Mesmo diante dos bons resultados, o agronegócio brasileiro teve um ano de 2022 tenso, com aumento de custos, problemas climáticos e uma série de instabilidades. Mas o ano de 2023 indica que o cenário tende a mudar e, para melhor!
As últimas projeções, apresentadas por diferentes entidades, apontam que o Produto Interno Bruto (PIB) deve apresentar um forte crescimento para 2023.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) projeta um crescimento de 11,6% do PIB. Já o Itaú estimou um crescimento de 10,1%. A FGV Agro, por sua vez, estima um crescimento mais tímido (cerca de 8%), mas mesmo assim muito animador.
Para entender este cenário bastante animador do agronegócio brasileiro para 2023, conversamos com Felippe Serigati, Pesquisador do FGV Agro.
Com vasto conhecimento no agronegócio brasileiro, Serigati mostra uma abordagem geral sobre o atual cenário, com suas oportunidades e desafios.
As animadoras projeções do PIB beneficiam a economia como um todo
Já estamos quase no meio do ano de 2023 e a safra de verão está toda colhida e já podemos dizer que as projeções realizadas no início do ano estão se confirmando.
Felippe Serigati indica que a projeção do PIB do agronegócio brasileiro tende a apresentar um forte crescimento. “Na FGV Agro estimamos um crescimento de algo em torno de 8%. Certamente teremos um ano com crescimento bastante elevado”.
Segundo o pesquisador da FGV este crescimento tende a trazer consequências positivas para o país. “O crescimento representa forte geração de renda que beneficia o agronegócio e o mercado de trabalho como um todo”.
Este processo vem associado com uma redução da informalidade dentro do universo agro, com expansão da remuneração média dentro do setor.
O mais interessante, segundo Serigati, é que esses resultados tendem a movimentar a economia como um todo. “Estes resultados não ficam limitados apenas ao mercado agro, mas gera reflexos nas regiões onde o agronegócio é a atividade predominante, aquecendo o setor de serviços”, complementa.
O ano de 2023 tem tudo para ser o ano do agronegócio brasileiro
Pelas projeções anteriormente apresentadas, o ano de 2023 apresenta todas as características para ser o ano do agronegócio brasileiro. Estes números mostram a força do campo para impulsionar o PIB brasileiro.
Neste cenário, Felippe Serigati indica que há alguns fatores que contribuirão com estes resultados.
O professor da FGV Agro cita que houve uma expansão da área plantada associada à boa produtividade. “Estes fatores, quando somados, farão com que nosso agronegócio tenha uma safra recorde de grãos, na faixa de 312 milhões de toneladas”.
No entanto, essa safra recorde de grãos, combinada com as perspectivas favoráveis para a safra de grãos no hemisfério norte fazem com que os preços operem em patamares mais modestos, principalmente quando comparados aos preços do ano de 2022.
No caso da cana-de-açúcar e o café, Serigati salienta que as projeções indicam safras melhores do que as obtidas em 2022, mesmo com o café passando por um ano de bienalidade mais fraca.
“Em 2023, o café terá uma produção baseada em uma bianualidade mais fraca, mas mesmo assim as colheitas serão melhores que no ano passado”, cita o pesquisador.
No caso da pecuária, passamos por um momento de expansão dos abates, inclusive com o encaminhamento de fêmeas para a produção de carne, fazendo com que as cotações sejam mais baixas.
“O cenário naturalmente fará com que as cotações estejam mais baixas, mas penso que isso não será algo permanente, podendo melhorar ao longo do ano. Mas, no curto prazo, a queda de braços entre pecuaristas e frigoríficos se manterá, dentro de uma dinâmica de mercado natural”, complementa Serigati.
No caso da produção de frangos, a gripe aviária merece total atenção. Ela já atingiu vários países importantes deste mercado. No Brasil não há relatos em aves comerciais, mas recentemente o MAPA também detectou seus primeiros casos no Espírito Santo em aves silvestres.
No entanto, essa notificação não afeta a condição do Brasil como país livre de IAAP (Infecção Aviária de Alta Patogenicidade). De acordo com o MAPA, isso significa que proibições ao comércio não devem ser impostas, e a depender da evolução das investigações, novas medidas sanitárias serão adotadas. Por enquanto, as principais medidas de prevenção serão intensificadas.
“Certamente teremos ótimas oportunidades de exportação se nós conseguirmos manter e comprovar nossa eficiência sanitária”, cita o pesquisador.
Além disso, a alta safra de grãos e a pressão para baixo da cotação farão com que o custo da ração garanta um alívio adicional para criadores e produtores de frangos, suínos e vacas leiteiras.
Parte do crescimento do PIB já está garantida!
Já estamos praticamente no meio do ano, consequentemente a safra de verão está no fim e, diante dos bons resultados, parte do crescimento esperado para o PIB já está garantido.
Felippe Serigati explica que PIB é a quantidade, fazendo referência ao volume de produção de bens e serviços finais. “No caso do agro, já colhemos uma boa safra de verão, estamos na fase de plantio de uma boa área de segunda safra e temos abates em bom volume”.
Segundo o pesquisador, tudo isso contribui com a expansão do setor, fazendo com que ele seja maior este ano. “Teremos um expressivo volume de produção dentro do setor, resultando em um PIB bem robusto”, indica.
Além disso, a expectativa de um PIB mais alto se confirma quando a comparação ocorre com todo o ciclo de 2022, que teve retração, devido aos fatores climáticos adversos e às tensões no leste europeu.
Custos agropecuários menores para defensivos e maiores para financiamento
Quanto aos custos agropecuários, Felippe Serigati indica que eles serão menores para defensivos agrícolas e fertilizantes quando comparados à preparação para a safra 2022/23.
No entanto, o pesquisador acredita que o setor encontrará custos de financiamento mais elevados para o ciclo de 2023. “Estamos operando com uma taxa SELIC de 13,75% e certamente uma parte disso afeta o financiamento do setor”.
Além disso, encontraremos custos de seguro rural também mais caros. “Em algumas regiões temos uma sequência de 3 anos de quebra de safra e isso naturalmente estará no prêmio do seguro”, complementa o pesquisador.
Assim, de forma geral, o setor tende a trabalhar com custos de produção menores, em contrapartida deve operar com preços de commodities em patamares inferiores às projeções da preparação para a atual safra.
E, segundo Serigati, este é um dos principais desafios a serem enfrentados pelo produtor rural brasileiro que está colhendo ou ainda não vendeu sua produção. “O principal desafio do setor para o atual ciclo é o preço, com cotações de diversos produtos tendo operado em patamares menores”.
Já para a safra que será produzida, o pesquisador da FGV Agro cita como principais desafios os custos de financiamento e seguro rural, além de possíveis adversidades climáticas que ainda não é possível precisar com exatidão.
Mas, de qualquer forma, todas as projeções indicam crescimento do PIB do agronegócio. Então cabe ao produtor rural brasileiro fazer o que ele sabe de melhor: Produzir mais e melhor para alimentar o mundo!