Você já ouviu falar em Aquaponia, um sistema que realiza de forma integrada, a criação de peixes com a produção de vegetais?

No Brasil, a Aquaponia ainda engatinha e tem muito a crescer. Por esse motivo, tem despertado o interesse de diversas instituições de pesquisa e produtores, que buscam adaptar os modelos trazidos do exterior para nossas condições.

Esse é o caso da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), que tem o zootecnista Fernando André Salles como um dos idealizadores de diversos projetos que visam desenvolver modelos domésticos da técnica, integrando a produção de hortaliças folhosas, plantas aromáticas e medicinais com a criação de peixes.

 

Como funciona a Aquaponia?

 

Recém-chegado ao Brasil, a Aquaponia nada mais é do que a integração da piscicultura em recirculação com a hidroponia. Nela, os peixes sujam a água para as plantas que, por sua vez, limpam a água para os peixes.

De uma maneira mais técnica, podemos dizer que a água é recirculada no sistema e tem sua carga orgânica e de minerais reduzida pela ação de bactérias e absorção pelas raízes das plantas. Dessa forma, a água retorna ao tanque de criação de peixes com qualidade superior a que saiu.

O termo Aquaponia é resultado da junção da palavra aquicultura, que significa criação de organismos aquáticos como peixes e camarões, com hidroponia, que se caracteriza pelo cultivo de vegetais na água.

 

Principal vantagem da Aquaponia

 

Para o zootecnista e pesquisador Fernando Salles, a principal vantagem da técnica é a economia de água. Segundo ele, com um dado volume de água são produzidos simultaneamente peixes e vegetais.

A produção vegetal é beneficiada pelo aporte de nutrientes fornecido pelos peixes, diminuindo desse modo a necessidade de fertilizantes sintéticos, enquanto a produção de peixes é favorecida pela melhoria na qualidade de água provida pela retirada dos nutrientes pelas plantas.”

Logo, ela torna-se é vantajosa tanto para peixes, quanto para os vegetais.

 

Quanto de água é economizado com a Aquaponia?

 

Por si só, a hidroponia já é um sistema de produção que economiza água, quando comparado com a produção convencional no solo, já a piscicultura em recirculação, via de regra, exigirá algum nível de troca diária de água, em função do acúmulo de nutrientes.

Assim, apenas a água perdida pela evaporação é reposta. Estima-se que a Aquaponia utilize, aproximadamente, 10% da água a menos quando comparada com sistemas convencionais de produção de peixes e vegetais.

 

Quais os peixes e hortaliças são mais comuns na Aquaponia?

 

No mundo todo, a tilápia é a espécie mais empregada em sistemas aquapônicos, porém o pesquisador ressalta que é possível utilizar qualquer espécie que se adapte às condições de cativeiro e do clima do local.

Em seus estudos, o especialista vem utilizando o lambari rosa. “É uma espécie nativa, de ciclo curto (em cerca de 90 dias, ela já atinge o tamanho comercial) e tem alto valor comercial. Por quilograma de peso vivo, ele é bem mais caro que a tilápia”.

Em relação aos vegetais, dezenas de variedades podem ser produzidas. No entanto, Fernando dá destaque para as espécies folhosas como alface, rúcula e almeirão, além das ervas aromáticas como manjericão, hortelã e orégano.

 

Qual relação peixe/plantas utilizar?

 

A relação quantitativa de peixes e plantas dependerá do sistema de produção aquapônico adotado e em particular, da eficiência dos filtros. Seguindo sua experiência com aquaponia, o pesquisador diz que em sistemas com baixo nível de remoção de sólidos (filtragem mecânica), cada quilograma de peixe estocado pode fornecer nutrientes para cerca de 25 hortaliças, ou cerca de um metro quadrado de canteiro.

 

Investimento e cuidados essenciais

 

A primeira coisa que devemos colocar em mente é que o capital necessário obviamente será proporcional ao tamanho do empreendimento. Porém, Fernando ressalta que é possível instalar uma aquaponia doméstica para prover boa parte das necessidades de hortaliças de uma pequena família por menos de R$ 1.000,00.

Como cuidados iniciais, há 3 dicas valiosas:

– Antes de iniciar o povoamento com os peixes, é recomendado verificar os parâmetros de qualidade de água (pH, dureza, alcalinidade), corrigindo-os se necessário e aguardando a maturação do filtro biológico.

– Os peixes devem ser arraçoados diariamente, se possível, várias vezes ao dia. Durante o arraçoamento, o produtor poderá observar o comportamento dos peixes e a presença de pragas nas hortaliças.

– Semanalmente é importante acompanhar alguns parâmetros de qualidade de água além dos citados acima, como a amônia, o nitrito e o nitrato.