De acordo com o presidente da Agrishow e vice-presidente da ABAG (Associação Brasileira do Agronegócio), Francisco Matturro, o grande problema da conectividade no agro é a falta de conexão; seja entre máquina no campo e central de operações, com concessionária ou mesmo com a fábrica. “O iLPF depende de comunicação e conexão, pois sem isso não há mapa. Além disso, nossa produção é de metro quadrado. Foi-se o tempo de hectare ou alqueira, grandes áreas. Como ter informações nesse nível de detalhe sem conectividade?”, questiona.
Em consonância com Matturro, o diretor de inovações do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Cleber Soares, afirma que “quilos”, “litro” ou “hectare” não serão indicadores de produtividade, mas a tecnologia por hectare, afinal “em um grão de soja tem tanto ou mais tecnologia do que em um dispositivo”, comenta ao apontar que no melhor cenário, “apenas” 23% da área agricultável brasileira possui imageamento de campo.
O grande gargalo, no entanto, para o gerente de marketing da Huaweii, Tiago Rossi é a falta de transmissão em ambientes que se encontram longes dos centros. Existem soluções baseadas em via satélite ou transmissão rádio ou por micro-ondas, mas tudo isso depende do custo em montar a infraestrutura dessa áreas, pois a rentabilidade afeta todo o negócio.
E quem mais sofre com essa falta de conectividade são pequenos e médios produtores localizados, justamente, nessas áreas mais distantes. Mas segundo o diretor de tecnologia e solução Ericsson, Paulo Bernardocki, ainda que parte do desafio econômico fosse resolvido, com as cooperativas solucionando questões de investimento para pequenos produtores, as respostas oferecidas com alternativas de baixo custo, haveria uma limitação tecnológica e com o passar do tempo essas soluções não seriam mais suficientes para a rotina do produtor.
Para o diretor da Jacto e presidente da CSMIA/ABIMAQ (Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Pedro Estevão Bastos, o desafio vai além. Mesmo com a conectividade permitindo controle online de máquinas em tempo real, captação de dados, análises de operação ou atualização remota da máquina, a captação profissional é desafada.
“Entendemos que a tecnologia anda de Fórmula 1 e a capacitação vai mais devagar. E é a capacitação do operador, agrônomo, gestor da fazenda e do próprio agricultor e da internet. E se não tem acesso à internet, o próprio ensino a distância para capacitar não é possível”, sentencia.
Matturro pondera, no entanto, que a falta de conectividade não é exclusividade do campo, uma vez que ela também acontece em centros urbanos, mas que a pandemia acelerou o processo de digitalização: “o que seria feito em dois a cinco anos está sendo feito em dois ou cinco meses”. Mas avalia que temos que trabalhar, pois a conectividade está relacionada com a rastreabilidade, pois compradores dos mercados externo e interno querem saber de onde vem seus alimentos e demais produtos do agro.
Ganhos de produtividade
Na opinião de Rossi, a internet é atualmente um bem essencial, tal qual saneamento básico, educação, saúde ou o acesso à luz e água; e com ela, vem, obviamente, a conectividade. Bernardocki lembra que muitas das necessidades do agro como demanda de controle e telemetria de colheitadeira, vídeo em tempo real na frente de colheita, drone, controle de maquinaria, transmissão de temperatura e umidade algumas vezes por dia são, no final das contas, automatização de processos de trabalho.
“Isso vem para trazer ganhos de produtividade. A conectividade é a transformação digital do agro, com ganhos de produtividade, rastreabilidade que permite rastrear da fazenda até um porto no outro lado do mundo. É a transformação dos modelos de negócio e formas de trabalho”, afirma.
Opinião semelhante à de Bastos que comenta que haverá um melhor uso de defensivos, que trará ganhos de sustentabilidade financeiro. E uma vez que toda essa tecnologia chegue ao pequeno e médio produtores reduziremos o fosso produtivo entre eles e o grande.