A soja é considerada um dos grãos mais importantes da agricultura brasileira, sendo considerado por muitos agentes como o principal produto agrícola do país. Em termos de Valor Bruto da Produção (VBP), esse grão é o principal componente na formação desse indicador no país.
Segundo dados da Conab, para o ciclo 2023/24 são estimados 149,4 milhões de toneladas, o que representa uma queda de 3,4% se comparado com o volume obtido no ciclo 2022/23. Mas mesmo assim é um volume bastante expressivo e que merece destaque.
Diante da importância deste grão, convidamos o assessor técnico da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, Tiago Pereira, para falar sobre a importância da soja para a agricultura brasileira, assim como suas previsões e cenários para a safra 2023/24.
Soja na economia brasileira: grande importância em diversas vertentes
A soja é a principal oleaginosa produzida e consumida em todo o mundo e, boa parte dessa produção é brasileira. Dividindo a liderança com os Estados Unidos e a Argentina, o Brasil produziu, na safra 2022/23 um número de 156 milhões de toneladas, indicando um recorde histórico.
Para a economia nacional, a safra de soja tem também uma importância expressiva, com destaque para alguns resultados importantes e destacados por Tiago Pereira.
VBP (Valor Bruto da Produção)
Na formação do VBP, a soja é o principal componente. Por definição, o VBP é o faturamento bruto dentro dos estabelecimentos rurais, considerando as produções agrícolas e pecuárias, com a média de preços recebidos pelos produtores de todo o país.
No ano de 2023, o assessor técnico da CNA explica que mesmo com o recorde de safra, os preços foram na contramão. Já para 2024, a cultura, que representa 43,2% do VBP agrícola, tende a continuar com preços baixos.
“Estes preços serão pressionados pela expectativa de oferta mundial, já a produção nacional vem sendo afetada por questões climáticas”, salienta.
Dessa forma, para soja projeta-se uma retração no VBP em 17,9%.
Comércio Exterior
No cenário internacional, a soja brasileira tem papel de destaque. Pela primeira vez, o Brasil ultrapassou 100 milhões de toneladas de soja exportadas em 2023. As exportações de soja em grão em 2023 totalizaram 101,9 milhões de toneladas, aumento de 29,4% em relação a 2022.
As receitas com as exportações da oleaginosa totalizaram US$ 53,2 bilhões enquanto os preços retraíram 16,7%.
Geração de empregos
Em 2022, a cadeia da soja e do biodiesel gerou mais de 2 milhões de ocupações, 80% a mais do que em 2012.
Com isso, sua participação como geradora de empregos no agronegócio cresceu, passando de 5,8% para 10,8%. “A maior parte da população ocupada na cadeia está nos serviços rurais, com 1,35 milhão de empregos (+70,5% frente a 2012)”, destaca Pereira.
Proteínas animais
O farelo de soja é a principal fonte de proteína utilizada nas rações de aves, suínos e bovinos, resultante da moagem dos grãos de soja para extração do óleo.
Biodiesel
Biocombustível obtido a partir de óleos vegetais, principalmente de soja, o biodiesel é uma energia limpa e renovável. Com isso, a tendência é que ele continue a fortalecer a estratégia nacional de aumentar a participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira.
Safra de soja 2023/24: expectativas não tão positivas
Para o próximo ciclo, as expectativas para a safra de soja não são otimistas, principalmente em comparação com a safra de 2022/23. Segundo a Conab, a produção deve ser de 149,4 milhões de toneladas, o que representa queda de 3,4% se comparado com o volume obtido no ciclo 2022/23.
Se for considerada a expectativa inicial desta temporada, a quebra chega a 7,8%, uma vez que a Conab estimou uma safra de 162 milhões de toneladas.
Vale destacar também que as estimativas de safra de soja para o Brasil (2023/24) costumam variar de acordo com o órgão detentor dos dados. Veja:
- USDA: 156,0 milhões de toneladas
- StoneX: 150,4 milhões de toneladas
- Conab: 149,4 milhões de toneladas
- Câmara Setorial da Soja MAPA: 141,8 milhões de toneladas
Diante destas expectativas, Tiago Pereira acredita que há três cenários possíveis para a safra de soja no período 2023/24:
Cenário otimista – Este é um cenário observado apenas por parte dos produtores de grãos nas safras passadas, com o produtor capitalizado investindo em expansão de área, elevando o volume de investimentos, com preços de máquinas, terras e insumos em geral elevados.
Cenário pessimista – Segundo especialistas, este é o cenário que está se consolidando neste ciclo.
Segundo Tiago Pereira, há uma convergência de fatores adversos que pesam sobre o setor, com restrição nos investimentos, dificuldade de cumprir contratos, pedidos de renegociação, redução no pacote tecnológico, insegurança jurídica e fragilização da situação financeira do produtor rural.
“O cenário de grãos segue turbulento, sobretudo diante das sucessivas revisões de safra e produtividades muito manchadas. Mas, mesmo com a quebra de safra, seguimos com nossa leitura baixista para o preço da soja, diante de estoques de passagem elevados, safras menores, porém ainda volumosas, aumento no volume de outros países e demanda internacional mais fraca”.
Cenário intermediário – Manutenção do produtor na atividade mesmo com margens mais apertadas, sem grandes investimentos de expansão.
Baixas produtividades e preços baixos: os grandes desafios da temporada
Os preços baixos da soja e do milho, por si só, já seriam uma preocupação para as margens da safra de soja 2023/24, mesmo que estivéssemos colhendo bem, o que também não é o caso.
Além disso, o setor tem enfrentado baixas produtividades em várias regiões do Brasil, o que agrava ainda mais as margens do produtor rural. Diante disso, para o consultor técnico do CNA, as próximas semanas ainda têm condições de alterar o potencial produtivo, mas ele ainda crê que a quebra é iminente.
“Durante a safra, os produtores enfrentam desafios diferentes como alterações na janela de plantio e pressão de pragas secundárias. Já na colheita, fatores como a qualidade da soja colhida, logística de escoamento e a falta de armazenagem, podem contribuir para a perda de competitividade da nossa soja e aperto das margens do produtor”.
Mas, independentemente desses desafios, os ciclos de alta ou baixa dos preços e das safras de grãos são normais. Para o Brasil, o mais preocupante são os preços abaixo do custo médio de produção da soja. Há também a questão das margens muito estreitas e até negativas, tudo ao mesmo tempo.
Para enfrentar estes períodos mais críticos, Tiago Pereira sugere ao produtor conhecer muito bem seus custos e utilizar ferramentas de gestão de preço e de risco climático.
“Muito dinheiro fica na mesa pela falta de uso do mercado de opções e pela posição especulativa de preço que os produtores adotam em cenários onde os fundamentos baixistas predominam. É preciso mudar isso!”, finaliza o consultor técnico.