Em lavouras de soja, a presença de percevejos nas plantas tem se mostrado um grande desafio, principalmente porque produtores ainda não contam com variedades que sejam resistentes aos ataques.
Contudo, o manejo integrado de pragas (MIP) representa um conjunto de técnicas que representa uma alternativa bastante válida. E os números da Embrapa Soja comprovam isso.
Conduzida pela Embrapa Soja e pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), o Programa MIP-Soja tem dados que mostram que é possível reduzir em 50% o número de aplicações de inseticidas em lavouras da oleaginosa apenas com a aplicação das técnicas de MIP.
Para entender mais sobre a relevância do MIP para a soja conversamos com Daniel Sosa Gomez, pesquisador da Embrapa Soja e especialista em manejo integrado de pragas.
Entendendo o que é Manejo Integrado de Pragas (MIP)
Mais do que um conceito, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) representa uma importante ferramenta de auxílio a ações estratégicas no controle de pragas baseada em conhecimento científico, que muito pode contribuir para a sustentabilidade econômica e ambiental da atividade agrícola.
Mas, muitos produtores ainda têm dúvidas sobre o que, de fato, é o MIP e como ele contribui com a proteção da lavoura de soja.
Daniel Sosa destaca que o MIP é um conjunto de práticas que envolvem o monitoramento de pragas por meio de amostragem para aplicação de inseticidas, apenas no momento apropriado.
O MIP também permite a pulverização de produtos mais seletivos aos inimigos naturais e menos impactantes ao ambiente e que devem ser aplicados antes que as pragas causem prejuízos econômicos.
“Decidir pela implantação do MIP na cultura da soja pode ser a melhor prática sustentável no campo. Esse é um método que oferece menor risco para o ser humano, animais e para o meio ambiente, além de diminuir o uso de defensivos agrícolas, o que colabora para a conservação de agentes de controle biológico presentes nas lavouras”, complementa.
MIP-soja no controle de percevejos
A presença do percevejo na soja pode causar uma série de danos às lavouras. Esses danos podem ser diretos e indiretos, a ponto de afetar tanto a qualidade quanto o rendimento na cultura da soja.
Assim, com o início da safra que se aproxima, o sojicultor precisa estar preparado para manejar os percevejos, buscando aliar eficiência e economia.
Além disso, Daniel Sosa explica que o custo de produção está cada vez mais alto, reduzindo a lucratividade da lavoura. “O sojicultor não deve utilizar inseticidas em qualquer nível de infestação da praga. É possível ter a mesma produtividade usando menos inseticidas, quando a aplicação é feita apenas quando necessário”.
Dessa forma, Sosa diz que é bastante importante estar atento ao nível de ação que corresponde ao nível populacional que a planta de soja suporta, sem perdas de produtividade da lavoura.
“O MIP-Soja começa com o monitoramento semanal da lavoura, por meio da utilização de um pano de batida que permite inferir o número e o tamanho das pragas presentes na lavoura”, explica.
Durante o processo de monitoramento, o pesquisador destaca também que deve ser avaliado o nível de ataque já ocasionado pelas pragas, como o desfolhamento ou dependendo da praga, o número de plantas atacadas em relação ao total amostrado, por exemplo.
“A aplicação de agrotóxicos só é recomendada quando a densidade de pragas detectadas na lavoura ultrapassa o nível de ação já estabelecido pela pesquisa. Caso contrário não há necessidade de fazer o controle”, sugere.
Redução de 50% na aplicação de inseticidas
A Embrapa, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), desenvolve, desde a safra 2013/2014, um trabalho em diversas áreas agrícolas do Paraná para estimular a adoção de boas práticas agrícolas. Dentre essas práticas, a adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP) merece destaque.
O pesquisador destaca que na safra passada, enquanto a média de aplicação de inseticidas em lavouras de soja no Paraná foi de 3,9, as áreas que adotaram o MIP fizeram apenas 1,9 aplicações, em média.
“Isso mostra que a adoção do MIP pode reduzir em 50% a aplicação de inseticidas”, destaca Sosa.
Além disso, as pesquisas indicaram que a primeira aplicação de agroquímico foi realizada no 79º dia em lavouras com MIP. Já nas que não o adotaram, foi preciso adiantar a pulverização em 35 dias, ou seja, no 44º dia pós-plantio.
Impactos positivos em diversos aspectos
Em muitas lavouras de soja brasileiras, os inseticidas costumam ser usados sem que seja considerada a presença efetiva das pragas ou o nível de dano que elas causam.
Segundo Daniel Sosa isso ocorre em função da utilização de um calendário de aplicação de produtos químicos onde os inseticidas são usados junto com outros produtos, sem uma especificação técnica do seu uso.
“Procedendo dessa maneira, o agricultor tende a realizar aplicações de inseticidas muito antes do momento adequado, além de gastar mais inseticidas do que o necessário”, complementa.
Por consequência, o maior número de aplicações resulta no aumento do custo de produção, eliminação de agentes de controle biológico e aumento do risco de ressurgência e desenvolvimento de pragas resistentes.
Por outro lado, quando há um monitoramento mais efetivo e o uso das estratégias de MIP, o produtor de soja naturalmente diminui o impacto ambiental, aumenta a produtividade e reduz seus custos de produção, devido ao menor uso de inseticidas.