No último ano, o Rio Grande do Sul vem chamando atenção por um dado alarmante, o aumento nos casos de suicídio entre produtores rurais.
Somente neste ano, mais de 20 agricultores gaúchos tiraram a própria vida, homens e mulheres que dedicaram anos à terra, mas que acabaram vencidos por algo que não aparece na lavoura: o cansaço emocional.
Quem vive o agro sabe o peso que é segurar uma produção diante da instabilidade climática, das dívidas, da pressão do mercado e da solidão do campo. O produtor é, há décadas, o retrato da força. Mas, por trás dessa imagem, existe um ser humano que também sente medo, ansiedade e frustração.
E é aí que entra um ponto que quase nunca é discutido nas feiras, nas cooperativas ou nas reuniões técnicas: a comunicação pode salvar vidas.
Falar, de verdade, ainda é o maior desafio de quem vive no campo.
O produtor rural se acostumou a resolver tudo sozinho. A guardar. A acreditar que pedir ajuda é sinal de fraqueza.
Mas o silêncio tem cobrado caro.
Quando eu falo de comunicação, não estou falando de redes sociais ou marketing.
Estou falando de diálogo, escuta e presença.
De olhar pro outro e perguntar “como você está?”, sem medo da resposta.
De criar ambientes nas cooperativas, sindicatos e grupos de produtores onde se possa conversar, trocar, desabafar.
De lideranças que aprendam a perceber quando alguém está diferente e ofereçam ajuda antes que o problema vire tragédia.
Porque, sim, o campo precisa de tecnologia.
Mas também precisa de acolhimento.
Muitos estudos já mostram a relação direta entre o isolamento social e o aumento dos transtornos mentais.
E quem vive distante, trabalha de sol a sol, enfrenta crises de safra e sente a responsabilidade de manter uma estrutura familiar inteira, carrega um fardo enorme.

Por isso, a comunicação, aquela simples, humana, olho no olho é uma das ferramentas mais poderosas que temos pra cuidar da saúde mental no agro.
Quando a gente fala, a gente alivia.
Quando a gente escuta, a gente cura.
E, no fim das contas, é isso que o agro também precisa aprender: que não existe produtividade sem equilíbrio emocional.
Que por trás de cada hectare plantado, existe uma mente que precisa estar bem pra continuar acreditando.
O produtor rural não precisa ser um super-herói.
Precisa ser ouvido.
E precisa saber que pedir ajuda não o torna fraco, o torna humano. Que esse tema continue sendo falado com a seriedade que merece.
Porque o agro é força, mas também é gente.
E gente que fala, vive melhor.