Se levarmos em conta tudo o que passamos nos últimos dois anos, talvez desejar um bom ano seja o suficiente, não é mesmo? Errado. Devemos nos desejar um excelente 2022. No atual mercado em que vivemos, e não só o do agronegócio, mas o mercado como um todo, dos mais diversos nichos, não basta mais ser bom, não basta sequer ser ótimo, é preciso buscar o topo, a excelência; porém, não só em nível profissional, mas na esfera pessoal também. No fim das contas, tudo se resume em relacionamento humano.

Por trás dos negócios o que temos são pessoas. E será que realmente nos importamos com quem está à nossa frente ou estamos enlouquecidos no piloto automático, olhando para o próprio umbigo, aguardando bater a próxima meta no Agro? Precisamos ter em mente que se importar com o outro está dentro das diretrizes de um dos temas mais falados no mundo corporativo no último ano, que é o ESG, que trata das questões ambientais, sociais e de governança que devem ser praticadas pelas empresas.

São as três letras mais faladas atualmente e que temos o dever de levar essa consciência para dentro da porteira. Grandes fazendas já se comportam como grandes empresas, mas isso ainda não ocorre com algumas médias e com quase a totalidade das pequenas propriedades, que ainda carregam no DNA uma gestão tipicamente familiar e, provavelmente, sequer ouviram falar sobre ESG. Ou, se ouviram, talvez tenham resistência, por acreditarem, erroneamente, que adotar medidas sustentáveis pode negativar os seus resultados, quando, na verdade, empresas que adotam melhores práticas ambientais, sociais e de governança acabam tendo diversos impactos positivos, como maior lucratividade e até uma melhora em seu valor de mercado ao longo do tempo.

Hoje em dia, eu faço um trabalho de capacitação no Agro, converso diariamente com produtores rurais, a maior parte deles pecuaristas, e nas nossas conversas eu sempre digo o seguinte: olha, o mercado não exige que você seja grande, mas que você seja profissional. Apenas profissional. E essa sigla ESG significa também se importar com as exigências do mercado e, acima de tudo, se importar com a própria evolução e excelência.

Importar-se também significa olhar para o outro e ouvir, mas sem julgamentos. As pessoas hoje não se alimentam mais só de comida, mas se alimentam, principalmente, de conceitos. Temos o consumidor fitness, vegetariano, vegano, o que ama churrasco e, se pararmos para pensar, é tudo Agro. Apenas precisamos respeitar as opções de cada um. Pesquisas mostram que, cada vez mais, os consumidores consideram, nas suas escolhas, a postura das empresas frente às questões sociais e ambientais. Além disso, a pressão por adoção de práticas mais sustentáveis, e com maior impacto social, vem de todos os lados: credores, investidores, órgãos reguladores e organizações da sociedade civil. E nós, do Agro, precisamos ouvir e dar importância ao que essas pessoas têm a dizer, porque muitas delas são os nossos clientes.

Importar-se significa respeitar e se posicionar de uma forma em que não criemos inimigos para o Agro, mas que possamos trazer pessoas com ideias diferentes, ou até mesmo ideias equivocadas sobre o setor, para um diálogo sóbrio e, acredite, enriquecedor. Entretanto, infelizmente, em termos de comunicação no Agro, não é o que vemos por aí. O que vou relatar a partir de agora, pode trazer a impressão errada de que eu não gosto do setor e de que estou falando mal de seus representantes. Muito pelo contrário, eu amo o Agro.

A melhor decisão que eu tomei na minha vida foi abandonar o jornalismo geral, que é trágico, para falar de produção, de exportação, de crescimento e de vida, uma vez que ninguém vive sem comida. O agro é vida; ponto. Mas, observe, eu estou falando de amor pelo Agro, que é bem diferente de paixão. A paixão cega. A paixão não nos deixa enxergar um palmo à frente do nariz. O que vemos por aí sobre o Agro são discursos apaixonados, discursos do nós contra eles. Discursos, muitas vezes, defensivos e ofensivos. E não é sábio ter esse tipo de comportamento.

E quando eu digo que amo o Agro é porque o amor compreende, mas também repreende. É por isso que amamos os nossos filhos e os repreendemos, para que eles cresçam com dignidade. E por isso, tomo a liberdade, com todo o respeito e admiração que tenho pelos produtores e produtoras rurais, de dizer que nós precisamos mudar algumas posturas, no sentido de que não podemos bater no peito o tempo todo e nos colocarmos como perfeitos, porque não somos.

Ninguém é perfeito. Eu poderia citar aqui vários números que comprovam que o Agro brasileiro coloca no chinelo, em termos de preservação ambiental, muitos países, inclusive países de primeiro mundo, mas quem, de fato, busca a excelência, evita comparações. Quem busca a excelência, por melhor que seja, sempre vai querer ser ainda melhor. Não importa se o vizinho está fazendo menos, o que importa é o que nós precisamos fazer para sermos cada vez melhores. A verdade é uma só: as exigências internacionais em termos ambientais, sociais e de governança estão aí. Ou seguimos ou estaremos fora do mercado. Diante deste cenário de exigências comerciais, e alertas climáticos e ambientais, o Agro brasileiro tem tudo para dar certo, para dar show, e nadar de braçada com exemplos extraordinários já citados em artigos anteriores e que todos nós sabemos bem quais são.

Mas não adianta só ficar falando que somos os melhores. Precisamos mostrar. A bandeira do meio ambiente é sua que é do Agro, porque ninguém preserva mais do que você, que é do campo. Então, eu não entendo porque você fica bravo ou brava com quem defende o meio ambiente, se essa bandeira é a sua. Talvez porque andam falando mal de você por pura ignorância? E você sabe qual é o jeito mais poderoso de lidar com a ignorância? É com amor e conhecimento. Lembre-se de que gentileza gera gentileza.

Só o amor e o conhecimento transformam vidas e negócios. É compartilhando o seu conhecimento e mostrando as coisas boas que você faz no campo, que você vai abrir a mente de algumas pessoas que, infelizmente, se deixam levar por outras pessoas tendenciosas.

Lanço aqui um desafio para você que é do Agro: todo santo dia, pegue o seu celular e grave um minuto, só um minutinho, sobre o que você tem feito de bom pelo meio ambiente, pelo bem-estar dos animais que cria e pelas questões sociais de sua fazenda. Pare de brigar, pare de fazer discursos irritadiços, cheios de sarcasmo e ironia em que vocês ficam falando para vocês próprios e aplaudindo vocês próprios.

Existe uma regra básica, bá-si-ca, para quem quer ter bons resultados financeiros em qualquer negócio e isso inclui o Agro. Aproxime-se do seu público, ouça o seu cliente, diga quem você é de verdade falando menos e mostrando mais o que você faz de bom no campo: a palavra nem sempre convence, mas o exemplo arrasta multidões.

Lilian Dias é comunicadora Agro, possui MBA Executivo pela ESPM, com foco em habilidades de gestão de pessoas, práticas de liderança e marketing. É autora do e-book “Os Pilares do Agronegócio”. Site: www.liliandias.com.br – Instagram: @jornalistalilian – E-mail: [email protected] 

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