Com o avanço da tecnologia e desenvolvimento de novas técnicas, o produtor tem uma série de possibilidades que garantem sustentabilidade agrícola, desenvolvimento adequado da planta e produtividade da cultura. Dentre essas possibilidades, a inoculação e a coinoculação da soja se destacam.
Basicamente, essas são técnicas que consistem no fornecimento de nitrogênio às sementes via bactérias, de forma natural e sustentável.
Assim, se a inoculação e a coinoculação forem bem realizadas e estiverem aliadas a práticas de desenvolvimento e conservação do solo, os grãos de soja tendem a apresentar melhor qualidade, resultando em lavouras mais produtivas.
O que é a inoculação da soja?
Como já destacado, a inoculação de soja é uma técnica que fornece nitrogênio (N) às plantas via bactérias.
O nitrogênio é o nutriente mais importante para o desenvolvimento da safra de soja. Geralmente ele está presente no ar, mas para que seja captado é necessário o auxílio de bactérias do gênero Bradyrhizobium, como as espécies Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium elkanii.
Essas bactérias “pegam os nutrientes da atmosfera”, promovendo o desenvolvimento das plantas. A esse procedimento dá-se o nome de Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN).
Visando a sustentabilidade deste processo, as bactérias podem ser disponibilizadas via insumo denominado inoculante, possibilitando a inoculação da soja.
Assim, de forma exemplificada, a inoculação da soja é a técnica que agricultores adotam para fornecer o N às sementes. Após a semeadura e o crescimento das raízes, as bactérias formam nódulos, fixando o nitrogênio no solo.
Recomendações para maior eficiência da inoculação da soja
Segundo Marco Antonio Nogueira, pesquisador da Embrapa Soja, a soja é uma cultura que tem altas demandas de nitrogênio (N), principalmente em razão do alto teor de proteínas em seus grãos (em torno de 40%). “Para obter 1 (uma) tonelada de grãos, há necessidade de cerca de 80 kg de nitrogênio”, destaca.
Uma indicação prática para verificar se a inoculação foi eficiente é observar a presença de nódulos na parte superior da raiz principal da soja, chamada “região da coroa”, já nas fases iniciais do desenvolvimento da cultura (V1-V2).
Além disso, o pesquisador sugere cortar alguns desses nódulos e observar a coloração interna. “Se essa coloração se encontra avermelhada há a indicação de que o nódulo está ativo”, complementa.
Para Nogueira, a inoculação é essencial em áreas de primeiro ano de cultivo de soja, ou onde a leguminosa não é cultivada há muito tempo, como na reforma de canaviais ou de pastagens, por exemplo, pois as bactérias fixadoras de N2 estão em baixa população ou ausentes nesses solos.
Entretanto, mesmo em áreas frequentemente cultivadas, o pesquisador diz ser vantajoso realizar a inoculação a cada safra, durante a instalação da cultura, via sementes ou sulco de semeadura.
“Pesquisas mostram ganhos médios da ordem de 8% em produtividade, resultantes da inoculação anual da soja com Bradyrhizobium spp., em áreas tradicionais de cultivo, representando um grande retorno econômico e ambiental frente ao baixo custo do inoculante”.
Benefícios da inoculação da soja
Quando aplicado corretamente, o inoculante garante uma série de benefícios para a lavoura de soja.
Entre os principais benefícios estão o fornecimento de nitrogênio, principalmente em solos com carência deste nutriente, além da redução da dependência de fertilizantes sintéticos com adição nitrogênio.
A inoculação também garante melhoria na qualidade do solo, com aumento na fertilidade da planta e mais capacidade de retenção de água e resistência a diferentes doenças.
Além disso, essa é uma prática que prioriza a sustentabilidade agrícola, pois reduz impactos ambientais e reduz os custos de produção. Também contribui com o desenvolvimento da biodiversidade, uma vez que há maior estímulo para o crescimento de outras espécies de plantas e microrganismos num solo com nutrientes.
A economia ao produtor é outro benefício importante. Segundo dados de 2019 da própria Embrapa, o Brasil poupa US$ 13 bilhões por ano apenas com a inoculação.
Coinoculação pode aumentar ainda mais o ganho de produtividade
Além da inoculação anual com Bradyrhizobium, Marco Antonio Nogueira destacou que a Embrapa passou a indicar, a partir da safra 2013/2014, o uso simultâneo de uma segunda bactéria em um processo de coinoculação.
Essa bactéria é o Azospirillum brasilense (estirpes Ab-V5 e Ab-V6), que já era recomendada para as culturas de milho, trigo e arroz, desde 2009/2010.
“As plantas de soja coinoculadas com Bradyrhizobium e Azospirillum apresentam nodulação mais abundante e precoce com ganho médio de produtividade de 16%, o dobro do proporcionado pela inoculação simples com Bradyrhizobium”, indica.
Assim, de forma geral, a associação desses dois gêneros de bactérias permite:
- Suprir o fornecimento de nitrogênio para as plantas de uma forma mais eficiente;
- Contribuir para o desenvolvimento da soja, principalmente devido à maior absorção e aproveitamento da água e de fertilizantes;
- Maior tolerância a estresses ambientais, como a seca;
- Melhorar o estado nutricional da lavoura de uma forma geral;
- Aumentar a produtividade
Segundo o pesquisador, a coinoculação, embora seja uma tecnologia mais recente, encontra-se em franca expansão no Brasil, sendo empregada em mais de 30% das áreas cultivadas com soja no Brasil, segundo a Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (ANPII).