Cerca de 161 milhões de bovinos e bubalinos deverão ser vacinados na segunda etapa da campanha nacional de vacinação contra febre aftosa de 2022. A campanha, que começou no dia 1º de novembro, segue até o dia 30 do mesmo mês.

Mas, mesmo sendo realizada há muitos anos, algumas dúvidas relacionadas à vacinação contra febre aftosa ainda são frequentes entre os pecuaristas.

Por isso, convidamos Antonio Carlos de Souza, Médico Veterinário e Gerente Executivo do FEPSA (Fundo Emergencial de Promoção da Saúde Animal do Estado do Espírito Santo), para esclarecer as 7 principais dúvidas sobre a vacinação. Boa leitura!

1. O que é febre aftosa?

Segundo Souza, a febre aftosa é uma doença viral muito grave com alta capacidade de contágio, responsável por grandes prejuízos econômicos e sociais para a atividade pecuária.

Ela afeta principalmente bovinos e búfalos de todas as idades, mas ainda tem a capacidade de infectar outros animais de casco bipartido (animais biungulados), como suínos, ovinos e caprinos.

A doença é causada por um vírus do qual existem 7 tipos, que produzem sinais clínicos similares. Já a transmissão acontece principalmente após contato direto entre os animais, com a água, equipamentos e alimentos contaminados.

2. Quais os sintomas da febre aftosa?

Quando acomete os animais, a febre aftosa causa sinais clínicos bastante característicos:

  • Salivação em excesso;
  • Claudicação (“manqueira”);
  • Lesões (aftas) na língua e na boca;
  • Feridas nos cascos e tetas;
  • Febre alta; e
  • Perda de apetite.

Por todas essas características, o emagrecimento do animal é marcante devido à febre e à dificuldade de se alimentar, beber e se locomover.

3. A vacinação é a melhor estratégia para evitar a doença

Por trazer grandes prejuízos econômicos, estuda-se uma solução para a erradicação da febre aftosa desde a década de 1950. Além das medidas sanitárias e de trânsito de animais, a vacinação é a melhor estratégia para controle dessa zoonose.

Segundo o gerente do FEPSA, a vacinação foi a melhor forma de prevenir a doença para posteriormente obter o status livre de febre aftosa com vacinação, declarado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) em 2018.

Após essa campanha de novembro, sete Unidades da Federação do Bloco IV do Plano Estratégico do Programa Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa (PE-PNEFA) farão a suspensão da vacinação contra a febre aftosa: Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Tocantins. “Nestes estados, a vacinação será suspensa e doravante vamos utilizar outros mecanismos para evitar a reintrodução da doença”, explica Souza.

Ao todo, serão aproximadamente 114 milhões de bovinos e bubalinos que deixarão de ser vacinados, o que corresponde a quase 50% do rebanho total do país. Essa ação faz parte da evolução do projeto de ampliação de zonas livres de febre aftosa sem vacinação no país, previstas no PE-PNEFA.

4. Quais são os cuidados relacionados à compra, armazenamento e transporte da vacina?

Para que a vacinação seja realizada de forma eficiente, alguns detalhes merecem total atenção. Assim, ao efetuar a compra da vacina, Souza explica que o pecuarista deve tomar alguns cuidados:

“Inicialmente o pecuarista deve observar se a loja revendedora está credenciada pelo órgão oficial do estado (IDAF), e se a mesma possui geladeira em condições de manter a temperatura entre 02 a 08 graus”.

O produtor deve, também, possuir gelo em quantidade suficiente para ser utilizado na embalagem. “Esse cuidado é essencial para que o transporte seja efetuado com segurança, mantendo as condições necessárias para que se possa obter resultados satisfatórios após a vacinação”, indica o médico veterinário. O transporte até a propriedade deve ser feito em isopor.

“Manter a vacina na geladeira até o momento de efetuar a vacinação”, acrescenta Souza. “A temperatura deve ser de 02 a 08ºC também na propriedade”, recomenda.

5. Quais são os cuidados para a aplicação da vacina contra febre aftosa?

Além do correto armazenamento e transporte da vacina, é essencial que alguns cuidados sejam tomados no momento da vacinação do gado.

O médico veterinário e Gerente Executivo do FEPSA sugere que este manejo seja realizado sempre na parte da manhã, ou ao final do dia, quando a temperatura é mais amena.

Na vacinação é preciso utilizar agulha própria, aplicando de preferência na Paleta (tábua do pescoço, por via subcutânea ou intramuscular). “Nunca aplicar a vacina na região onde se concentra a carne mais nobre do animal (alcatra, contrafilé, filé mignon, etc.)”, recomenda Souza.

Também é importante aplicar a vacina nos animais em até 05 dias da sua aquisição, pois nem todos os refrigeradores domésticos conseguem manter a temperatura adequada à correta conservação do produto. Há, ainda, o risco de falta de energia e avarias no equipamento.

6. Não se esqueça de comprovar a vacinação junto aos órgãos competentes

Finalizada a vacinação de seus animais, o produtor deve fazer a comprovação junto ao órgão executor de defesa sanitária animal de seu estado.

Essa declaração da vacina pode ser entregue de forma online ou, quando não for possível, presencialmente nos postos designados pelo serviço veterinário estadual, nos prazos estipulados.

No caso do Espírito Santo, Antonio Souza explica que o pecuarista deve procurar o escritório do IDAF de seu município, com o comprovante de vacinação preenchido.

“O comprovante deve constar dados divididos por faixa etária e quantidade de animais existentes na propriedade. Esses dados mostram a evolução do rebanho, registrando os nascimentos ocorridos e dando baixa nas mortes que porventura aconteceram na propriedade”, explica.

O pecuarista que não vacinar seus animais estará sujeito a penalidades previstas na legislação estadual elaborada pelo órgão oficial responsável pela sanidade animal do estado.

Gado bovino

7. A vacinação não será mais necessária, mas os cuidados devem continuar

Após a etapa de novembro de 2022, sete Unidades da Federação farão a suspensão da vacinação contra febre aftosa, mas isso não significa que os cuidados devem acabar.

Ou seja, para impedir a reintrodução do vírus em zonas livres, alguns cuidados devem ser persistentes, dentre os quais Souza destaca:

  • Manter sempre atualizados os dados cadastrais junto aos órgãos competentes de cada estado;
  • Quando efetuar movimentação de animais, eles devem estar sempre acompanhados da guia de trânsito animal (GTA);
  • Manter uma vigilância constante do rebanho.

“O pecuarista deve observar se os animais venham a apresentar qualquer anormalidade; caso observe, imediatamente procurar o escritório do IDAF de seu município e fazer a comunicação, para que o órgão possa efetuar visita a sua propriedade e constatar o que está ocorrendo”, finaliza Souza.

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