Exportar açaí tem sido uma ótima oportunidade para muitas empresas brasileiras que cultivam a fruta. Trata-se de um dos mais importantes produtos do extrativismo nacional, que tem fortalecido a visibilidade à biodiversidade da Floresta Amazônica.

De acordo com dados da Fiepa (Federação das Indústrias do Estado do Pará), os números da exportação de açaí cresceram 15.000% nos últimos dez anos. 

Com isso, boa parte do mundo está se aproveitando das qualidades do açaí, devido às suas propriedades antioxidantes, alto teor energético e também à presença da nomeada “gordura boa”.

Convidamos o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, João Tomé de Farias Neto, para falar sobre essa fruta que está conquistando o mundo e dar algumas dicas de manejo do açaí.

Açaí: maior crescimento nos últimos anos

Grande representante da Amazônia, o açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) é uma palmeira nativa das áreas de várzea da Amazônia. Seu fruto, o açaí, é a base da alimentação da população da região Norte. 

Entre as culturas perenes produzidas no Brasil, como café, laranja, cacau e dendê, o crescimento da produção de açaí ganha destaque nos últimos anos. 

Para explicar este crescimento, João Tomé de Farias Neto cita dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que monitora essa produção desde 2015 e considera tanto o açaí manejado das áreas de várzea quanto o cultivado. 

A área colhida no Brasil cresceu quase 72 mil hectares, saindo de 136 mil hectares em 2015 para 208 mil hectares em 2021. O Pará é o maior produtor nacional de açaí, responsável por 95% da produção brasileira”, diz.

No mesmo período, a produção nacional saltou de 1 milhão de toneladas para 1 milhão e 485 mil toneladas. 

Segundo o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, o valor da produção também cresceu nos últimos anos. “Só no estado do Pará, o açaí movimentou, em 2021, mais de 5 bilhões de reais, negócio que atrai pequenos, médios e grandes produtores”.

Faria Neto também cita um recente trabalho de monitoramento da adoção de tecnologias da Embrapa. O estudo mostra que, em 2010, havia no Brasil, principalmente no estado do Pará, 6.886 hectares de açaízeiro plantados com a cultivar BRS Pará (açaizeiro para terra firme), lançada em 2005. 

Já em 2022, com o incremento da BRS Pai d’Égua (açaizeiro para terra firme), lançada em 2019, a área saltou para 53.374 hectares (39.800 hectares da BRS Pará e 13.574 hectares da BRS Pai d’Égua).

Quanto ao destino do açaí brasileiro, os Estados Unidos são o principal destino internacional do fruto de açaí beneficiado, seja em pó, mix ou polpa.

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Manejo do açaizeiro: visa aliar alta produtividade com maior qualidade de frutos

Para produzir açaí, o sistema de produção leva em consideração as várias tecnologias desenvolvidas pela pesquisa nacional. Segundo essas pesquisas, Farias Neto indica que o manejo visa proporcionar alta produtividade, aliando-a com maior qualidade de frutos.

O pesquisador indica ainda que o espaçamento mínimo para cultivo de açaí é 5m x 5m. “Nesse espaçamento recomendamos o manejo da cultura ou touceira com apenas três estipes, ou seja, além da planta mãe mais dois perfilhos”.

A adubação do açaizeiro, por sua vez, deve ser realizada de acordo com a análise de solo. “Açaizeiro quando em produção extrai do solo quantidades variáveis de nutrientes, sendo a sequência K>N>Ca>P> mg, portanto apenas a análise do solo para identificar o nutriente faltante”, indica Farias Neto.

A quantidade de água varia de acordo com a idade. “No primeiro ano recomendamos aplicar 40l/touceira/dia. Já no segundo e terceiro ano recomendamos 60 l/to”, recomenda o pesquisador.

Quanto ao preparo do solo, Farias Neto sugere maior cuidado com a cova de plantio. “Além da aração e gradagem, que são técnicas normalmente empregadas em outros cultivos, deve ser dada atenção especial ao tamanho da cova de plantio, que deve ser 0,40cm x 0,40cm x 0,40cm”.

O pesquisador salienta ainda que essas recomendações são baseadas no manejo do açaizeiro em terra firme. “Tais recomendações podem variar um pouco quando o manejo ocorre em área de várzea”.

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O melhoramento genético para cultivo em terra firme se destaca

Para promover a ampliação do cultivo do açaí em terra firme e aumentar a qualidade do fruto, a Embrapa sempre vem investindo no melhoramento genético do açaizeiro e, em 2019, a Embrapa Amazônia Oriental lança a BRS Pai d’Égua.

O grande diferencial dessa variedade é a distribuição bem equilibrada da produção anual, sendo este um passo importante para superar a sazonalidade da produção de frutos.

Outro grande ponto forte dessa variedade de açaízeiro é a sua maior produtividade, chegando a 12 toneladas ao ano por hectare. 

A modo de comparação, vemos que o açaí manejado de várzea e o cultivado em terra firme sem irrigação produzem cerca de três toneladas anuais por hectare”, complementa Farias Neto. 

Além disso, seus frutos menores rendem 30% mais polpa que os materiais tradicionais.

O pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental ainda explica que a seleção de indivíduos superiores é realizada por meio dos indivíduos possuidores dos maiores valores genéticos para produção de frutos. 

Na seleção de indivíduos que originaram a BRS Pai d’Égua foi feita uma seleção simultânea para produção e peso de frutos”, indica.

Dessa forma, o açaí é um alimento e de excelência do ponto de vista da medicina, da nutrição e um grande triunfo na economia regional. 

O açaí é ainda um produto genuinamente amazônico, com mais fácil trânsito no mercado internacional e um grande representante da biodiversidade brasileira.

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