Você irriga sua safra da forma correta, mas observa que os nutrientes não penetram suficientemente no solo, reduzindo a produtividade agrícola. Esse fenômeno é mais comum do que imaginamos, mas pode ser solucionado pela técnica de escarificação do solo.
Em inglês, escarificar significa cicatriz. Ou seja, essa estratégia, quando aplicada no solo, visa resolver a compactação (decorrente dos métodos tradicionais de manejo), tornando-o mais “fofo”.
No entanto, mesmo com as muitas vantagens, a escarificação do solo tem limitações e consequências que devem ser consideradas para garantir a saúde do solo.
O que é a técnica de escarificação do solo?
Por definição, a escarificação do solo é uma operação agrícola e mecanizada que consiste no rompimento de camadas compactadas ou adensadas de solos, superficiais e subsuperficiais.
Essa operação é efetuada com auxílio de trator equipado com implemento denominado escarificador de hastes. Segundo o engenheiro agrônomo Dr. Silvio Tulio Spera, pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, essa é uma técnica que difere da operação de subsolagem pela profundidade da ação da haste de rompimento.
“A escarificação visa romper camadas em até 40 cm de profundidade, enquanto a subsolagem é realizada até 1 m de profundidade, com hastes mais largas e longas”, salienta.
Ao aplicar essa operação, o agricultor consegue fazer com que a água, o ar e demais nutrientes cheguem até as raízes das plantas, contribuindo com o ganho de produtividade da lavoura.
Benefícios da escarificação do solo
Como já ressaltado, a escarificação é uma técnica que pode ser usada como um dos meios de preparo do solo que garante uma série de benefícios para os sistemas de produção.
Segundo o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril seu papel fundamental é descompactar o solo e possibilitar o fluxo de ar e a retenção de líquidos, bem como o desenvolvimento das raízes.
“A escarificação visa romper camadas de solos com impedimentos físicos ao acesso da água, do ar e das raízes. Permite também maior permeabilidade da água, do ar e do sistema radicular abaixo das camadas superficiais, propiciando que as raízes se aprofundem para obter água, ar e nutrientes em camadas de solo até então inacessíveis por causa desses impedimentos”.
Além disso, os escarificadores movimentam pouco a superfície e não elevam a terra, resultando em uma agressão reduzida do solo.
Consequentemente, o uso dessas máquinas permite que a matéria orgânica (essencial para retenção de umidade e nutrientes) fique na superfície, evitando não só a compactação como também a erosão do solo.
Ou seja, por revolver minimamente a terra e ainda contribuir para a permanência da matéria orgânica na sua superfície, a escarificação está em harmonia com o manejo ecológico do solo, promovendo a agricultura sustentável.
Mesmo com os muitos benefícios, essa técnica apresenta limitações!
Como você viu, os benefícios da escarificação do solo são muitos. No entanto, Silvio Spera alerta que essa é uma operação mecanizada com algumas limitações.
“Essa é uma operação de elevado custo, dependente de elevada potência de tração do trator, além do uso de um equipamento especializado para a operação que deve estar bem regulado”.
O pesquisador destaca que essa é uma operação que também depende de pré-condições de umidade adequada e de resistência mecânica à penetração do solo para ser conduzida.
“A escarificação soluciona alguns problemas de impedimentos à permeabilidade física das raízes, mas não soluciona aqueles impedimentos de ordem química a como elevado nível de acidez e os teores elevados de elementos tóxicos ao desenvolvimento radicular como o alumínio e o manganês disponível”, explica.
Além do mais, erros na tomada de decisão da escarificação podem provocar problemas como baixa efetividade do rompimento e que esse ocorra abaixo da profundidade de ocorrência da camada, ou seja, rompimento somente superficial da camada.
Passo a passo para realizar a escarificação do solo
O pesquisador explica que a indicação para fazer a escarificação do solo ocorre a partir do momento em que se percebe que as plantas não estão tendo capacidade de aprofundar as raízes.
“Isso é perceptível quando se observa que o sistema radicular se concentra na camada superficial do solo, mostrando sintomas de deficiências de nutrientes, ou quando as folhas murcham após um curto período de ausência de chuvas”.
Silvio Spera destaca que a escarificação é recomendada também quando se observa que o ‘peão’ das raízes está entortando e quando pragas e doenças de raízes e plântulas estão com maior incidência.
Além disso, folhas de plantas de milho são mais rápidas para denunciar presença de camadas compactadas ou de impedimentos.
Conhecida essas ocorrências, o pesquisador sugere a adoção da escarificação do solo. Ele ainda explica que há um passo a passo para ser seguido.
O primeiro passo indicado pelo pesquisador é identificar a profundidade de início (pé-de-grade) e a respectiva espessura dela. “Isso pode ser observado em campo com auxílio de um penetrômetro, uma barra de ferro ou com a abertura de uma mini-trincheira (de 55 a 65 cm) na qual se busca identificar a extensão da camada compactada”.
O segundo passo é a escolha do equipamento escarificador. Este equipamento deve ter o número de hastes compatível com a capacidade de arraste fornecida pelo trator disponível, ou seja, o trator deve ser capaz de tracionar o equipamento na profundidade de operação necessária para romper toda espessura da camada compactada.
O terceiro passo é determinar as condições de umidade do solo que propiciará melhor eficiência e rendimento da operação. “Minha recomendação é evitar solos que estejam muito secos ou muito úmidos”, complementa Silvio Tulio Spera.
Por fim, a escarificação do solo deve ser realizada com bastante planejamento para evitar danos a longo prazo para a produção agrícola. “A escarificação só deve ser realizada quando for comprovadamente necessária”, finaliza o pesquisador.