e outros perderam tudo o que tinham. De acordo com o consultor de agronegócio Antonio Carlos Porto Araújo, o agricultor vive em função de “dívida” e “esperança”. Ele trabalha para pagar o prejuízo obtido, seja por questões climáticas, ou porque não conseguiu escoar a produção por conta de uma greve de caminhoneiros, ou por quaisquer outros motivos. Aí ele corre para plantar mais e tentar vender mais para sanar as dívidas. Ou, então, ele vive de esperança, isto é, num momento de safra boa, ele pensa se vai comprar mais uma terra, mais um trator ou tomar alguma outra medida que faça o seu negócio crescer, mas sempre sob a ameaça de adversidades externas. 

Agora, mais uma pergunta que não quer calar: “Não fez a gestão correta, não fez o manejo correto para economizar, se enrolou, ficou endividado, será que o produtor rural tem saída?”. “Ele tem muita saída, sim”, enfatiza Araújo. “Quanto aos que estão endividados, existem mais de 100 fundos de investimentos no Brasil aptos a colocar dinheiro na atividade do produtor e, principalmente, se for uma atividade sustentável, como a agricultura de baixo carbono ou a Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF)”, explica. 

Para isso, o produtor deve procurar ajuda numa consultoria especializada ou ir diretamente aos bancos de investimentos. Existem, inclusive, muitos investimentos a fundo perdido provenientes do Banco Mundial ou de sérias Organizações Não Governamentais (ONGs) internacionais. Os produtores rurais também podem vender serviços ambientais, como no sul de Minas Gerais, onde estão situadas as chamadas fazendas de águas que recebem dinheiro para proteger as nascentes. 

Existem muitos outros modelos que estão funcionando e que levam recursos para que o produtor rural consiga se manter na atividade, caso enfrente alguma situação de crise. Entretanto, muitos não conseguem melhorar a situação porque estão focados na dívida e acreditam que não exista uma saída. Poucos têm cabeça para focar na solução, procurando ajuda nos sindicatos, nas cooperativas e demais entidades agropecuárias. 

Um grande exemplo de sustentabilidade que gerou economia e receita foi o ocorrido originalmente em Santa Catarina, onde os dejetos de suínos tiravam o sono dos produtores por ser um perigo ambiental. Entretanto, alguém um dia resolveu pensar: recolheu os dejetos, colocou-os num biodigestor, gerou energia que acabou sendo usada na própria fazenda, vendeu o excedente para o Estado e ainda vendeu crédito de carbono porque deixou de emitir gases do efeito estufa. 

Resumindo: se você é produtor rural, e está passando por algum perrengue financeiro, lembre-se de que é preciso focar na solução e não no problema, porque só assim você será economicamente sustentável. 

Lilian Dias é comunicadora Agro, possui MBA Executivo pela ESPM, com foco em habilidades de gestão de pessoas, práticas de liderança e marketing. É autora do e-book “Os Pilares do Agronegócio”. Site: www.liliandias.com.br – Instagram: @jornalistalilian – E-mail: [email protected] 

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